sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Fingir a dor que deveras não sente


(fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-09/incendio-atinge-museu-nacional-no-rio-de-janeiro)

Fingir a dor que deveras não sente



Galera... a gente quase nunca vai a museu, mas botar fogo é sacanagem. Pô, nossa história virou pó em poucas horas. Assistimos pela televisão e lemos nos jornais a maior vergonha da nossa história. Temos dinheiro para bancar corrupção e campanhas políticas de mafiosos, mas não o suficiente para cuidar do nosso verdadeiro patrimônio: a cultura.

O descaso com o Museu Nacional no Rio de Janeiro também não é menor do que o descaso dos artistas com a cultura nacional. A produção do nosso tempo se pauta pela mediocridade e pelo conchavo, técnicas dignas do arcaico PMDB. Amigos se ajudam e omitem qualquer tipo de crítica só para que um círculo privilegiado tenha acesso à arte e à cultura. E emendamos: para ganhar dinheiro. Há autores e autoras que só querem saber de dinheiro. Tem gente que não se preocupa em fazer uma arte de qualidade, mas é louca para viver das qualidades do dinheiro provenientes da arte. Conseguem isso, pois o pacto da mediocridade é feito em larga escala.

As pessoas fingem sentir dor pela perda do museu. Não são como aquele dos versos de Fernando Pessoa, elas só fingem sentir as dores que não sentem. Cai bem um artista sentir dor pela perda do museu que nunca visitou, isso é licor de mediocridade com uma dose de prepotência daqueles que enterram a nossa cultura dia após dia. Muitos que foram protestar fazem, com a nossa cultura, o mesmo que o fogo fez com os incontáveis artefatos raros desta nação tupiniquim. Destroem silenciosamente qualquer relação do público com a arte enquanto sufocam o povo com a fumaça da estupidez inominável que degringola qualquer possibilidade de verdadeira arte verídica e do verídico, seus conspiradores filhos da puta (cá entre nós... o léxico do Ciro Gomes foi fundamental para encerrar este parágrafo).

Sejamos sinceros: a cultura tem sido paisagem para os artistas que andam mamando nas tetas do puxassaquismo e cagando na sociedade, que lhes tem servido de fralda. E o resto? O resto é perfumaria com preço de etiqueta vendido pela Amazon.

A bienal do livro de Brasília de 2018, por exemplo, não foi capaz de integrar leitor-cidade-escritor-obras. Só serviu para preencher a agenda cultural, isto é, ocupou espaços, não sentimentos e ações. Dessa forma, foi a tal mediocridade em forma de cultura. Também foi um fracasso capitalista. Todos os livreiros com que conversamos ficaram decepcionamos com o fluxo cultural-financeiro. Nem o pipoqueiro do lado de fora gostou. Ele disse: “a crise tá braba”. As viúvas de Renato Russo (essa burguesia socialite-socialista) estão matando nossa arte de todos os lados tentando preencher o vazio do amado com o primeiro idiota que aparece – diga-se de passagem que ele está muito longe dos padrões de estética, ética e produtividade do nosso tempo. Precisamos confessar que baixou o Trotsky no Renato na hora em que ele falou da burguesia.


Enquanto não percebermos a cultura que Brasília, eterna periferia cultural, realmente produz e obsecra por reconhecimento real, de fato, estaremos sujeitos às chamas da ignorância.

(Escrito por Fernando Fidelix Nunes e Renato Passos)

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