quinta-feira, 10 de maio de 2018

Diário: 12 de julho de 2011



12 de julho de 2011.

Eles viajaram hoje de manhã bem cedo. Pela primeira vez em muito tempo eu percebi eles acordando cedo felizes. Realmente é uma pena que as pessoas não encontrem felicidade em suas rotinas, mas apenas em suas fugas. Obrigações diárias deveriam dar um sentimento de dever cumprido e de satisfação contínua. Só que elas se tornam entediantes e a fonte primária de muitos sofrimentos. Sofrer, além da morte, é a única certeza da vida. Eu que o diga.

No fundo eu invejo meus filhos. Eles saem e são felizes. Não precisam dar muita satisfação sobre a vida deles a ninguém. Eu fico aqui, com meus panos, panelas e afazeres diários. Às vezes a televisão é uma fuga razoável. Afinal, ela consegue preencher o nosso tempo, mas não o vazio do nosso coração.

Hoje foi um dia mais livre pra mim. Ficarei um bom tempo sem lavar as roupas deles. E nem me preocuparei em ajeitar as suas camas e tudo o mais. Os filhos às vezes fazem uma festa tremenda quando os pais viajam. Eles dizem que sentem liberdade e ficam mais à vontade e felizes. Mal sabem eles a alegria que os pais sentem com a ausência dos filhos também. Ficar sem ter de cuidar dos filhos que viajam é uma espécie de recesso parlamentar. Ficar sem ver a Giovana sendo inútil e o meu filho se tornando um idiota já é uma coisa bem respeitável para a minha cabeça. O problema é o Henrique. Ele se sente mais à vontade também nessas horas para aprontar o que ele bem entende.

Confesso que reli o que eu escrevi e pelo menos notei que algo melhorou no meu texto. Não sei o que é, mas está melhor. Acho que foi a leitura do Fernando Pessoa. As pessoas dizem que ler melhora na hora de escrever. Isso de forma genérica é pura mentira! A gente escreve melhor quando lê algo que atinge o nosso espírito e toca a nossa alma profundamente a ponto de nos fazer escrever algo como aquilo. Se minha filha conseguisse passar isso para os alunos dela, seria uma professora bem melhor.


(Escrito, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes)

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