Em uma tarde de inverno, Renato e eu estávamos dispostos a escrever um poema em parceria. Ele disse que não gostava de nada imposto à sua efusiva criatividade. Falei: "deixa de frescura, porra! Vamos escrever logo". De imediato ele indagou qual seria o tema, e tão imediato quanto lhe respondi: "pode ser do livro que tá no seu sofá.... "A pele das cidades"... bom nome". Ele explicou: "são depoimentos de pessoas que moram na periferia do Distrito Federal. O livro propõe um protagonismo cultural proveniente da periferia" - sim, ele usou proveniente em sua fala. Ele propôs um soneto, sua especialidade, e eu falei que não precisava pensar num limite. Entretanto, quando ele disse que eu não dava conta de fazer um decassílabo senti Camões sussurrar: "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" e lá fui eu escrever com o meu estimado colega de letras os versos que se seguem.
a pele das cidades
a pele das
cidades tá rasgada!... (FF)
e sem mertiolate
pressa ferida, (RP)
aberta fica
diante tantas lidas, (RP)
ficamos sem fazer
mais... quase nada (FF)
no trânsito de
veias entupidas (FF)
cola poeira em
pele amarronzada... (RP)
e de novo com
passagem marcada!... (FF)
dramática
passagem!... mas só de ida (RP)
urbana pele e
suas tatuagens!... (RP)
que são pura
marca de eternidade! (FF)
infinito ficar!...:
quadro e paisagens! (RP)
no meio do caos,
não há mais verdade! (FF)
só há despedida,
ausência, viagens... (RP)
e cada um volta à
sua cidade (FF)
27/07/2018
renato passos / Fernando Fidelix
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