12 de julho de 2011.
Eles
viajaram hoje de manhã bem cedo. Pela primeira vez em muito tempo eu percebi
eles acordando cedo felizes. Realmente é uma pena que as pessoas não encontrem
felicidade em suas rotinas, mas apenas em suas fugas. Obrigações diárias deveriam
dar um sentimento de dever cumprido e de satisfação contínua. Só que elas se
tornam entediantes e a fonte primária de muitos sofrimentos. Sofrer, além da
morte, é a única certeza da vida. Eu que o diga.
No
fundo eu invejo meus filhos. Eles saem e são felizes. Não precisam dar muita
satisfação sobre a vida deles a ninguém. Eu fico aqui, com meus panos, panelas
e afazeres diários. Às vezes a televisão é uma fuga razoável. Afinal, ela
consegue preencher o nosso tempo, mas não o vazio do nosso coração.
Hoje foi um
dia mais livre pra mim. Ficarei um bom tempo sem lavar as roupas deles. E nem
me preocuparei em ajeitar as suas camas e tudo o mais. Os filhos às vezes fazem
uma festa tremenda quando os pais viajam. Eles dizem que sentem liberdade e
ficam mais à vontade e felizes. Mal sabem eles a alegria que os pais sentem com
a ausência dos filhos também. Ficar sem ter de cuidar dos filhos que viajam é
uma espécie de recesso parlamentar. Ficar sem ver a Giovana sendo inútil e o
meu filho se tornando um idiota já é uma coisa bem respeitável para a minha
cabeça. O problema é o Henrique. Ele se sente mais à vontade também nessas horas
para aprontar o que ele bem entende.
Confesso
que reli o que eu escrevi e pelo menos notei que algo melhorou no meu texto. Não
sei o que é, mas está melhor. Acho que foi a leitura do Fernando Pessoa. As
pessoas dizem que ler melhora na hora de escrever. Isso de forma genérica é
pura mentira! A gente escreve melhor quando lê algo que atinge o nosso espírito
e toca a nossa alma profundamente a ponto de nos fazer escrever algo como
aquilo. Se minha filha conseguisse passar isso para os alunos dela, seria uma
professora bem melhor.
(Escrito, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes)
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