Olá!
Apresento a vocês um poema de uma escritora muito talentosa que em breve deve lançar um livro ^^.
Lágrimas de Amor
Por muito tempo desacreditei
Nas lágrimas que em tanto chão deixei
Nas batalhas que muitos travaram
Já sem esperança de poderem viver aonde estavam
Da terra as raízes de amor se puserem
As crianças por sublime magia se propuseram
A buscar, a acreditar, a sonhar
Como pude esquecer que vi isso em cada olhar?
Quando soube então que do teu solo se colhia
Em prantos me pus, evitar não podia
Com toda a sinceridade do meu coração
Agradeço à mãe terra em grandiosa oração
Pois minhas lágrimas não banham mais o sertão por tristeza
Elas caem e emocionadas cultivam com gratidão a terra
Que antes foi de grandes e agora é de muitos, rica em paz sincera
(Dora Lima)
Este blog tem como objetivo produzir literatura de qualidade e contemporânea aos principais dramas humanos de nosso tempo. Além disso, como professores de Língua Portuguesa, nós disponibilizaremos conteúdo teórico e prático para estudantes da educação básica compreenderem aspectos centrais da leitura e da produção de textos diversos.
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terça-feira, 17 de dezembro de 2019
domingo, 3 de novembro de 2019
Inveja da Ficção
Inveja da Ficção
Estive
bastante ocupado nos últimos meses com atividades e problemas que diminuíram
substancialmente a minha produção para blog. Mas estou de volta com meu
trabalho, principalmente na data de hoje, em que completamos 2 anos de Pena
Capital.
Sou
sincero em dizer que tenho inveja do roteirista por trás da conjuntura
brasileira atual. Creio que Machado de Assis, Clarice Lispector, Victor Hugo,
Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, Victor Hugo, Balzac, Tolstói,
Dostoiévski, José Saramago e muitos outros grandes nomes da literatura seriam
absolutamente incapazes de fazer qualquer texto literário com metade da
complexidade da América do Sul atual. Ninguém seria capaz de imaginar
personagens e ações tão atípicas e complexas em tão pouco tempo.
A
Venezuela vive a maior crise, a capital do Equador chegou a ser alterada, a
Bolívia vive uma profunda tensão política nas eleições, Chile vive um caos
social que coloca em xeque o paradigma neoliberal e a Argentina não decide qual
é o melhor modelo político a seguir desde o início deste século.
Definitivamente, vemos um continente em indignação e perdido no caos. Nessa
conjuntura, qualquer colocação ou previsão, por mais absurda que seja passa a
ser verossímil, até mesmo para os analistas mais comprometidos e exigentes.
O
Brasil também não podia ficar fora dessa zona da confusão. O nosso presidente
tem o dom de criar crises e se queimar das maneiras mais toscas possíveis.
Cogitou seriamente colocar seu filho como embaixador, mas, ainda bem, o Senado
fritou essa ideia como um hambúrguer do estado do Maine. Para continuar a
tragédia, nosso exibidor de faixa presidencial foi bancar o sincerão com um
fanático seguidor e acabou iniciando uma profunda crise no seu partido de todos
os lados. E ainda fica deixando ministros de baixíssimo nível, como o da
Educação e do Meio Ambiente, fazerem trabalhos desprezíveis. O amigo do Queiroz
também tem um dom verdadeiro de fazer os outros perderem tempo com suas
bobagens, já que deixa o egoísmo e a vaidade tomarem conta de suas ações
políticas e pessoais.
Por
fim, há o personagem mais complicado de se entender: o grupo de pessoas que
apoiam cegamente Bolsonaro. Em seu Twitter, principal fábrica de Golden Shower
do país, ele fez uma comparação com o governo Dilma, parecido com o complexo do
PT de se comparar o tempo todo com o FHC. Dentre os dados está a comparação
entre o crescimento do PIB: -3,6% de Dilma contra +0,8% de Bolsonaro. Como pode
um imbecil como Bolsonaro defender que um crescimento pífio e ridículo desses
do PIB é algo para se comemorar? É absolutamente intangível colocar esse
crescimento como algo para se orgulhar. O Brasil continua uma vergonha desde o
início do segundo governo Dilma, e este governo não está sendo capaz de tirar o
país da crise, pois perde muito tempo com bobagem e com decisões equivocadas.
No
fundo, eu queria que fosse realmente uma ficção em que, ao se fechar o livro, voltamos
para a realidade, mas, infelizmente, não será assim. Ainda viveremos um mundo
ficcional complexo e surreal que desafiará nosso senso de realidade dia após
dia.
(Fernando Fidelix Nunes)
sexta-feira, 12 de julho de 2019
Diário: 22 de junho de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven)
22 de junho de 2012.
Hoje
eu me peguei pensando: que dia é hoje? Não digo nem dia com número e mês não,
mas dia da semana. Eu sinceramente não sei que dia é que dia. Tanto faz a
segunda, a sexta ou o sábado para mim. São dias em que sou cheia de obrigações
que torcem a minha porta, a minha roupa e a minha alma. Talvez, por isso minha
família olhe para mim com um olhar mais cínico e queira me presentear com a
ausência de trabalho no meu fabuloso aniversários. Afinal, as pessoas gostam
mesmo é de serem servidas pelas outras neste país.
Será
que sempre foi assim? Quando a gente serve aos outros esquecemos da gente em
vários momentos. Às vezes eu me pergunto: e agora? Me sinto um personagem de um
poema do Drummond diante da vida, aquele José. Minha filha vive falando essa
expressão em tom de brincadeira aqui em casa quando algo sério acontece. Esses
dias ela viu a Dilma sem graça na televisão e falou em tom de deboche: “e
agora, Dilma?”. Agora que ela não é nenhuma novidade para ninguém, todo mundo
está colocando as manguinhas para fora neste país para criticá-la. Começa com
deboches e sabe-se lá como termina.
A
minha família acha que consegue esconder de mim os planos deles para o meu
aniversário. Estão muito errados. Passo o dia inteiro em casa cuidando das
desarrumações deles e sei cada pista que eles deixam sem nem perceber. A
Giovana, com o salário dela de professora, comprou um vestido da C&A e o
Daniel, com a ajuda da Rayane, comprou uma sandália mais bonita para mim. Duas
coisas que eu nem sei quando vou usar com ou sem a minha família.
Com
tudo isso, no final do dia me olhei no espelho e disse para mim mesma: “e
agora, Márcia?”. Acho que a resposta a essa pergunta seria o meu verdadeiro
presente de aniversário. Às vezes acho que o fim do mundo neste ano não seria
uma coisa tão ruim assim.
sexta-feira, 5 de julho de 2019
Diário: 20 de junho de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven)
20 de junho de 2012.
O
mundo está bem esquisito para mim. Sinto que estou no meio de uma névoa sem
paisagem de fundo. A vida de certa forma é assim mesmo: névoa pura no meio da
escuridão do mundo. Ando meio triste mesmo. Acho que eu era muito iludida com a
vida. Eu esperava chegar à idade que eu tenho pronta para comemorar e celebrar
a vida como ela é. Mal sabia eu como realmente era a vida. Se eu soubesse que na
Capital da Esperança eu iria encontrar tamanha solidão em frente a um balde, um
pano, um rodo, roupas e todo tipo de sabão.
Todo
dia eu penso naquele livro do Fernando Pessoa. Ele era capaz de contemplar a
vida com uma beleza singular digna da felicidade até nos piores momentos. Se
bem que nem ele nem eu passamos pelos piores momentos da vida. Nunca
enfrentamos uma só guerra, uma só miséria de fato. Na verdade, eu não sei muito
sobre a vida do Fernando Pessoa para dizer isso, mas eu acho que ele nunca
passou por nada demais.
Voltando
aos panos e às roupas, vou confessar uma coisa para o meu diário. Eu já tentei
falar com os materiais de limpeza. Acho que tenho uma relação mais próxima com
eles do que com a minha família. Essa é uma verdade que me dói bastante. A
verdade é uma dor imensurável. Nossa como eu reclamo da vida.
Pelo
menos vai ter as Olimpíadas para me distrair um pouco aqui em casa. E vai ser
em Londres. Dá para ver todos os eventos importantes durante o dia. Na da China
eu não consegui ver quase nada direito por conta do horário. Pelo menos assim a
faxina fica mais agradável para mim. Talvez eu até fale um pouco com os
atletas, pelo menos é melhor do que falar com coisas.
sexta-feira, 28 de junho de 2019
Um Empate Vale Mais Que Mil Palavras
(Ilustração feita por Enthony Keven)
Um Empate Vale Mais Que Mil Palavras
O
Brasil conseguiu uma vitória singular na última noite pela Copa América. Em tempo
me corrijo: empate sem gols seguido por uma vitória chorada nos pênaltis.
Apesar do sofrimento, a verdade é que a classificação independe do espetáculo.
Desde Pelé queremos o espetáculo em campo. Improvisar, criar, driblar e
subverter a lógica do futebol são nossos traços típicos das nossas obras
cinematográficas feitas em campo. Se bem que em tempos de seriados, um pouco de
drama até o fim da temporada ajuda a cativar qualquer aficionado.
O
Paraguai conseguiu segurar o 0x0 com um êxito indiscutível. Eles entraram em
campo com esse objetivo acima de qualquer coisa. Parecia um jogo típico de
Libertadores em que o adversário faz de tudo para não deixar a bola entrar e deixar
o adversário entrar em profundo desespero psicológico. Como nossos “meninos”
são criados na Liga dos Campeões da Europa (não há motivo para falar o nome em
inglês!), não sabem, com exceção do Atlético de Madrid, o que é um time querer
amarrar o jogo como um sequestrador amarra os pulsos da vítima
Esse é o
problema e eu o explico melhor para quem não entende. Nossos “garotos” se
acostumaram tanto a enfrentar equipes indispostas a abdicar de seus dotes
ofensivos que se sentem perdidos diante do adversário, como uma criança que
tenta andar de bicicleta pela primeira vez. O único que demonstrou o verdadeiro
brasileirismo no futebol foi o Cebolinha. Obviamente, um jovem que teve como
conselheiro e doutrinador Renato Gaúcho, conhecido vulgarmente como Renight nas
baladas nacionais, não poderia fazer outra coisa. Tenho certeza de que seu
mestre lhe disse: “entra, arrebenta e mostra que é abaixo da linha do Equador
que se joga futebol de verdade!”. Infelizmente, nem esse talentoso e
irreverente craque foi agraciado pelos deuses do futebol com um gol. Um dia
explicarei a vocês sobre os deuses do futebol, que de certa forma são a síntese
de vários deuses. Por enquanto, ficaremos com o jogo de ontem.
Tentamos de
todo o jeito o gol, parecíamos a música do Skank, só que sem a parte do gol.
Nem a expulsão com uma falta a um centímetro da entrada da área foi suficiente
para fazer o gol. Na verdade, o Brasil, que não faz gol de falta há cinco anos,
deveria trocá-la por um lateral para ver se cria alguma coisa mais eficaz. Do
jeito que foi o jogo, era provável que os nossos vizinhos conseguissem segurar o
empate mesmo com 4 jogadores a menos. Fomos aos pênaltis e muita coisa nos
angustiava. Gatito vinha com uma moral monstruosa depois de alguns milagres em
campo diante de Alisson. A princípio eu também me angustiei, afinal Alisson
sempre agiu como um galã e, conforme eu postulo, qualquer jogador pode se
arrumar e ter hábitos de galã de novela, menos o goleiro. O goleiro tem de ser
esquisito, perturbado e, preferencialmente, muito feio.
Minha fé
começou a mudar quando percebi que o Alisson bebia água de forma escalafobética
e sequer tinha acertado o lado em que aconteceriam as cobranças, tendo de
vergonhosamente ir até a outra baliza para o início do maior suplício dos
craques da bola. Esse momento lhe foi decisivo, sem dúvida. Ademais,
encontrava-se bem desarrumado e pouco cuidado, enquanto o seu rival tinha o
cabelo intacto após uma partida exaustiva. Nesse momento, foi semeada a nossa
vitória.
Após
o erro do zagueiro paraguaio na primeira cobrança, todos acertaram, até o erro
de um atacante que joga na Europa. Foi aí que bateu o desespero, logo dissipado
pelo desperdício da última cobrança dos nossos adversários. No ato final e
necessário, o nosso Jesus fez o milagre de acabar com a hegemonia paraguaia nos
pênaltis e decretou o maior milagre da noite: Gatito Fernández não pegou
nenhuma das cinco cobranças. Sim, a minha teoria sobre goleiros se mostrou mais
uma vez hegemônica e irrefutável.
Agora
é enfrentar e vencer a Argentina no Mineirão. Sim, só a vitória interessa no
jogo da próxima semana. Messi parece obcecado, já que tem o sonho de ser o
herói de um título argentino, que não vem há 26 anos. Tomara que esse tabu
perdure por muito mais tempo.
Diário: 17 de junho de 2012
(Ilustração de Enthony Keven)
Isso
sim é um escritor de verdade! Um dia talvez eu consiga extrair do cotidiano a
vida que ele extraiu com tamanha beleza em palavras. Pena que o tempo tem
extraído de mim mais do que a beleza juvenil que inundava meus olhos e minha
alma.
17 de junho de 2012
Meu
aniversário de 53 anos está chegando... e daí? Quando somos crianças cada ano
passa devagar e tem um especial sabor do florescimento de uma nova vida. Já na
velhice o aniversário é a frustração da perda do sentido de cada dia. Quando eu
tinha 12 anos, sonhava em ter 20 anos para ser uma mulher realmente feliz.
Hoje, também sonho em ter 20 anos de novo. Fico pensando como a minha vida pode
ser diferente. Confesso que esse “lance” de velhice, como diz o Daniel, está
martelando na minha cabeça.
Resolvi
pegar um livro verde do Drummond que estava na estante da minha filha. É
chamado de “Prosa Seleta”. Tem vários livros dele com muita coisa boa. O meu
predileto é “O Avesso das Coisas”. Ele faz uma espécie de coletânea de frases
bonitas sobre todo tipo de assunto do ser humano. Como nesse tipo de livro o
interesse de quem lê está acima de qualquer ordem em que o autor tenha colocado
a obra, fui logo para o ponto da velhice. E ele fala muita coisa disso.
As
que eu mais gostei foram:
–
A velhice tem atitudes infantis, sem o encanto da infância.
–
Tentamos consolar os velhos chamando-os de velhinhos.
–
A vida é breve, a velhice é longa.
–
Suportar o peso da idade é a última prova de juventude.
–
Pedir benção dos velhos dá-lhes a ilusão de terem poder de abençoar.
sexta-feira, 31 de maio de 2019
Diário: 12 de junho de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven para este blog)
12 de junho de 2012.
Ser
uma mulher casada que se sente sozinha é bastante complicado. Chega uma hora em
que o casamento deixa de ser a verdadeira paixão e passa a ser apenas uma
formalidade sobre a vida. Nós permanecemos unidos um ao outro não por amor, mas
por conveniência. Sendo sincera, acho que nunca nem passei pelo estado da verdadeira
paixão com o Henrique. Nunca amei o Henrique de verdade. Acho que tive a
fantasia de pensar que o casamento poderia ser uma saída para o sofrimento
perene da vida. É só o amor que dá sentido à vida. Talvez, seja por isso que eu
nunca tenha conseguido encontrar um sentido pleno para a minha existência.
A vida
caminha a passos largos e eu, pobre mortal, caminho passo a passo para a
escuridão da vida. Ninguém sabe a dor verdadeira que o outro sente, mas a minha
parece ser maior do que as demais. Nossa! Acho que ando vendo bastantes pedras
no meio do caminho. Acho que deveria fazer uns poemas para relaxar um pouco.
Escrever versos é melhor para aprofundar-nos tudo em todas as palavras. É...
ando pensando bastante coisa e não fazendo nada. Esses dias mesmo eu pensei em
pedir para o Henrique pagar uma faculdade para mim. Acho que eu iria querer
fazer direito. Conhecer as leis seria o máximo. Só de imaginar as pessoas me
perguntando sobre as leis em busca de orientação, eu fico muito mais animada.
Afinal, é muito melhor quando te perguntam sobre as leis do que sobre limpeza e
culinária. Fazer o quê? A vida é assim mesmo.
Acho
que hoje consegui cumprir minha promessa de passar a escrever só sobre mim e o
que eu sinto. Nada de falar de datas ou coisas tenebrosas da vida pretérita.
Nossa! Acho que ler o Drummond (finalmente aprendi a escrever o nome dele
direito!) está me deixando com o vocabulário melhor. Desse jeito vou levando
até jeito para ser advogada. Vamos ver aonde a vida vai dar.
sexta-feira, 24 de maio de 2019
Diário: 31 de maio de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven)
31 de maio de 2012.
A
Giovana está muito chateada. O governo resolveu diminuir o IPI logo agora. Os
carros todos caíram de preço do dia pra noite. A Giovana ficou pensando muito
nisso nos últimos dias. Toda hora era uma piadinha: “que falta que esse IPI me
faz? Ah! Se o meu IPI voltasse, dava para comprar umas coisinhas pra mim”. Não
me lembro bem do que ela falou mais, mas eram coisas desse tipo. Nossa! Se a
minha filha lesse meu diário ia adorar fazer uma aulinha do uso de “mais” e “mas”
com esse exemplo. Parece que quanto mais espontânea a língua mais clara ela
fica.
Este
mês me traz muitas recordações ruins do ano passado. Acho que encarnei o meu
lado Rita Lee e resolvi mudar e fazer o que eu quero fazer. Preciso começar a
escrever o meu mundo interior os meus sonhos mais ocultos. Quero mergulhar na
minha alma. Preciso esquecer um pouco a minha família e deixá-los ocultos nos
meus escritos. Afinal, eu escrevo esse diário para mim. Achei um companheiro ideal para mim. Tem um
livro do Drummond aqui em casa que é cheio de frases dele sobre vários
assuntos.
A
primeira frase que mexeu comigo foi que “A ingratidão é o imposto cobrado à
generosidade”. O ser humano é assim mesmo: ingrato em tudo na vida. Essa frase
deveria estar em cartazes por todas as ruas para dizer que o mundo tem outro
valor e outro foco do que é necessário para as relações das nossas vidas tenham
sentido e fraternidade profunda. Isso é que deveria ser ensinado na escola.
Usar a língua na vida real prática é muito mais importante do que viver a vida “normalmente”
nessa perda de tempo e de interesse pelo ser humano.
A
vida é, realmente, uma ingratidão à verdadeira generosidade.
sexta-feira, 17 de maio de 2019
Diário: 14 de maio de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven)
14 de maio de 2012.
Resolvi
fazer de hoje o meu dia de verdade. Um dia de libertação dessa vida à toa. Dei
a desculpa de que a inflação estava alta e disse que precisa andar pelos
mercados para conferir como poderia economizar mais. Para mim, o Extra é sempre
melhor, mas a minha família nem desconfia. Resolvi aprontar das minhas fugas.
Saí com um caderninho, que ficou em branco até o fim do dia. De manhã eu
resolvi andar pelo Parque da Cidade até mais ou menos onze e meia. Ele anda
meio caído, mas ainda é encantador, ainda mais quando tá tudo verdinho e
brilhante. Resolvi até beber uma água de coco para ver se conseguia relaxar
melhor numa daquelas cadeiras de ferro de bar de esquina. O contato com a
natureza é capaz de revigorar a alma. Essa natureza vale a pena, já as das
minhas relações familiares não valem realmente nada.
Cheguei
em casa e fiz o almoço bem simples, sob o pretexto de fazer mais uma caminhada.
Inventei que os peixes do Carrefour do shopping aqui do final da Asa Norte
tinha um bom preço para peixe e frango, mas que no resto das coisas não
compensava muito. A minha família fez o de sempre: fingiu que ouvia, mas não
prestou atenção em praticamente nada. Só o Henrique que me deu um beijo áspero
e morno.
À
tarde resolvi andar pelo Olhos d´ Água aqui no fim da Asa Norte. Entrei no mato
virgem de mim mesma e aproveitei um pouco a mata e a pista. O sol estava forte,
mas valeu a pena cada passo. Eu comprei um pão e joguei os pedaços para os peixes.
Tão bonito ver os peixes todos juntos atrás de um pedaço de comida. É simplesmente
maravilhoso viver assim, com liberdade de tudo. A segunda-feira nunca foi tão
linda para mim.
Para
terminar eu ainda passei no Extra e decretei o que era do meu costume: o
Atacadão costuma ser mais barato, mas o Extra é bem mais prático e eu vou
continuar indo ao Extra. Só passo nos mercadinhos aqui perto por serem ainda
mais práticos no dia a dia da gente. Pena que essa aventura foi uma espécie de
saidão que resultou na minha volta à prisão domiciliar.
sexta-feira, 10 de maio de 2019
Diário: 13 de maio de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven)
13 de maio de 2012.
Hoje
parece que voltei no tempo. Tudo está como antes. Fomos ao Mangai e
aproveitamos o “meu” dia da melhor forma possível para a minha família: sem eu
cozinhar. Meu marido nem me ama mais, mas parece aficionado com a ideia das
convenções sociais. Ganhei aqueles presentes de sempre: sabonete, perfume,
vestido discreto e um par de brincos. A minha família é muito estranha,
inclusive eu. Mas hoje, na fila do Mangai, eu reparei que a vida é um pouco
mais igual do que eu imaginava. Olhei para as outras mulheres. Senhoras de 50
ou 60 anos reunidas com a família e perdidas em si mesmas. Embora separadas,
estávamos unidas pela indiferença. Olhávamos para o nada, nossas famílias nos
ignoravam e o mundo parecia um teatro de fantoches guiados por uma obrigação
tosca e vazia.
Por
que a vida tem desses becos sem saída para o coração humano? A gente tem alguma
saída? Eu pensava em algo do tipo quando fui sugada pela minha vez na fila de
pegar comida. Como seria uma vida diferente? Eu realmente queria ser amada de
verdade. Não pelos meus filhos, família ou amigos, mas pela vida. Não quero
saber da vida de jeito nenhum. Pelo menos não da vida que eu tenho.
sábado, 4 de maio de 2019
Diário: 2 de maio de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven para este blog)
2 de maio de 2012.
Às
vezes a rotina suga a nossa alma e nossos sonhos. A rotina, muitas vezes, é o
próprio inferno na Terra. Hoje lavei roupas, cozinhei, fui ao mercado e ajeitei
a casa. Sinto-me exausta por completo. Mas venho escrever em sinal de resistência.
Resistência a esse mundo sujo e mesquinho cheio de privilégios. Privilégio que
eu carrego nas costas. Se não fosse eu, o que seria da minha família? Eles não
dariam conta de fazer nada. E eu sem eles o que seria? Acho que eu teria asas
para voar no infinito dos sonhos. Viajaria muito e sempre para onde eu quisesse
sem olhar para o chão e pensar que vou lavá-lo. Eu nem olharia para o chão,
pois estaria nas nuvens do paraíso da liberdade. Liberdade é o que eu sonho
realizar um dia.... um dia.
Pelo
menos eu desabafei um pouco no meu diário, mas hoje, definitivamente, eu perdi
a batalha.
sexta-feira, 26 de abril de 2019
Diário: 1º de maio de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven exclusivamente para este blog)
1º de maio de 2012.
Voltei
ao início do meu diário. Voltei a escrever um ano atrás. Pelo menos hoje foi
feriado para a Giovana. Ela e meu filho fizeram o que eles chamam de “morgar”.
Que expressão esquisita da minha família. Ficar falando esse tipo de bobagem
para eles é uma espécie de libertação. Engraçado como as pessoas se libertam
com qualquer coisa que vem na boca. Eles não mudaram em nada. Estão em
trabalhos inúteis e fazendo muita brincadeira para se divertir. Eles têm um
espírito de Peter Pan misturado com toques amorosos Malhação.
No
fundo eu acho que tudo muda para não mudar nada. A minha relação mesmo com a
minha família não tem nada de novo há muito tempo. Se tudo estivesse bem, que
bom, mas agora as coisas andam numa mesmice tediosa aqui em casa. Pra ser
sincera, só sinto emoção quando vou à padaria ultimamente. O coração tem desses
rompantes platônicos.
Voltei
a ler. Só que dessa vez reli o Carlos Drummond. Pena que não se escreve mais
tão bem assim hoje em dia. Ele tem um poema que ele fala da pedra. Sim, uma
pedra no meio do caminho toma conta do seu universo. Ele fica abstraído na
pedra. A Giovana falou que ele falava esse tipo de coisa para criar muitos
sentidos e chegou a dizer que era só uma pedra que ele viu e escreveu um poema
que todo mundo adorou muito tempo depois que só falou depois. Na época ela foi
tratado como um maluco. Eu queria ser uma maluca inteligente assim.
Se
bem que a loucura é uma coisa boa às vezes.
sábado, 20 de abril de 2019
Poema A Saudade
A Saudade
Por onde anda você,
Que não vejo mais,
Que tanta falta faz?
No frio do inverno,
Queria te aquecer;
No calor da primavera,
Te ver florescer.
Quem me dera
Reviver as nossas estações,
Mas já não posso mais...
Será que a gente... nunca mais?
O tempo e a eternidade
Têm a exata resposta,
Mas preferem me deixar...
Simplesmente... a saudade.
(Fernando Fidelix Nunes)
quinta-feira, 18 de abril de 2019
Diário: 30 de abril de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven exclusivamente para este blog)
30 de abril de 2012.
O
Henrique resolveu devolver os dez mil reais para a Giovana. Ele disse que não
ia mais precisar do dinheiro mais não. Agora como pode o Henrique dizer que não
precisa mais de dez mil reais de uma hora para outra? Isso é muito estranho.
Ele disse que deu um jeito e recebeu um dinheiro antigo do governo. Se eu
pudesse ver a conta bancária dele, eu até conseguiria relaxar um pouco com isso
para saber o que acontece. O ruim de não ter poder é não ser capaz de resolver
as coisas da própria vida e de entender tudo que nos envolve. A censura
silenciadora é mais forte do que qualquer massacre sanguinário da História
humana. Se bem que eu nunca passei por nenhum dessas tragédias que são tema de
aulas de história para contar.
A
Giovana já começou a pesquisar um carro usado. Já achou um Peugeot, acho que se
escreve assim. Eu fico meio assim com esses carros porque sempre são mais caros
na hora da revisão, mas qualquer coisa o Henrique mesmo paga. Depois desse
incidente, o Henrique deu uma olhada no Extra aqui de uma renovação aqui em
casa para valer dessa vez. O governo diminuiu o imposto sobre o que os
jornalistas todos pomposos chamam de linha branca. Eu chamo linha da escravidão
feminina. Nossa! Como eu estou ácida hoje, mas no fundo acho que gosto disso.
Hoje
tentei voltar a escrever num caderno. Abri o caderno, escrevi pouco mais de uma
página e parei no início da segunda folha. Acho que não me sinto mais à vontade
para escrever à mão. Tem duas coisas: eu acho que escrevo melhor no teclado do
computador daqui de casa do que com a caneta. Outra coisa é o medo. Tenho medo
de a minha felicidade clandestina ser descoberta pela minha família. Há coisas
que precisam ficar em segredo na vida, o meu diário é uma delas. Peguei as
folhas, rasguei-as e botei tudo no lixo. Voltei a escrever agora só. Ainda bem
que aqui ninguém olha o lixo além de mim.
Hoje
eu vi de longe o homem que veio falar comigo na padaria. Eu estava indo para o
comércio e ele estava com um saco de pão na mão. Eram umas cinco da tarde. Acho
que ele vai na padaria nesse horário normalmente. Talvez eu ande pela padaria
nesse horário outro dia.
sexta-feira, 12 de abril de 2019
Diário: 19 de abril de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven para este blog)
19 de abril de 2012.
Semana
passada foi realmente uma sexta-feira 13! A Giovana sofreu um acidente na rua.
Um acidente não, um susto. Ela foi atropelada enquanto atravessava a faixa de
pedestre. Eu não quis perguntar para não constranger ninguém, mas tenho certeza
de que ela nem deu o sinal para atravessar a faixa. Por sorte, o carro freou a
tempo e o motorista ainda a socorreu. Parece que ele estava até querendo pegar
o telefone da Giovana, mas o Henrique não deu espaço e tomou conta da filha.
Depois
de ir no hospital, as coisas voltaram ao normal aqui em casa. Ao normal por
completo. A Giovana voltou a falar com o Henrique na maior paz. Até parece que
nem brigaram por nada. A Giovana também foi hoje na Secretaria de Educação e conseguiu
uma vaga como professora temporária no colégio na Asa Sul. Ela foi do Inferno
ao Céu. Vai começar na semana que vem, assim que a papelada ficar pronta. Ela
não vai ganhar muito, mas será o suficiente para ela ocupar a cabeça e não
ocupar a vida dos outros tanto. Se bem que, pelo que ela falou, talvez ela até
leve o almoço para o colégio.
Às
vezes as coisas acontecem de forma bem esquisita na vida das pessoas. Quando a
gente menos espera vem uma onda e nos surpreende. Hoje mesmo, na padaria um
homem puxou conversa comigo. Ele fez umas 2 piadas na fila e falou mal do PT.
Eu gostei e ele se despediu com uma cara que queria dizer “seria bom te ver de
novo”. Às vezes eu também só queria dar um fugidinha.
Acho
que terei muitas emoções daqui pra frente.
(Esta é uma ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)
quinta-feira, 4 de abril de 2019
Diário: 13 de abril de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven)
(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)
13 de abril de 2012.
Eu
quase excluí o meu diário. Sei que jamais serei lida por alguém da minha
família. Na verdade, eu espero nem ser lida por ninguém além de mim. A vida é
um parque de diversões muito sem graça para a gente não ir no brinquedo
predileto. Às vezes acho que o diário é a melhor coisa que eu tenho. Mas tenho
tanto medo de ser lida. O que nós escrevemos para a gente não pode ser
esquecido assim. Afinal, as palavras são mais perenes que o espírito.
Hoje
foi uma sexta-feira 13 muito complicada aqui em casa. O Henrique e a Giovana
discutiram feio de manhã e ela ainda não voltou para casa. Eles ficam
discutindo por qualquer coisa. Perguntei para o Henrique o que aconteceu e ele
só falou: “não foi nada! Não enche!”. Dizer isso é tão ruim quanto levar um
tapa.
O
Daniel vai ficar com a Rayane no fim de semana e nem tá sabendo de nada. Ele e
a namorada andaram se estranhando numa conversa por telefone, mas logo fizeram
as pazes de uma hora para outra. Reconciliação é uma coisa sempre boa quando
queremos melhorar. Do contrário, é só para prolongar uma conveniência da vida,
e de conveniências baratas o mundo está cheio. A vida bem que podia aprontar
alguma coisa para me animar um pouco.
(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)
sexta-feira, 29 de março de 2019
Diário: 25 de março de 2012
25 de março de 2012.
Hoje
eu tive um sonho bem esquisito. Dizem que os sonhos revelam muito sobre a nossa
mente inconsciente. Eu nunca li nada sobre isso. É desses assuntos que as
pessoas falam, mas não resolvem nada, só serve para encher linguiça na
televisão durante 2 minutos. Aí o povo é desinformado e ninguém sabe o porquê.
Todo mundo sonha o tempo todo. Nunca vi o Globo Repórter ou qualquer canal da
televisão falando dos sonhos. Parece que o que interessa é detalhe. A televisão
fica perdendo tempo com bobagem sem se importar com o que interessa.
Eu fico
enrolando porque só posso desabafar aqui mesmo. Bem... meu sonho foi bem
esquisito. Nunca imaginei que algo poderia marcar tanto o meu coração. No meu
sonho, eu acabei imaginando a minha família toda reunida nos bancos vazios na
frente do bloco. A gente fazia um churrasco com carne boa e uma mesinha com uns
pratos. Todos estavam felizes: a Giovana estava rindo e me ajudando com tudo, o
Henrique ria e me abraçava com carinho e a Rayane e o Daniel se abraçavam
perdidamente apaixonados e indiferentes ao mundo ao seu redor. De repente,
vinha um furacão e acabava com tudo.
Nessa
hora do furacão, eu acordei. Tanto quanto o sonho, o que me chocou foi a reação
do Henrique. Ele não teve reação nenhuma. Nenhuma reação. O silêncio dele nesse
momento foi a pior coisa que ele já me disse. As pessoas acham que só se
comunicam falando. Eu acho diferente. As pessoas se comunicam bastante no
silêncio. Um olhar ou uma ação indiferente é a pior coisa que a vida pode
oferecer à vida em se tratando de comunicação. Isso realmente me modificou.
O que
eu fiz da minha vida? Como eu posso sair desse buraco de vida? Como me libertar
dessa rotina maldita? Como a vida pode valer a pena de novo? Como posso
reencontrar o amor da e na minha vida? Quero respostas, mas só encontro
perguntas.
sábado, 23 de março de 2019
Diário: 12 de março de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven exclusivamente para este blog)
12 de março de 2012.
Hoje
escrevo só para manter o hábito. O hábito de escrever é o hábito de viver por
natureza. Acho que é o momento em que me sinto viva e não uma máquina... uma
máquina de lavar, passar, cozinhar, cuidar, limpar... uma máquina da vida e
para a vida. Ser uma máquina tem a vantagem de massagear a dor inexistente. A
dor passa a ser um detalhe a ser ignorado. A vida não é nada fácil.
O
Henrique deve estar ainda muito próximo da Tereza. Esse negócio de celular
pré-pago é muito ruim. Antes a gente sabia todos os telefones que tinham ligado
para o telefone da casa, que é de todo mundo. Daí dava para ver quem ligou e
por quanto tempo falou. E isso era feito de forma discreta. Fico imaginando
quantas traições foram descobertas assim.
Agora, com o
celular pré-pago, cada um fica cuidando da sua vida. Isso é bom para as pessoas
fazerem coisa errada. Dizem que a tecnologia só serviu para ajudar as pessoas a
serem melhores. Mentira. A tecnologia é a maior arma para os vícios e mistérios
obscuros do ser humano. A vida é assim, bastante sem sentido.
Meu filho é a
única pessoa que segue um caminho na estrada da vida. Só que a vida é longa e
cheio de barrancos. No fundo eu tenho medo de que ele faça com a Rayane a mesma
coisa que o Henrique fez comigo. Mas é difícil, pois ele, mesmo melhorando
muito, é incapaz de conseguir o emprego do Henrique e comprar um apartamento na
Asa Norte. A vida é assim, bastante complicada.
(Esta é uma ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)
quinta-feira, 14 de março de 2019
Diário: 11 de março de 2012
(Ilustração feita magistralmente por Enthony Keven)
11 de março de 2012.
Hoje
acordei com vontade de escrever. Passei o dia todo ansiosa para escrever agora
à noite, mas me vi sem quase nenhuma inspiração. Se eu tivesse escrito de
manhã, acho que conseguiria inundar este dia de poesia e força, só que a vida
não é fácil. Tive que fazer faxina, cozinhar e ainda fazer as compras do mês no
Extra. Foi um redemoinho que sugou as minhas energias por completo. Agora, de frente
para a tela, poucas ideias vêm à minha cabeça.
Eu
acho que me sentia mais à vontade quando eu escrevia usando uma caneta em vez
de um teclado. O teclado é uma ferramenta absolutamente fria. O som da chuva
também me motiva a ficar desanimada. O som da chuva é como as marteladas que a
rotina deu nos pregos que me prendem para que eu não desabe nem voe por aí. Tem
tanta gente dizendo por aí que tudo depende da gente, mas eu não acho isso.
Acho que não fazemos as coisas por nós mesmas sempre para melhorar. Precisamos
de outra pessoa. De outra pessoa não, de muitas outras. Se alguém quiser me
matar na rua, não depende só de mim.
Nossa!
Que pensamentos esquisitos ficam passando pela minha cabeça ultimamente. Às vezes
eu sinto inveja dos mendigos que dormem nos bancos e no comércio aqui da
quadra. Eles podem andar para qualquer lugar que eles quiserem. Mas eles passam
fome! O que eu tô escrevendo? Não consigo entender direito de onde tirei esses
pensamentos.
A
minha família hoje, significa apenas a ocupação dos espaços na minha vida.
Queria ver meu coração ocupado por uma vida plena, mas as coisas não são assim.
Na verdade, eu nem sei como as coisas são de verdade. Vai entender como a vida
é. As coisas serão muito complicadas se eu continuar assim. Na verdade, acho
difícil as coisas piorarem. E ainda tem gente que coloca o dia da mulher como
uma grande coisa. Eu nem gosto de falar sobre ele, pois, para mim, é só uma
maneira hipócrita da sociedade falar que as mulheres são homenageadas para no
dia seguinte pisar nelas. Tenho até o que falar sobre a minha família, mas
deixo isso para depois porque estou muito cansada.
(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)
sexta-feira, 8 de março de 2019
Diário: 10 de março de 2012
(Ilustração feita com maestria por Enthony Keven)
10 de março de 2012.
Não
ando muito inspirada para escrever. O dia a dia nos deixa para baixo. Os
desafios não são problema para a vida das pessoas. O problema é a rotina. É ela
que nos afoga num oceano de tarefas que se encerram ao final do dia. Lavar,
passar, cozinhar, limpar e comprar são coisas que tomam conta do meu tempo. Só
consigo relaxar assistindo televisão. Só vem notícia ruim desses políticos
vagabundos de Brasília. Ainda bem que tem muitos filmes e novelas para distrair
um pouco.
Agora
como eu posso sair desse labirinto da rotina? Como tirar a dor que eu carrego
dentro de mim. Resolvi ler um livro do Drummond da estante da minha filha. O
livro está novinho, parece até que nunca foi lido por ninguém. Na verdade, eu
duvido muito que a Giovana tenha lido esse livro, esse e muitos outros livros
que ela tem só de enfeite na estante. Enfim, ele fala uma coisa muito
inteligente. Ele diz no poema “Consolo na Praia” que várias coisas passam pela
nossa vida, mas sempre tem algo que vale a pena e que fica em nossos corações.
Ele diz que os amores passam, mas o coração continua.
Eu
hoje vejo a vida de um jeito diferente. O coração continua angustiado. O
Drummond era inteligente, pois não falava muito sobre o ambiente nesse poema ou
nas características dos elementos. A vida é assim mesmo: as pessoas tentam
esconder a verdade para machucar menos. O ser humano com um bom coração costuma
ter medo ou vergonha de machucar outras pessoas. Pena que as pessoas olham
apenas para as grandes dores e se esquecem das cotidianas. Hoje nem falei da
minha família direito. Só falei de mim mesma. Foi melhor assim.
sexta-feira, 1 de março de 2019
O País do Carnaval
(Ilustração feita por Enthony Keven)
O País do Carnaval
O
problema do ser humano não são os seus sonhos, mas os seus desejos. Essa ideia
não sai da minha cabeça já faz algum tempo. Quando eu estou no trânsito, na
sala de aula ou até mesmo na academia, essa ideia me assalta o pensamento. Tenho
acreditado que os sonhos das pessoas são belos, idealizados e agregadores de
transformações positivas, tal como um poema romântico da primeira parte de Lira
dos Vinte Anos ou crítico como o Navio Negreiro. Já os desejos são egoístas,
despreocupados e inconsequentes, como a sordidez de Brás Cubas e a canalhice de
Bentinho. Ainda vou achar uma explicação mais completa para isso. Afinal, a
vida é longa e não precisamos de pressa para resolver os enigmas da Esfinge, já
que podemos controlar a angústia de sermos controlados por uma dúvida. Sim,
podemos controlar nossas angústias mais agudas, basta aprendermos como. Por
enquanto, falaremos de outras coisas ou dessa mesma ideia com as suas
consequências.
O
Brasil está uma vergonha lastimável. Boa parte dos meus alunos é capaz de falar
10 minutos sobre uma obra literária, mesmo que não tenham lido o livro. O presidente
brasileiro não foi capaz de fazer um discurso detalhado sobre o que fará para o
Brasil ser um país melhor. Objetividade é algo que se deve procurar em textos
formais, mas não é desculpa para uma argumentação rasa. Hoje, mais do que
nunca, precisamos ser específicos para resolver o Brasil, pois o Brasil não se
resolverá sozinho e ao acaso. O Enem cobra isso na redação por meio da
competência 5: a elaboração de uma proposta de intervenção. O presidente
que já se gabou de que tiraria uma nota melhor que outros políticos no Enem,
dificilmente tiraria uma nota decente nessa competência. O problema é que nós
vamos sendo puxados pelo bloco que ele comanda: Unidos da Estupidez – cuja
bandeira é laranja.
Agora
uma coisa precisa ser dita: um homem capaz de trocar mensagens com seu
ex-ministro pelo WhatsApp e dizer que não falou com um dos seus homens de
confiança é, definitivamente, capaz de qualquer atrocidade. Como pode o
indivíduo cair numa dessas. Acho que é um vazamento recorde para um presidente
brasileiro. Se bem que ele deve receber apoio recíproco durante um tempo para
conseguir reformar a Previdência Social. Depois disso, só Deus sabe o que pode
acontecer com o Brasil.
E
o MEC? É inominável o que esse ministério faz. Procurei no Aurélio e em dois
dicionários de sinônimos e não achei um termo sequer capaz de descrever as
atitudes do MEC. O colombiano resolveu mandar um e-mail ridículo falando do hino
nacional e pedindo a veiculação do slogan do governo. Além do slogan ser uma
coisa de lunático religioso que não lê a Bíblia, o povo acha que a revolta é
por conta do hino nacional. Não! A revolta é pelo slogan e é dupla porque os
alunos não sabem o que significa o hino nacional. Há centenas de milhões de
brasileiros que não sabem o que significa metade do seu próprio hino, tão
exaltado em Copas do Mundo e, às vezes, tocado nas Olimpíadas. Nem o pessoal da
página “Cenas Lamentáveis” seria capaz de postar tantas atrocidades.
No
futebol, nem parece que somos a sede da Copa América. O brasileiro anda com
vergonha da sua seleção como de um escândalo familiar que precisa ser ocultado
a qualquer custo. E ainda por cima temos um monte de estádios caríssimos que estão
servindo de casa para formigas de todo tipo. A CBF, nesse quesito, é mais
cretina que qualquer político brasileiro. Queremos que muita coisa mude neste
país, mas parece que nada vai mudar. De fato, a indiferença e a estupidez são os
principais alicerces do subdesenvolvimento brasileiro.
Como
os seres humanos estão correndo loucamente para o abismo, vamos rezar para o
Céu, pois na nossa terra as coisas estão complicadas.
(Fernando Fidelix Nunes)
Diário: 1º de março de 2012
(Ilustração feita por Enthony Keven para este blog)
1º de março de 2012.
Quanta
coisa para um mês só. Impressionante como a vida é cheia de reviravoltas.
Fiquei um bom tempo sem escrever mais por dificuldade em digerir os fatos do
que por conta da ausência de fatos. Foi uma loucura esses dias. Tem coisa que
acontece na vida real que parece mentira, mas acontece mesmo.
Depois
de tanta confusão, a Giovana passou o Carnaval com o namorado argentino dela.
Ele tem um jeito de malandro latino que nunca ia me enganar, mas enganou a
minha amada filha. Ela ficou com ele na casa da dona Aurora até o último dia de
Carnaval. Na noite de terça-feira acabou o carnaval e o namoro da minha filha.
Ela pegou o namorado argentino beijando outra mulher enquanto ela estava no
banheiro. Ele tentou se justificar e tudo mais. Foi um barraco que terminou com
as coisas dele na rua em frente à casa da dona Aurora. Foi um barraco
memorável. A Giovana quis ficar lá nos dias seguintes. Como ela ainda não
conseguiu ficar numa escola fixa, ela preferiu ficar lá para diminuir a
vergonha, que foi gigantesca. A gente ficou sabendo pela fofoqueira da dona
Aurora. Mas nesse caso era realmente difícil esconder.
O
Daniel e a Rayane curtiram bem o mês. As aulas deles voltaram, mas o amor deve
continuar. Tomara, porque meu marido comigo anda péssimo. Não faz nada além de
trabalhar, mais nada além disso! Ele deu um sorrisinho sórdido quando ficou
sabendo da história da Giovana. É aquela coisa de pai que diz “eu avisei, sua
boba” sem dizer uma única palavra. No fim das contas, eu acho que às vezes
usamos nossos filhos para apontar os erros que cometem só para nos colocar
acima deles. Talvez seja isso.
As
coisas devem voltar a melhorar aqui em casa. Pelo menos devem andar melhores do
que este país, que parece se perder cada vez mais. Muita coisa complicada nos
aguarda, muita coisa. Ando com uma saudade do Fernando Pessoa.
(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)
sábado, 23 de fevereiro de 2019
Proposta de Redação: O Desafio de se combater trotes violentos nas universidades brasileiras
Mais uma proposta de redação no formato do Enem para vocês!
Com base na leitura dos textos motivadores a seguir e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema O DESAFIO DE SE COMBATER TROTES VIOLENTOS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS, apresentando proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
As três primeiras redações serão corrigidas GRATUITAMENTE nos comentários do blog.
Textos Motivadores:
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
Diário: 9 de fevereiro de 2012
(Ilustração feita por Enthony Kevin Vieira)
9 de fevereiro de 2012.
O
Carnaval já está chegando e a vida já começou a aprontar das suas por aqui. A
Giovana perdeu a batalha do carro, mas venceu a guerra, porque o namorado
argentino virá para Brasília e terá onde ficar. A casa da dona Aurora será o
refúgio do amado da minha amada filha. Impressionante como a vida se parece com
uma sequência de novela mexicana às vezes.
A
minha filha anda mais feliz com as peripécias que a vida lhe reservou do dia
para noite. Na verdade eu não acho que foi do dia para a noite, mas foi aos
poucos. Agora eu reparei que ela foi na casa da dona Aurora umas cinco vezes
com o pretexto de encontrar o William que quer ser chamado de Alana. Ela ficou
falando que queria ler e falar com ele sobre poesia, principalmente a poesia
dele. Ela disse que ele tem um dom. Artista bom costuma ter um parafuso a menos
na cabeça.
Acho
que é por isso que eu nunca vou ser escritora. Escritores têm a cabeça em outro
mundo. Eu sou presa na e pela rotina cotidiana. Às vezes eu fujo para o meu
diário, mas a minha vida é como os bancos vazios. Estão sempre lá com tudo
pronto para ser útil, mas só serve para enfeitar a paisagem. Nem os mendigos
dormem nos bancos. Se vierem deitar nos bancos, é capaz de quererem levar
embora o povo falando que estão atrapalhando.
É
impressionante a indiferença das pessoas com a miséria. As pessoas falam da
miséria fingindo que têm pena dos mendigos, mas na verdade nem ligam pra
ninguém. A vida é assim mesmo.
(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes exclusivamente para este blog)
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019
Diário: 6 de fevereiro de 2012
(Ilustração feita magistralmente por Enthony Kevin para este blog)
6 de fevereiro de 2012.
Hoje
foi uma segunda-feira de rotina. A rotina começa a voltar ao comum. A Giovana
está se virando para pegar um trabalho como professora temporária para o
governo. Ela até diz que quer estudar para concurso, mas ela não lê nada.
Então, ela nunca vai ler nada se continuar desse jeito e vai viver como
professora temporária. O Henrique está voltando à sua rotina de trabalho e o
Daniel também. Já eu, a minha rotina é a mesma sempre e sempre.
Mas,
no meio da rotina, há espaço para redescobrir o mundo. O mundo não, a rua. A
rua não, a calçada. A calçada hoje à noite estava linda. Ainda bem que eu
consegui uma desculpa para poder ir até a padaria aqui do lado. Eu desci e
admirei as luzes do crepúsculo misturadas com as luzes dos postes atrás do
posto de gasolina daqui da quadra. Às vezes Deus pinta a paisagem como uma
obra-prima com cores que duram frações de horas e expiram só deixando rastros
no âmago de nossa alma. Até os bancos vazios da quadra ganharam uma vida nova
para mim. Uma vida que será eterna enquanto durar a paz em meu coração.
Os
problemas da Giovana não pesaram em minha cabeça enquanto eu caminhava. Os
defeitos da fraqueza do Daniel, que só se salvou por conta da Rayane, eram
paisagem de outra era. E o Henrique e seus mistérios toscos sumiram da minha
mente. Falei com uma alegria radiante com o rapaz da padaria. Ele estava
visivelmente chateado. Afinal, trabalhar até dez horas da noite e ainda pegar
um ônibus para a periferia não deve ser nada fácil. Mas confesso que fui
indiferente a isso. Quando estamos felizes, olhamos só o lado bom das coisas e
diminuímos a angústia da vida como um todo.
Com
ou sem rotina, a vida continua com uma intensidade cada vez maior com o tempo.
Agora, os nossos caminhos são um mistério. Não gostei desse último parágrafo.
Acho que é o sono. É melhor ir dormir.
(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
Diário: 4 de fevereiro de 2012
(Ilustração feita por Enthony Vieira para este blog)
(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)
4 de fevereiro de 2012.
Hoje
foi um sábado de ressaca. Todos resolveram sair ontem à noite. Minha filha saiu
com as amigas e voltou bêbada. Meu filho ficou com a Rayane na festa até de
madrugada e veio deitar com ela quando o sol já tinha nascido. O Henrique
chegou fedendo muito. Cheiro de bebida é nojento. É pior ainda quando o cheiro
é de cachaça. Ser acordada no meio da madrugada com bafo de cachaça é nojento.
Eu
deveria ter aproveitado o dia de ontem para escrever um pouco. Estava sozinha
em casa sem ninguém para atrapalhar a minha escrita clandestina. Mas não
escrevi. Preferi sentir pena de mim mesma e olhar o vazio ao meu redor com
melancolia e rancor. Todos escolheram sair sem mim. Eu não sou uma parceira
para fazer as coisas boas. Acho que para a minha família eu devo ser apenas uma
dona de casa qualquer. Nem dona eu sou porque não ando mandando em nada.
A
melancolia do vazio é uma janela para o infinito do pessimismo. Lembro que já
tive momentos em que eu consegui ver as coisas de uma maneira mais positiva.
Foi um dia em que as coisas fizeram sentido para mim. Hoje não. Ontem eu fiquei
afundada no sofá com a tristeza no meu coração me tomando por todos os lados.
De
manhã a ressaca foi de todos. Se está assim agora, imagina no Carnaval? Será
que as coisas mudam? Não sei. Na vida dos outros talvez. Na minha nada mudará.
Talvez um pouco mais de leitura sirva de alento para o meu coração. Afinal, a
vida nesta cidade anda um deserto até quando chove.
(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)
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