sábado, 27 de outubro de 2018

Poema Primavera


Primavera


A primavera merece mais
Do que beijos escondidos
Vestidos encardidos
E olhares para trás

A primavera merece mais
Do que lírios irritados
Méritos roubados
E críticos abusados

Esta primavera merece mais!
Mais do que margaridas indesejadas
Desculpas desajeitadas
E brigas camufladas.

Uma boa primavera precisa de mais!
Mais do que rosas murchas
De boas memórias enxutas
E de emoções sujas

A primavera merece mais!
Mais do que um lago que nega sua natureza
E cria vários redemoinhos
Para esconder suas impurezas.

Primaveras merecem mais!
Mais do que mentiras
Criadas por parasitas
De feras esquisitas.

A primavera merece mais!
Mais do que caminhos tortos,
Labirintos sem saída
E um coração seco.

A primavera merece um coração,
Um coração que pulsa
E inunda todo o corpo
Com sentimentos sem repulsa.

A primavera merece um sorriso sincero,
Que não diz palavras apenas
De quem espera um beijo
Sem truques ou coisas pequenas

A primavera quer mais!
Mais do que a indiferença
Da ausência na presença
De quem não sabe deixar o amor florescer


(Fernando Fidelix Nunes)

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Diário: 15 de novembro de 2011

(Ilustração feita por Enthoy Kevin exclusivamente para este blog)


15 de novembro de 2011.
               
Neste feriado senti orgulho do Daniel. Ele nem viajou com aqueles amigos dele. Ficou com a Rayane aqui em casa estudando e vendo filmes. Como uma mulher é capaz de mudar um homem. Conheci muita gente que tinha um vazio em sua vida que só podia ser preenchido por alguém que amasse bastante. Tinha um colega meu da 8ª série que tinha 18 pra 19 anos e não estudava nada. Ele se chamava Dorivaldo. Ele não aprendia muito nem se esforçava com nada. Ele era aquele tipo de pessoa que preferia ser levado para o lado errado pelos outros do que andar com os próprios pés para o lado certo.

Dorivaldo tinha tudo para ser um sem futuro que ia puxar uma enxada até o fim da vida, até que conheceu a Glória, que o levou para um caminho melhor. Ele começou a estudar e até se tornou um enfermeiro e tanto. Casou com a Glória e vivem juntos, pelo que eu sei, até hoje. Eu acho que a vida é meio assim mesmo. Uma grande paixão pode mudar tudo no nosso coração, independentemente do resto. A vida tem outro gosto quando estamos amando. É como se ela ganhasse cores em um filme preto e branco. É como no rádio: no meio das interferências que produzem sons que machucam a nossa alma, encontramos a sintonia perfeita. Tomara que o Daniel encontre o amor dele com a Rayane, finalmente.

Eu cheguei a amar o Henrique, mas de uns 10 anos pra cá as coisas pioraram muito. Parece que a responsabilidade de cuidar dos filhos nos unia mais. Quando eles cresceram, o fim da infância deles levou o nosso amor. E agora? O que temos para esta vida amarga? Falando assim parece até que a minha vida acabou. Acho que eu podia pensar em fazer uma faculdade para ver se melhoro alguns caminhos do meu dia a dia. Ler livros e escrever trabalhos e questionários são coisas muito melhores do que passar o resto da vida lavando roupa, panelas, pratos e limpando o chão que os outros pisam. Achei muito melhor ler o livro do Fernando Pessoa do que tudo que eu faço o resto do dia. A Giovana podia fazer isso, mas prefere ficar vendo besteira no computador.

Minha filha parece querer o namorado dela mais do que tudo. No fundo, ela acha que ele é a solução de todos os problemas da sua vida, mas não é. Ela precisa de um caminho em sua vida, mas que caminho a levará para outro lugar? Se ela me ouvisse, eu diria que é ela ajeitar a própria vida em vez de ficar procurando a felicidade nos outros. Eu diria para olhar para mim para saber aonde isso me levou. Mas ela não escuta, ela nunca escutará.


(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)

A Felicidade Não É Deste Mundo


A Felicidade Não É Deste Mundo



Definitivamente, o preceito cristão de que a felicidade não é deste mundo nunca foi tão verdadeiro para mim quanto agora. O Brasil está à beira do abismo político e cultural como nunca esteve antes. No âmbito nacional estamos divididos entre Haddad, um homem com alguma habilidade política que foi o dedaço do Lula, e Bolsonaro, um frouxo fujão de debates que flerta com o totalitarismo e exalta a diminuição da dignidade humana.

Antes de continuar a minha reflexão, vejo-me na obrigação de indagar: onde estavam a imprensa e os poderes desta República para denunciar a fala de Eduardo Bolsonaro? Demorar mais de 100 dias para exigir uma retratação é um atestado de incompetência pura. Um deputado federal falar o que falou é um absurdo. Três anos atrás o nosso então Ministro da Educação, Cid Gomes, falou que o Congresso era composto por centenas de achacadores, o que lhe rendeu um “convite” para prestar contas diante do Congresso. E Dudu Bolsonaro? Publicou desculpas no Twitter e ouviu rascunhos de sermões prolixos. Neste momento, o Judiciário deveria ter uma presença democrática mais consistente e não dar respostas rebuscadas incompreensíveis ao cidadão comum que passou 12 horas fora de casa e assiste na televisão ou no celular a pronunciamentos insignificantes.

Voltando à falta de felicidade neste mundo, ficaremos tristes de todo jeito. Isso é um fato incontestável que acontece desde que este mundo é mundo. Bolsonaro não será capaz de levar o país a um desenvolvimento sustentável e todo dia vai ter de lidar com a oposição, o que não será nada fácil, tendo-se em vista a institucionalidade democrática. Haddad tem dificuldade até de lidar com o seu palanque, quanto mais com um país que implora por uma liderança capaz de tirá-lo do buraco sem fundo em que nos metemos. Contudo, Haddad tem uma vantagem que o deixa muito acima do rival: preza pela liberdade. E, como dizia Nelson Rodrigues, “a liberdade é mais importante que o pão” – e olha que esse escritor passou fome durante um bom tempo.

Apesar dos medos que tomam conta de milhões de brasileiros, sejamos sinceros: não seremos felizes de jeito nenhum. A felicidade não é para este mundo. Inclusive, a doutrina espírita ensina que existem outros mundos mais evoluídos para os quais vamos conforme evoluímos espiritualmente depois que passamos deste planeta, que é de provas e expiações. Religião à parte, o Brasil é um país de provas e expiações. O nosso sofrimento parece não ter fim. Olhamos para a nossa bandeira e temos vergonha da maneira como ela é usada pela política; pensamos na educação e sofremos com dados e realidades vergonhosas; lamentamos as misérias morais e econômicas – se as compararmos, obviamente, às nossas infinitas potencialidades –; tememos não sobreviver à violência; odiamos a leitura inteligente, como o Diabo odeia a boa ação; e não sabemos administrar os incontáveis conflitos familiares, que semeiam dia após dia a corrosão da alma muito mais do que qualquer questão política.

Por fim, não poderia deixar de falar da política do nosso Distrito Federal. Ambos os candidatos são uma vergonha. Sofreremos bastante com seus desgovernos futuros. Um tem uma rejeição inédita, e o outro é um cara que faz propagandas que flertam com o lado mais tosco do rorizismo, que parecia estar enterrado nesta primavera. Pelo menos, no fim das contas, Ibaneis diz que sabe abraçar as pessoas, o que tem o seu valor para tempos quase inconsoláveis.


(Fernando Fidelix Nunes)

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Diário: 11 de novembro de 2011

(Ilustração feita por Leonardo B. Ferreira exclusivamente para este blog)


11 de novembro de 2011.


Parece que o argentino resolveu comprar a passagem para o Carnaval aqui em Brasília. Ele deve achar que o Carnaval no Brasil inteiro é uma festa única. Que nada! Aqui em Brasília é uma vergonha muito grande. Não tem nada de bom, as pessoas só vão nuns bloquinhos bem ruins e ficam bêbadas para fazer besteira. Nove meses depois tem a consequência dos seus descuidos. Pena que para muita gente um bebê é uma consequência e não uma dádiva. Se com filho planejado é difícil imagina sem planejar. Deve ser por isso que o Brasil está nesse buraco todo.

Agora no fim do ano tá cheio de gente falando bem da Dilma. Dizem que ela está surpreendendo mesmo com a pouca experiência dela. Mas não tô achando que vai dar muito certo. O Henrique mesmo disse que o pessoal da política ainda tá testando ela. Vamos ver como vai ser. Não sou especialista em nada, mas na história do Brasil ser presidente nunca foi fácil. O pessoal falou que Fernando Henrique e Lula foram os primeiros presidentes na história do Brasil a serem eleitos democraticamente e terem terminado o mandato sem interrupção nem muita tensão. Eles eram bem rodados, já essa aí não sabe de nada. Eu vi ela falando na TV esses dias e não entendi nada. Vamos ver se ela melhora.

A Giovana começou a ficar falando com o Henrique expressões vazias e sem muito sentido. Eu estou vendo minha filha ficar angustiada demais com essa situação de não poder receber o namorado aqui em casa. Todo mundo tem problema na vida. Esse negócio da Giovana não é grande coisa, mas, como ela tem uma vida medíocre, qualquer coisa ajuda a piorar. A gente pode ver por aí que quem tem uma vida boa não se incomoda com coisa pequena e vai seguindo em frente até achar uma alternativa que resolva o que está errado. Se eu tivesse um espaço para conversar com a minha filha, eu falaria tudo isso pra ela. Mas se eu falasse com ela agora, ela não iria nem me dar bola. Nem compensa ficar perdendo tempo com isso.

Eu ando sentindo falta da Rayane aqui em casa. O Daniel falou que ela está estudando no final do semestre e terminando as coisas da faculdade dela. Que menina de ouro essa! Eu lembro que a Giovana não estava nem aí para estudar no final de ano. Agora até o Daniel está estudando, coisa que nunca fazia antes de conhecer essa menina. Até eu ando começando a pensar em estudar alguma coisa na faculdade. Agora ficar fazendo vestibular concorrido igual ao da UnB me desanima muito. E faculdade particular o Henrique não pagaria pra mim. Se desse eu estudaria mais de novo, muito mais. Pena que a gente não pode voltar no tempo. É que nem aquela música do Capital Inicial a minha vida: se eu ajeitasse os meus primeiros erros a minha vida seria muito melhor.



(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Diário: 7 de novembro de 2011

(Ilustração feita por Leonardo B. Ferreira exclusivamente para este blog)


7 de novembro de 2011.


Esse Dia dos Mortos me fez pensar sobre muita coisa nesta vida. Impressionante a gente ter um dia para nós respeitarmos aqueles que já se foram. No meio dessa Babel de destinos e tragédias temos um único caminho: a morte. As pessoas costumam chorar muito em enterros, mas a gente só deveria se desesperar por algo inesperado. A morte não é algo inesperado para ninguém neste mundo. Talvez no outro mundo, mas neste mundo nada mais natural do que a morte. Estranho não é morrer, estranho é as pessoas se preocuparem tanto com a morte e a tratarem como a coisa mais difícil de se entender e sentir. Parece que a gente sempre procura um motivo para sofrer por qualquer contrariação que temos. Tem gente que fica de luto uma vida inteira, mas não adianta de nada, pois quem ou o que morre não vai voltar de jeito nenhum. O negócio é ir vivendo, independente do que aconteça. Engraçado que eu já escrevi essa frase um monte de vezes. Por que será?

Cada dia aparece uma coisa diferente na minha frente. Não consigo entender por que a Giovana quer tanto que o argentino venha aqui para casa. O Henrique diz que não vem de jeito nenhum. Eles até ensaiaram uma discussão, mas o Henrique estava de saída para o trabalho. Ele é assim, evita discutir ao máximo. Costuma conseguir sempre o que quer, mas ainda acho que vou ver uma breve novela na discussão entre eles. A Giovana sempre fica quieta e respeita o pai, mas dessa vez é diferente. Ela quer colocar a autoridade do Henrique de lado para viver o seu “amor”. Por que gente jovem se sente tão bem ao desafiar autoridade desse jeito em relação a tudo? Parece que a vida só tem graça para a minha filha se ela colocar os outros de lado e a sua vontade no meio de tudo.

Achei uma verdadeira pérola no livro do Fernando Pessoa. No fragmento 307, ele comenta sobre a estética do desalento. Ele diz algo do tipo: se a vida não apresenta beleza, precisamos aprender a ver a beleza na falta de beleza que a vida possui. Isso é extremamente verdadeiro em nosso coração. O mundo não é belo. Ele é feio como um funk desafinado. Sem harmonia e só fazendo o básico para entreter as pessoas. Achar beleza no que é medonho talvez seja o melhor caminho para a felicidade. Se eu conseguir ver isso na vida, eu acharei alguma coisa de bom nesta existência.

Dizem que na vida a gente tem um futuro demarcado de cabo a rabo. É como se nós tivéssemos um destino próprio para o restante de tudo. Tem gente que acha que somos nós que fazemos acontecer. Por que a gente nunca sabe de nada? Qual é a necessidade de tanto sofrimento em nosso coração? Eu queria que alguém me explicasse isso. Pena que não adianta nem procurar no Google para saber.



(Esta é uma obra de ficção escrita por Fernando Fidelix Nunes)

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Diário: 2 de novembro de 2011

(Ilustração feita por Enthony Vieira exclusivamente para este blog)

2 de novembro de 2011.

Nascer no dia dos mortos deve ser uma sentença de que a pessoa carregará consigo uma energia terrível por toda a sua limitada existência. Deve ser o tipo de pessoa que traz a morte nos olhos e nas suas ações. Na verdade, eu estou só especulando. O Daniel mesmo nasceu no 7 de setembro e não dá conta de fazer nada que preste sozinho. Não me lembro nunca de ter conhecido ou de ter ido ao aniversário de alguém que nasceu no dia dos mortos. Mas eu também nem conheço tanta gente assim para falar das pessoas. Só conheço mesmo a minha família, e olhe lá.

Conheci muita gente nesta vida, mas é como se eu não conhecesse ninguém de verdade. Sabe, conhecemos as pessoas por máscaras. Atrás de cada atuação existe uma história e uma profundidade tremenda. Pego isso pelo livro do Fernando Pessoa mesmo. O personagem dele, na ficção, deveria ser visto como apenas um homem esquisito que não tinha muito a oferecer às pessoas, daí ele deixou uma obra maravilhosa e profunda. Acho que se as pessoas escrevessem, deixariam coisas maravilhosas de seus corações para as outras pessoas. Afinal, nem tudo é o que parece.

Acho que a Rayane domou o Daniel de um jeito muito estranho. Ele era um bêbado que não estava levando nada a sério neste mundo. É como se ela tivesse domado o espírito bruto do meu filho e tivesse trazido uma paz a ele impressionante. O estranho é que eu não entendo muito bem o porquê disso. Acho que foi só pelo sexo mesmo, porque eles são diferentes em tudo. Ela é bem mais quieta e na dela. Quando sai, é para ir com as amigas para um bar bem discreto ou uma dessas festa de rock. Não vi ela até agora falando de bebida com a gente nem de nada exagerado. No fim eu gostei dela, ela conversa com uma voz divertida tão bem sobre tantas coisas que estão ao nosso redor que eu me sinto meio hipnotizada por ela. O Henrique também aprovou a menina.

Agora a Giovana com esse argentino dela não tá com nada. Como pode uma menina que eu criei com tanto carinho ter ficado tão boba? Namorar alguém por ser um estrangeiro depois de uma aventura de semanas é um atestado de carência e estupidez. Mas a vida é cheia dessas idiotices. Afinal, só temos duas certezas nesta vida: que vamos morrer e cometer erros vergonhosos. Isso é muito fácil de falar, mas muito difícil de viver. Fico com pena da minha filha. Não deve ser nada bom ter um relacionamento assim. O pior que ela quer que o namorado venha para cá. Pelo visto o Henrique não gostou nada da ideia, mas isso só vai se resolver lá para dezembro ou janeiro.

Eu estou falando muito dessas coisas, mas não tenho muita moral para falar a respeito de relacionamentos. Casei com um homem que é incapaz de se abrir de verdade para mim. Não sei o que vai ser daqui pra frente, mas é provável que nada mude de verdade. Eu penso em muitas coisas que podem acontecer, mas no fim eu sei que nada vai mudar. Comigo, tudo muda para não mudar nada.

Pensei na minha mãe esses dias. Realmente, era uma mulher maravilhosa. Pena que ela não está aqui para me ouvir e me orientar mais. A gente sempre pensa que as coisas não vão acontecer conosco, mas acontecem. Nunca pensei que iria perdê-la assim. Só que a vida não para e nós temos que continuar e sermos fortes diante de tudo que está na nossa frente. Pena que eu não sou capaz de olhar para o futuro com um olhar positivo. Se o país pelo menos me animasse um pouco, mas não anima nem um pouco dentro de mim.

(Esta é uma obra de ficção escrita por Fernando Fidelix Nunes)

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Nossas Escolhas Eleitorais Têm Consequências


Nossas Escolhas Eleitorais Têm Consequências

Normalmente, as pessoas que produzem textos sobre política, ainda mais na véspera das eleições, costumam esconder as suas intenções dos seus leitores. É uma espécie de cinismo revestido de retórica. Este texto não! Sou honesto da primeira à última palavra em dizer que tenho como objetivo persuadir as pessoas a mudarem de posicionamento na última hora e votarem em Ciro Gomes para presidente neste domingo.

Sejamos sinceros: Bolsonaro e Haddad não possuem a menor condição de governar o Brasil nos próximos quatro anos. Um diz que vai botar os melhores para governar e acha que só há o exército no país – e em menos de um mês já teve que fazer o general mourinha exercer o seu direito democrático de ficar calado em sua plenitude.  E não possui a menor capacidade para discutir nada em um nível decente. Indagado sobre que imposto iria mudar, ele só soube gaguejar “poxa, Miriam!” e tentou desconversar dizendo que não era economista nem médico para ser específico em relação a duas das grandes aflições do nosso povo. Cenas lamentáveis que vão entrar para os anais da História do Brasil, provavelmente num tópico específico sobre ignorância e política no início do século XXI.

Haddad segue aquela tradicional malandragem de se dar bem na onda dos outros. Acordem! Ele não é o Lula, mas fica enganando os outros com um slogan do tipo “O Brasil Feliz de Novo”. Quem governará este país será o mesmo grupo que estava com Dilma, que sequer é mencionada por Haddad em diversos momentos. Ademais, enquanto o #elenão faz os generais terem fantasias juvenis com uma possível ditadura de araque, Haddad tenta estimular uma ilusão que não se sustentará na prática governamental dos próximos anos. O Brasil não voltará a ter entre 4% e 5% de desempregados; nem terá protagonismo econômico e político, já que Haddad não goza de sequer uma ínfima fração do prestígio e da capacidade política de Lula.

E o Ciro? Olha, nenhum dos candidatos tem o conhecimento dele sobre os problemas da nação brasileira. Impressionante, o candidato tem algo a dizer sobre praticamente todas as regiões e problemas daqui. Ele deixa claro que fará algo para que os brasileiros possam refinanciar suas dívidas e, consequentemente, tirarem o seu nome do SPC. Sobre a economia, ele deixa claro o que vai fazer para aumentar a receita da União e acabar com o assombroso déficit público: taxar as grandes heranças e cobrar impostos sobre lucros e dividendos, práticas recorrentes em outros países desenvolvidos. As reformas previdenciária e trabalhista do atual governo serão mudadas e o Brasil, segundo ele, discutirá nos primeiros seis meses de seu mandato um conjunto de reformas que realmente mudará o país, principalmente a reforma política.

Outra grande qualidade de um eventual governo de Ciro Gomes é a atenuação gradual do clima de tensão no país. PSL e PT, sem dúvidas, colocarão o país à beira de um conflito irreconciliável nas próximas duas décadas. De um lado, um cara que semeia o ódio em muitas de suas falas e prega um amor incondicional à diminuição da dignidade humana. Do outro lado, um homem que a cada tropeço vai ter que dar explicações sobre denúncias de corrupção e justificativas para atenuar equívocos grosseiros.

Ciro Gomes não se mistura com os principais equívocos dos seus adversários. Ele não confunde a autoridade que tem com o autoritarismo tosco de outros candidatos. Tampouco aceita ser fruto de um oportunismo político. Ciro foi convidado para exercer o papel de Haddad ou de Manuela na chapa com Lula. Sabem o que ele disse? Não! Ele não quer dever sua eleição à predileção que o povo tem por outro político. Se ele fosse o oportunista que pintam, teria aceitado de imediato, pois isso o levaria ao Palácio do Planalto certamente.

E por que não votar nos outros? Porque os outros não vão conseguir ir ao segundo turno e tampouco têm capacidade para governar o país nesta interminável crise. Você tem o direito de votar em outro candidato. Fazer o quê? Democracia é isso mesmo. Agora, não venha reclamar depois de uma incompetente ditadura militar de quinta categoria ou de uma indicação improvisada. Afinal, nossas escolhas eleitorais têm consequências.

(Artigo de opinião escrito por Fernando Fidelix Nunes)