(Ilustração feita por Enthony Keven)
O País do Carnaval
O
problema do ser humano não são os seus sonhos, mas os seus desejos. Essa ideia
não sai da minha cabeça já faz algum tempo. Quando eu estou no trânsito, na
sala de aula ou até mesmo na academia, essa ideia me assalta o pensamento. Tenho
acreditado que os sonhos das pessoas são belos, idealizados e agregadores de
transformações positivas, tal como um poema romântico da primeira parte de Lira
dos Vinte Anos ou crítico como o Navio Negreiro. Já os desejos são egoístas,
despreocupados e inconsequentes, como a sordidez de Brás Cubas e a canalhice de
Bentinho. Ainda vou achar uma explicação mais completa para isso. Afinal, a
vida é longa e não precisamos de pressa para resolver os enigmas da Esfinge, já
que podemos controlar a angústia de sermos controlados por uma dúvida. Sim,
podemos controlar nossas angústias mais agudas, basta aprendermos como. Por
enquanto, falaremos de outras coisas ou dessa mesma ideia com as suas
consequências.
O
Brasil está uma vergonha lastimável. Boa parte dos meus alunos é capaz de falar
10 minutos sobre uma obra literária, mesmo que não tenham lido o livro. O presidente
brasileiro não foi capaz de fazer um discurso detalhado sobre o que fará para o
Brasil ser um país melhor. Objetividade é algo que se deve procurar em textos
formais, mas não é desculpa para uma argumentação rasa. Hoje, mais do que
nunca, precisamos ser específicos para resolver o Brasil, pois o Brasil não se
resolverá sozinho e ao acaso. O Enem cobra isso na redação por meio da
competência 5: a elaboração de uma proposta de intervenção. O presidente
que já se gabou de que tiraria uma nota melhor que outros políticos no Enem,
dificilmente tiraria uma nota decente nessa competência. O problema é que nós
vamos sendo puxados pelo bloco que ele comanda: Unidos da Estupidez – cuja
bandeira é laranja.
Agora
uma coisa precisa ser dita: um homem capaz de trocar mensagens com seu
ex-ministro pelo WhatsApp e dizer que não falou com um dos seus homens de
confiança é, definitivamente, capaz de qualquer atrocidade. Como pode o
indivíduo cair numa dessas. Acho que é um vazamento recorde para um presidente
brasileiro. Se bem que ele deve receber apoio recíproco durante um tempo para
conseguir reformar a Previdência Social. Depois disso, só Deus sabe o que pode
acontecer com o Brasil.
E
o MEC? É inominável o que esse ministério faz. Procurei no Aurélio e em dois
dicionários de sinônimos e não achei um termo sequer capaz de descrever as
atitudes do MEC. O colombiano resolveu mandar um e-mail ridículo falando do hino
nacional e pedindo a veiculação do slogan do governo. Além do slogan ser uma
coisa de lunático religioso que não lê a Bíblia, o povo acha que a revolta é
por conta do hino nacional. Não! A revolta é pelo slogan e é dupla porque os
alunos não sabem o que significa o hino nacional. Há centenas de milhões de
brasileiros que não sabem o que significa metade do seu próprio hino, tão
exaltado em Copas do Mundo e, às vezes, tocado nas Olimpíadas. Nem o pessoal da
página “Cenas Lamentáveis” seria capaz de postar tantas atrocidades.
No
futebol, nem parece que somos a sede da Copa América. O brasileiro anda com
vergonha da sua seleção como de um escândalo familiar que precisa ser ocultado
a qualquer custo. E ainda por cima temos um monte de estádios caríssimos que estão
servindo de casa para formigas de todo tipo. A CBF, nesse quesito, é mais
cretina que qualquer político brasileiro. Queremos que muita coisa mude neste
país, mas parece que nada vai mudar. De fato, a indiferença e a estupidez são os
principais alicerces do subdesenvolvimento brasileiro.
Como
os seres humanos estão correndo loucamente para o abismo, vamos rezar para o
Céu, pois na nossa terra as coisas estão complicadas.
(Fernando Fidelix Nunes)