sexta-feira, 29 de março de 2019

Diário: 25 de março de 2012




25 de março de 2012.

Hoje eu tive um sonho bem esquisito. Dizem que os sonhos revelam muito sobre a nossa mente inconsciente. Eu nunca li nada sobre isso. É desses assuntos que as pessoas falam, mas não resolvem nada, só serve para encher linguiça na televisão durante 2 minutos. Aí o povo é desinformado e ninguém sabe o porquê. Todo mundo sonha o tempo todo. Nunca vi o Globo Repórter ou qualquer canal da televisão falando dos sonhos. Parece que o que interessa é detalhe. A televisão fica perdendo tempo com bobagem sem se importar com o que interessa.

Eu fico enrolando porque só posso desabafar aqui mesmo. Bem... meu sonho foi bem esquisito. Nunca imaginei que algo poderia marcar tanto o meu coração. No meu sonho, eu acabei imaginando a minha família toda reunida nos bancos vazios na frente do bloco. A gente fazia um churrasco com carne boa e uma mesinha com uns pratos. Todos estavam felizes: a Giovana estava rindo e me ajudando com tudo, o Henrique ria e me abraçava com carinho e a Rayane e o Daniel se abraçavam perdidamente apaixonados e indiferentes ao mundo ao seu redor. De repente, vinha um furacão e acabava com tudo.

Nessa hora do furacão, eu acordei. Tanto quanto o sonho, o que me chocou foi a reação do Henrique. Ele não teve reação nenhuma. Nenhuma reação. O silêncio dele nesse momento foi a pior coisa que ele já me disse. As pessoas acham que só se comunicam falando. Eu acho diferente. As pessoas se comunicam bastante no silêncio. Um olhar ou uma ação indiferente é a pior coisa que a vida pode oferecer à vida em se tratando de comunicação. Isso realmente me modificou.

O que eu fiz da minha vida? Como eu posso sair desse buraco de vida? Como me libertar dessa rotina maldita? Como a vida pode valer a pena de novo? Como posso reencontrar o amor da e na minha vida? Quero respostas, mas só encontro perguntas.

sábado, 23 de março de 2019

Diário: 12 de março de 2012

(Ilustração feita por Enthony Keven exclusivamente para este blog)


12 de março de 2012.

Hoje escrevo só para manter o hábito. O hábito de escrever é o hábito de viver por natureza. Acho que é o momento em que me sinto viva e não uma máquina... uma máquina de lavar, passar, cozinhar, cuidar, limpar... uma máquina da vida e para a vida. Ser uma máquina tem a vantagem de massagear a dor inexistente. A dor passa a ser um detalhe a ser ignorado. A vida não é nada fácil.

O Henrique deve estar ainda muito próximo da Tereza. Esse negócio de celular pré-pago é muito ruim. Antes a gente sabia todos os telefones que tinham ligado para o telefone da casa, que é de todo mundo. Daí dava para ver quem ligou e por quanto tempo falou. E isso era feito de forma discreta. Fico imaginando quantas traições foram descobertas assim.

Agora, com o celular pré-pago, cada um fica cuidando da sua vida. Isso é bom para as pessoas fazerem coisa errada. Dizem que a tecnologia só serviu para ajudar as pessoas a serem melhores. Mentira. A tecnologia é a maior arma para os vícios e mistérios obscuros do ser humano. A vida é assim, bastante sem sentido.

Meu filho é a única pessoa que segue um caminho na estrada da vida. Só que a vida é longa e cheio de barrancos. No fundo eu tenho medo de que ele faça com a Rayane a mesma coisa que o Henrique fez comigo. Mas é difícil, pois ele, mesmo melhorando muito, é incapaz de conseguir o emprego do Henrique e comprar um apartamento na Asa Norte. A vida é assim, bastante complicada.


(Esta é uma ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)

quinta-feira, 14 de março de 2019

Diário: 11 de março de 2012

(Ilustração feita magistralmente por Enthony Keven)

11 de março de 2012.

Hoje acordei com vontade de escrever. Passei o dia todo ansiosa para escrever agora à noite, mas me vi sem quase nenhuma inspiração. Se eu tivesse escrito de manhã, acho que conseguiria inundar este dia de poesia e força, só que a vida não é fácil. Tive que fazer faxina, cozinhar e ainda fazer as compras do mês no Extra. Foi um redemoinho que sugou as minhas energias por completo. Agora, de frente para a tela, poucas ideias vêm à minha cabeça.

Eu acho que me sentia mais à vontade quando eu escrevia usando uma caneta em vez de um teclado. O teclado é uma ferramenta absolutamente fria. O som da chuva também me motiva a ficar desanimada. O som da chuva é como as marteladas que a rotina deu nos pregos que me prendem para que eu não desabe nem voe por aí. Tem tanta gente dizendo por aí que tudo depende da gente, mas eu não acho isso. Acho que não fazemos as coisas por nós mesmas sempre para melhorar. Precisamos de outra pessoa. De outra pessoa não, de muitas outras. Se alguém quiser me matar na rua, não depende só de mim.

Nossa! Que pensamentos esquisitos ficam passando pela minha cabeça ultimamente. Às vezes eu sinto inveja dos mendigos que dormem nos bancos e no comércio aqui da quadra. Eles podem andar para qualquer lugar que eles quiserem. Mas eles passam fome! O que eu tô escrevendo? Não consigo entender direito de onde tirei esses pensamentos.

A minha família hoje, significa apenas a ocupação dos espaços na minha vida. Queria ver meu coração ocupado por uma vida plena, mas as coisas não são assim. Na verdade, eu nem sei como as coisas são de verdade. Vai entender como a vida é. As coisas serão muito complicadas se eu continuar assim. Na verdade, acho difícil as coisas piorarem. E ainda tem gente que coloca o dia da mulher como uma grande coisa. Eu nem gosto de falar sobre ele, pois, para mim, é só uma maneira hipócrita da sociedade falar que as mulheres são homenageadas para no dia seguinte pisar nelas. Tenho até o que falar sobre a minha família, mas deixo isso para depois porque estou muito cansada.

(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)


sexta-feira, 8 de março de 2019

Diário: 10 de março de 2012

(Ilustração feita com maestria por Enthony Keven)


10 de março de 2012.

Não ando muito inspirada para escrever. O dia a dia nos deixa para baixo. Os desafios não são problema para a vida das pessoas. O problema é a rotina. É ela que nos afoga num oceano de tarefas que se encerram ao final do dia. Lavar, passar, cozinhar, limpar e comprar são coisas que tomam conta do meu tempo. Só consigo relaxar assistindo televisão. Só vem notícia ruim desses políticos vagabundos de Brasília. Ainda bem que tem muitos filmes e novelas para distrair um pouco.

Agora como eu posso sair desse labirinto da rotina? Como tirar a dor que eu carrego dentro de mim. Resolvi ler um livro do Drummond da estante da minha filha. O livro está novinho, parece até que nunca foi lido por ninguém. Na verdade, eu duvido muito que a Giovana tenha lido esse livro, esse e muitos outros livros que ela tem só de enfeite na estante. Enfim, ele fala uma coisa muito inteligente. Ele diz no poema “Consolo na Praia” que várias coisas passam pela nossa vida, mas sempre tem algo que vale a pena e que fica em nossos corações. Ele diz que os amores passam, mas o coração continua.

Eu hoje vejo a vida de um jeito diferente. O coração continua angustiado. O Drummond era inteligente, pois não falava muito sobre o ambiente nesse poema ou nas características dos elementos. A vida é assim mesmo: as pessoas tentam esconder a verdade para machucar menos. O ser humano com um bom coração costuma ter medo ou vergonha de machucar outras pessoas. Pena que as pessoas olham apenas para as grandes dores e se esquecem das cotidianas. Hoje nem falei da minha família direito. Só falei de mim mesma. Foi melhor assim.

sexta-feira, 1 de março de 2019

O País do Carnaval

(Ilustração feita por Enthony Keven)




O País do Carnaval


O problema do ser humano não são os seus sonhos, mas os seus desejos. Essa ideia não sai da minha cabeça já faz algum tempo. Quando eu estou no trânsito, na sala de aula ou até mesmo na academia, essa ideia me assalta o pensamento. Tenho acreditado que os sonhos das pessoas são belos, idealizados e agregadores de transformações positivas, tal como um poema romântico da primeira parte de Lira dos Vinte Anos ou crítico como o Navio Negreiro. Já os desejos são egoístas, despreocupados e inconsequentes, como a sordidez de Brás Cubas e a canalhice de Bentinho. Ainda vou achar uma explicação mais completa para isso. Afinal, a vida é longa e não precisamos de pressa para resolver os enigmas da Esfinge, já que podemos controlar a angústia de sermos controlados por uma dúvida. Sim, podemos controlar nossas angústias mais agudas, basta aprendermos como. Por enquanto, falaremos de outras coisas ou dessa mesma ideia com as suas consequências.

O Brasil está uma vergonha lastimável. Boa parte dos meus alunos é capaz de falar 10 minutos sobre uma obra literária, mesmo que não tenham lido o livro. O presidente brasileiro não foi capaz de fazer um discurso detalhado sobre o que fará para o Brasil ser um país melhor. Objetividade é algo que se deve procurar em textos formais, mas não é desculpa para uma argumentação rasa. Hoje, mais do que nunca, precisamos ser específicos para resolver o Brasil, pois o Brasil não se resolverá sozinho e ao acaso. O Enem cobra isso na redação por meio da competência 5: a elaboração de uma proposta de intervenção. O presidente que já se gabou de que tiraria uma nota melhor que outros políticos no Enem, dificilmente tiraria uma nota decente nessa competência. O problema é que nós vamos sendo puxados pelo bloco que ele comanda: Unidos da Estupidez – cuja bandeira é laranja.

Agora uma coisa precisa ser dita: um homem capaz de trocar mensagens com seu ex-ministro pelo WhatsApp e dizer que não falou com um dos seus homens de confiança é, definitivamente, capaz de qualquer atrocidade. Como pode o indivíduo cair numa dessas. Acho que é um vazamento recorde para um presidente brasileiro. Se bem que ele deve receber apoio recíproco durante um tempo para conseguir reformar a Previdência Social. Depois disso, só Deus sabe o que pode acontecer com o Brasil.

E o MEC? É inominável o que esse ministério faz. Procurei no Aurélio e em dois dicionários de sinônimos e não achei um termo sequer capaz de descrever as atitudes do MEC. O colombiano resolveu mandar um e-mail ridículo falando do hino nacional e pedindo a veiculação do slogan do governo. Além do slogan ser uma coisa de lunático religioso que não lê a Bíblia, o povo acha que a revolta é por conta do hino nacional. Não! A revolta é pelo slogan e é dupla porque os alunos não sabem o que significa o hino nacional. Há centenas de milhões de brasileiros que não sabem o que significa metade do seu próprio hino, tão exaltado em Copas do Mundo e, às vezes, tocado nas Olimpíadas. Nem o pessoal da página “Cenas Lamentáveis” seria capaz de postar tantas atrocidades.

No futebol, nem parece que somos a sede da Copa América. O brasileiro anda com vergonha da sua seleção como de um escândalo familiar que precisa ser ocultado a qualquer custo. E ainda por cima temos um monte de estádios caríssimos que estão servindo de casa para formigas de todo tipo. A CBF, nesse quesito, é mais cretina que qualquer político brasileiro. Queremos que muita coisa mude neste país, mas parece que nada vai mudar. De fato, a indiferença e a estupidez são os principais alicerces do subdesenvolvimento brasileiro.

Como os seres humanos estão correndo loucamente para o abismo, vamos rezar para o Céu, pois na nossa terra as coisas estão complicadas.

(Fernando Fidelix Nunes)

Diário: 1º de março de 2012

(Ilustração feita por Enthony Keven para este blog)

1º de março de 2012.

Quanta coisa para um mês só. Impressionante como a vida é cheia de reviravoltas. Fiquei um bom tempo sem escrever mais por dificuldade em digerir os fatos do que por conta da ausência de fatos. Foi uma loucura esses dias. Tem coisa que acontece na vida real que parece mentira, mas acontece mesmo.

Depois de tanta confusão, a Giovana passou o Carnaval com o namorado argentino dela. Ele tem um jeito de malandro latino que nunca ia me enganar, mas enganou a minha amada filha. Ela ficou com ele na casa da dona Aurora até o último dia de Carnaval. Na noite de terça-feira acabou o carnaval e o namoro da minha filha. Ela pegou o namorado argentino beijando outra mulher enquanto ela estava no banheiro. Ele tentou se justificar e tudo mais. Foi um barraco que terminou com as coisas dele na rua em frente à casa da dona Aurora. Foi um barraco memorável. A Giovana quis ficar lá nos dias seguintes. Como ela ainda não conseguiu ficar numa escola fixa, ela preferiu ficar lá para diminuir a vergonha, que foi gigantesca. A gente ficou sabendo pela fofoqueira da dona Aurora. Mas nesse caso era realmente difícil esconder.

O Daniel e a Rayane curtiram bem o mês. As aulas deles voltaram, mas o amor deve continuar. Tomara, porque meu marido comigo anda péssimo. Não faz nada além de trabalhar, mais nada além disso! Ele deu um sorrisinho sórdido quando ficou sabendo da história da Giovana. É aquela coisa de pai que diz “eu avisei, sua boba” sem dizer uma única palavra. No fim das contas, eu acho que às vezes usamos nossos filhos para apontar os erros que cometem só para nos colocar acima deles. Talvez seja isso.


As coisas devem voltar a melhorar aqui em casa. Pelo menos devem andar melhores do que este país, que parece se perder cada vez mais. Muita coisa complicada nos aguarda, muita coisa. Ando com uma saudade do Fernando Pessoa.

(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)