(fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-09/incendio-atinge-museu-nacional-no-rio-de-janeiro)
Fingir a dor que deveras não sente
Galera... a gente quase nunca vai
a museu, mas botar fogo é sacanagem. Pô, nossa história virou pó em poucas
horas. Assistimos pela televisão e lemos nos jornais a maior vergonha da nossa
história. Temos dinheiro para bancar corrupção e campanhas políticas de
mafiosos, mas não o suficiente para cuidar do nosso verdadeiro patrimônio: a
cultura.
O descaso com o Museu Nacional no
Rio de Janeiro também não é menor do que o descaso dos artistas com a cultura
nacional. A produção do nosso tempo se pauta pela mediocridade e pelo conchavo,
técnicas dignas do arcaico PMDB. Amigos se ajudam e omitem qualquer tipo de
crítica só para que um círculo privilegiado tenha acesso à arte e à cultura. E
emendamos: para ganhar dinheiro. Há autores e autoras que só querem saber de
dinheiro. Tem gente que não se preocupa em fazer uma arte de qualidade, mas é
louca para viver das qualidades do dinheiro provenientes da arte. Conseguem isso,
pois o pacto da mediocridade é feito em larga escala.
As pessoas fingem sentir dor pela
perda do museu. Não são como aquele dos versos de Fernando Pessoa, elas só
fingem sentir as dores que não sentem. Cai bem um artista sentir dor pela perda
do museu que nunca visitou, isso é licor de mediocridade com uma dose de prepotência
daqueles que enterram a nossa cultura dia após dia. Muitos que foram protestar
fazem, com a nossa cultura, o mesmo que o fogo fez com os incontáveis artefatos
raros desta nação tupiniquim. Destroem silenciosamente qualquer relação do
público com a arte enquanto sufocam o povo com a fumaça da estupidez inominável
que degringola qualquer possibilidade de verdadeira arte verídica e do verídico,
seus conspiradores filhos da puta (cá entre nós... o léxico do Ciro Gomes foi
fundamental para encerrar este parágrafo).
Sejamos sinceros: a cultura tem
sido paisagem para os artistas que andam mamando nas tetas do puxassaquismo e
cagando na sociedade, que lhes tem servido de fralda. E o resto? O resto é
perfumaria com preço de etiqueta vendido pela Amazon.
A bienal do livro de Brasília de
2018, por exemplo, não foi capaz de integrar leitor-cidade-escritor-obras. Só
serviu para preencher a agenda cultural, isto é, ocupou espaços, não
sentimentos e ações. Dessa forma, foi a tal mediocridade em forma de cultura. Também
foi um fracasso capitalista. Todos os livreiros com que conversamos ficaram
decepcionamos com o fluxo cultural-financeiro. Nem o pipoqueiro do lado de fora
gostou. Ele disse: “a crise tá braba”. As viúvas de Renato Russo (essa
burguesia socialite-socialista) estão matando nossa arte de todos os lados tentando
preencher o vazio do amado com o primeiro idiota que aparece – diga-se de
passagem que ele está muito longe dos padrões de estética, ética e
produtividade do nosso tempo. Precisamos confessar que baixou o Trotsky no Renato
na hora em que ele falou da burguesia.
Enquanto não percebermos a
cultura que Brasília, eterna periferia cultural, realmente produz e obsecra por
reconhecimento real, de fato, estaremos sujeitos às chamas da ignorância.
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