3 de
janeiro de 2012.
Passei um
tempo sem escrever porque eu resolvi reler o meu ano antes de escrever mais
sobre a vida de “um novo tempo, que começou”. O Natal na casa da família da
Rayane foi muito bom. Conhecemos os pais dela, Lúcia e Roberto, e o apartamento
que eles têm na 404 sul. É desses que nem elevador tem. Deu um trabalho para
subir aquelas escadas, mas foi bom para queimar a rabanada do fim de ano. De
uma coisa eu gostei: me deixaram livre da cozinha. A Rayane falou que os pais
dela faziam questão de fazerem tudo em casa mesmo. Claro que depois ficou
bastante subentendido que o Henrique e eu devemos retribuir nestas férias. Na
verdade, só eu porque o Henrique não vai fazer nada mesmo.
O apartamento
deles tem três quartos, um para eles, um para a Rayane e outro para o irmão
dela, chamado Luiz, um moleque de 17 anos que só sabe falar de vestibular.
Conversou até bem com a Giovana, mas deu para perceber que ele sabe de mais
coisa que a Giovana sobre vestibular. Até no Natal eu sinto vergonha da minha
filha. Mas não tenho do que reclamar, pois comi bem e dei umas risadas à toa
por aí. Sair de casa, para mim, é uma espécie de libertação da vida que levo.
Mas não adianta nada sair e ver as mesmas pessoas sem graça de sempre e sentir
o mesmo clima pesada.
Na casa dos
pais da Rayane foi muito bom, mas na casa do Agenor e da Aurora foi muito ruim.
Além daquelas pessoas chatas e sem graça, tive de aguentar a perturbação do
William, que botou na cabeça que quer ser chamado de Alana. Como era Natal, as
pessoas resolveram abraçá-lo por educação, mas todos fizeram questão de dizer William,
só não a Giovana que fez questão de chamar de Alana. O abraço deles foi mais
demorado também. Muito ruim ver a minha filha incentivando esse tipo de bobagem
na cabeça de um menino perturbado. Eles foram (não consigo escrever elas) foram
até para dentro da casa. A Giovana depois me contou que o William mostrou um
monte de poemas dele que ele queria que fossem publicados por ela. Ela disse
que gostou, mas acho que não deve ser tão bom assim, afinal a minha filha nem
gosta de ler de verdade para saber o que é poesia boa e o que não é. A vida é
cheia dessas coisas mesmo.
Agora ver o
Henrique dando um jeito para ficar perto da Tereza foi muito ruim. Ele sempre
se aproveitava quando eu estava ocupada com alguma coisa para falar com ela,
chegar perto e “ajudar” em alguma coisa. No final eles não ficaram sozinhos
nunca nem aconteceu nada. Mas me pareceu ser aquele tipo de nada que significa
tudo na intimidade das pessoas. Esse tipo de coisa realmente é importante de se
perceber e mudar. Eu já percebi, agora falta fazer a outra parte que é mais
difícil.
O Ano Novo foi
na casa de um amigo do Henrique. Muito ruim. Ia ser melhor ficar em casa, e
fazer qualquer outra coisa. O Henrique escapou por pouco de uma blitz da
polícia umas quatro da manhã. O nosso carro passou e o carro seguinte foi
parado. Foi uma tremenda sorte. E, para fechar o começo de ano com tudo, o
Henrique caiu na cama e dormiu. Só dormiu, não sei porque eu me surpreendo
ainda com isso.
Olhar para
frente agora é um grande desafio para mim. Só vejo problemas à minha frente. O
negócio é ir aguentando os desafios e os vazios da vida. Ando meio desanimada
para escrever. Talvez eu me anime mais durante o ano. Estranho, porque as
pessoas costumam ser mais animadas no início do ano. Até falei com minha família,
mas para mim isso não tem importância, não por agora.
(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)