sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Diário: 20 de maio de 2017


20 de maio de 2011.

              A Giovana está toda empolgada para amanhã. Ela vai dar aula como voluntária para preparar os alunos de Planaltina para o vestibular da UnB. Nesta semana ela vai fazer uma revisão de literatura, depois gramática e, por fim, redação. Agora eu queria saber como alguém que não lê quase nada vai dar uma aula de literatura para revisão? A Giovana é cheia de livros branquinhos, não porque ela cuida bem deles, mas porque não lê mesmo! Tomara que ela não acabe passando vergonha. Ela tá animada porque diz que “finalmente vai dar aula de verdade”. Vamos ver como ficam as coisas.
                Ontem, quinta, eu me senti bem, como não me sentia há muito tempo. De repente o peso da vida tinha saído dos meus ombros. Engraçado que não aconteceu nada demais. Fiz as minhas coisas como faço há muito tempo, só que dessa vez não sofri com a solidão nem quis desabafar no papel. Sentei no sofá e achei até graça nas piadas repetidas do Chaves. Só que a alegria comigo parece com um ipê daqui: floresce, mas por pouco tempo.

                Hoje, senti-me decepcionada. Por que a alegria abandonou o meu coração sem deixar suas raízes? Por que ela tem que ser uma borboleta que pousa em nosso dedo, é admirada e se vai sem dar satisfação alguma? Por que as cores de ontem não inundaram minha vida da mesma forma? Por que lavar a louça e fazer comida não foi tão bom quanto ontem? Talvez um dia eu entenda isso melhor. A nossa cabeça tem desses mistérios, infelizmente. O negócio é ir vivendo.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Diário: 17 de maio de 2011


17 de maio de 2011.

         A rotina tem sido uma inimiga bem ruim pra mim ultimamente. Tive de preparar 2 jantares especiais na semana passada: um na semana para o pessoal do trabalho do Henrique e um para as colegas do trabalho da Giovana, no sábado.
Acho minha vida difícil, mas minha amargura tem sido diminuída com a dor do povo que eu vejo na televisão. Todo dia nas bandas do Oriente Médio vem uma confusão que morre gente. O povo lá não tem um dia de sossego. Eu rezo por essas pessoas. Ninguém merece viver a vida com medo de ser vítima da ira alheia. Crianças sem escola, casas destruídas, falta de água e de comida, tudo por poder e ódio com o passado. As pessoas seriam muito mais felizes se vivessem o presente. O remorso do passado costuma ser a substância mais corrosiva da alma.
          Engraçado que nas conversas que eu ouvi aqui em casa não vi ninguém comentar esses casos. É só rindo das fofocas ou de autoridades ou de colegas de trabalho. Os colegas do Henrique falaram até da Dilma, disseram que ela tem um jeito bruto com os servidores e que até demitiu um estagiário por fazer uma coisa que ela não gostou. Povo besta esse. O mundo pode acabar que eles vão ficar pensando só no próprio umbigo.

          O Daniel arrumou uns amigos este ano que não são brincadeira. Ele saiu na sexta à noite, depois da faculdade, e só voltou domingo na hora do almoço. A Giovana achou bom a ausência do irmão por conta das amigas dela. Se ele só fizer isso dessa vez, tudo bem. Todo mundo faz umas besteiras quando é jovem. Aliás, tem que fazer para não sentir falta depois. Vamos ver se eu consigo retomar o meu ritmo do início do mês agora.

Amor Paterno




sábado, 13 de janeiro de 2018

Diário: 9 de maio de 2011


9 de maio de 2011.

          Viver uma farsa coletiva é tão vergonhoso quanto um vexame nacional. Ontem, no dia das mães, a família me preparou uma “surpresa”: compraram um vestido preto (digno do luto da data) e me levaram para almoçar no Mangai, um restaurante de comida nordestina muito bom na beira do Lago Paranoá. Talvez eles pensem que me deixar um dia sem cozinhar seja um presente e tanto.
Chegamos lá e ficamos naquela fila bem grande aguardando para “celebrar” essa data tão importante. Muitas outras pessoas tiveram essa mesma ideia que a gente. Ficamos conversando trivialidades esperando a nossa vez. Enquanto o Henrique tomava uma caipirinha com o Daniel, a Giovana e eu tomávamos água de coco; víamos as crianças brincarem e as pessoas tirando fotos para celebrar e se exibir na internet para os outros. Tenho reparado que esses registros de momentos têm sido mais importantes que os próprios momentos em si ultimamente. Sabe... o povo pega um celular ou uma câmera e tira uma foto com todo mundo feliz e unido. 10 segundos depois cada um foi para um lado e a união se perde totalmente, restando só a curiosidade individual (“fiquei bem na foto?”). Obviamente, também fizemos isso.
Na hora de comer, fiquei guardando a mesa. A Giovana tentou insistir para eu não ficar só, mas, como eu prefiro a solidão do que ela, insisti para que fosse ver o que tinha para me dar dicas. Ali sentada uns 10 minutos, vi muita coisa estranha. A começar não tinha quase nenhum negro que não fosse garçom no local, contei só uns 3 nas quase três horas em que eu fiquei no lugar. Depois que o Daniel chegou, fui pegar a minha comida. É bom ter muita variedade e fartura. Botei mais de meio quilo no prato e ainda comi uma sobremesa. Conversamos um pouco mais enquanto cada um cuidava do seu prato. O Daniel contou que seu chefe no estágio estava elogiando bem o trabalho do meu filho. Todos na mesa mostraram satisfação. Mas assim, não adianta nada para um administrador um estágio elogiado numa repartição pública. O pessoal da iniciativa privada olha e acha isso coisa de folgado. Mas aos poucos eu vou falando com jeitinho pro meu filho procurar outro caminho. No mínimo, eu o convenço a fazer um concurso público para ele dar um jeito nessa vida.
Em casa, cada um foi para o seu canto cuidar das suas coisas. O Henrique me abraçou e ficamos juntos na sala assistindo a um filme na tv a cabo. Não foi aquele abraço carinhoso, foi um abraço protocolar e sem sentimento. Quando ele passava a mão por mim, eu sentia que ele o fazia sem qualquer tipo de vontade. Aliás, ele anda meio sem vontade para muita coisa ultimamente.

          Hoje de manhã voltei à minha rotina. Esse contraste me mostrou o quanto a minha relação com a minha família está ruim para mim, pois, quando se ama alguém de verdade, todos os dias essa pessoa é tratada de forma especial.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Diário: 7 de maio de 2011



7 de maio de 2011.


            Sábado é um dia diferente. Não pela presença da minha família, mas sim pela ausência. Todos dormem até tarde: o Henrique nunca acorda antes das 11, a Giovana e o Daniel ficam no quarto até as 10. Eles só saem da cama para comer. Eu continuo acordando pontualmente 6 e meia. No fim das contas, vivemos juntos, mas não somos unidos. O bom de um dia como esse é que eu posso me debruçar sobre o meu diário de manhã sem o receio de ninguém me ver. Eles realmente acham que eu fico escrevendo receitas ou vendo umas novidades nos jornais. Se prestassem atenção em mim veriam que fico numa atmosfera nova quando escrevo.

***

                Hoje, na hora do almoço, a Giovana falou que está tendo alguns problemas lá no colégio dela. Pra ela, os alunos não estão nem aí pra nada e tanto faz passar um ou quatro anos na mesma série. Tentei falar com ela que na vida a gente precisa ter calma e paciência, principalmente com as pessoas mais novas, pois elas ainda não conhecem bem o caminho. Nessa hora, o nosso papel é mostrar equilíbrio para buscar novas alternativas e possibilidades. Ela se tranquilizou e conseguiu arrumar as coisas das aulas da semana depois de tarde.
            Eu falei isso, mas a minha vontade era falar: “também... o que você tem para ensinar a eles? Reclamar da vida e botar a culpa nos outros são a sua especialidade e não Língua Portuguesa. Na verdade você nem lê e quer que eles leiam. Se toca né, Giovana!”. Contudo, como boa mãe que sou, guardei para mim essas observações. Às vezes penso se não seria melhor falar algumas verdades para a Giovana em vez de mascarar a realidade com o senso comum mais banal. Por isso acho que moramos juntos, mas não estamos conectados de verdade. E amanhã ainda é dia das mães.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Diário: 5 de maio de 2011

5 de maio de 2011.

                Ontem foi uma correria, mas deu tudo certo. Fiz um filé de tilápia bem simples, mas que agradou. O Henrique trouxe dois amigos dele do TSE pra cá, o Pedro e o Luiz. A Giovana e o Daniel nem ficaram muito na mesa, comeram muito rápido, nem mastigaram direito a comida e foram fazer as coisas deles no computador.
                Na conversa eu fiquei mais como ouvinte do que outra coisa. Os rapazes falaram sobre o de sempre: futebol, política e trabalho. Eles achavam que a morte do Osama Bin Laden nesses dias não significava muitas mudanças. Para o Pedro, “se os Estados Unidos queriam que ele não fizesse mal a eles, que o matasse antes dos atentados, agora só serve pra parecer que resolveu o problema. Na verdade, esse terrorismo só deve aumentar daqui pra frente”. Cada um deixou seu comentário que eu não lembro agora. Só me lembro do Pedro falando.

                Enquanto eles acabavam de comer, eu recolhia os pratos para lavá-los e ia arrumando a cozinha. Quando eu fui deitar eles estavam animados, pois os seus times iam jogar a Libertadores. Pra eles, é um grande campeonato, mas pra mim só tem graça a Copa do Mundo. De manhã, o Henrique me falou que todos os 4 times brasileiros que jogaram foram eliminados. Ri na hora, mas meu bom humor passou quando eu tive de arrumar a bagunça que eles deixaram a casa: caixa de pizza, cerveja e petiscos (até parece que não tinham comido nada antes).