sexta-feira, 26 de abril de 2019

Diário: 1º de maio de 2012

(Ilustração feita por Enthony Keven exclusivamente para este blog)


1º de maio de 2012.

Voltei ao início do meu diário. Voltei a escrever um ano atrás. Pelo menos hoje foi feriado para a Giovana. Ela e meu filho fizeram o que eles chamam de “morgar”. Que expressão esquisita da minha família. Ficar falando esse tipo de bobagem para eles é uma espécie de libertação. Engraçado como as pessoas se libertam com qualquer coisa que vem na boca. Eles não mudaram em nada. Estão em trabalhos inúteis e fazendo muita brincadeira para se divertir. Eles têm um espírito de Peter Pan misturado com toques amorosos Malhação.

No fundo eu acho que tudo muda para não mudar nada. A minha relação mesmo com a minha família não tem nada de novo há muito tempo. Se tudo estivesse bem, que bom, mas agora as coisas andam numa mesmice tediosa aqui em casa. Pra ser sincera, só sinto emoção quando vou à padaria ultimamente. O coração tem desses rompantes platônicos.

Voltei a ler. Só que dessa vez reli o Carlos Drummond. Pena que não se escreve mais tão bem assim hoje em dia. Ele tem um poema que ele fala da pedra. Sim, uma pedra no meio do caminho toma conta do seu universo. Ele fica abstraído na pedra. A Giovana falou que ele falava esse tipo de coisa para criar muitos sentidos e chegou a dizer que era só uma pedra que ele viu e escreveu um poema que todo mundo adorou muito tempo depois que só falou depois. Na época ela foi tratado como um maluco. Eu queria ser uma maluca inteligente assim.

Se bem que a loucura é uma coisa boa às vezes.

sábado, 20 de abril de 2019

Poema A Saudade




A Saudade

Por onde anda você,
Que não vejo mais,
Que tanta falta faz?

No frio do inverno,
Queria te aquecer;
No calor da primavera,
Te ver florescer.

Quem me dera
Reviver as nossas estações,
Mas já não posso mais...
Será que a gente... nunca mais?

O tempo e a eternidade
Têm a exata resposta,
Mas preferem me deixar...
Simplesmente...  a saudade.
(Fernando Fidelix Nunes)

Vídeo de apresentação do canal apenacapital

Aproveitem nosso primeiro vídeo!



quinta-feira, 18 de abril de 2019

Diário: 30 de abril de 2012

(Ilustração feita por Enthony Keven exclusivamente para este blog)

30 de abril de 2012.

O Henrique resolveu devolver os dez mil reais para a Giovana. Ele disse que não ia mais precisar do dinheiro mais não. Agora como pode o Henrique dizer que não precisa mais de dez mil reais de uma hora para outra? Isso é muito estranho. Ele disse que deu um jeito e recebeu um dinheiro antigo do governo. Se eu pudesse ver a conta bancária dele, eu até conseguiria relaxar um pouco com isso para saber o que acontece. O ruim de não ter poder é não ser capaz de resolver as coisas da própria vida e de entender tudo que nos envolve. A censura silenciadora é mais forte do que qualquer massacre sanguinário da História humana. Se bem que eu nunca passei por nenhum dessas tragédias que são tema de aulas de história para contar.

A Giovana já começou a pesquisar um carro usado. Já achou um Peugeot, acho que se escreve assim. Eu fico meio assim com esses carros porque sempre são mais caros na hora da revisão, mas qualquer coisa o Henrique mesmo paga. Depois desse incidente, o Henrique deu uma olhada no Extra aqui de uma renovação aqui em casa para valer dessa vez. O governo diminuiu o imposto sobre o que os jornalistas todos pomposos chamam de linha branca. Eu chamo linha da escravidão feminina. Nossa! Como eu estou ácida hoje, mas no fundo acho que gosto disso.

Hoje tentei voltar a escrever num caderno. Abri o caderno, escrevi pouco mais de uma página e parei no início da segunda folha. Acho que não me sinto mais à vontade para escrever à mão. Tem duas coisas: eu acho que escrevo melhor no teclado do computador daqui de casa do que com a caneta. Outra coisa é o medo. Tenho medo de a minha felicidade clandestina ser descoberta pela minha família. Há coisas que precisam ficar em segredo na vida, o meu diário é uma delas. Peguei as folhas, rasguei-as e botei tudo no lixo. Voltei a escrever agora só. Ainda bem que aqui ninguém olha o lixo além de mim.

Hoje eu vi de longe o homem que veio falar comigo na padaria. Eu estava indo para o comércio e ele estava com um saco de pão na mão. Eram umas cinco da tarde. Acho que ele vai na padaria nesse horário normalmente. Talvez eu ande pela padaria nesse horário outro dia. 

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Diário: 19 de abril de 2012

(Ilustração feita por Enthony Keven para este blog)

19 de abril de 2012.

Semana passada foi realmente uma sexta-feira 13! A Giovana sofreu um acidente na rua. Um acidente não, um susto. Ela foi atropelada enquanto atravessava a faixa de pedestre. Eu não quis perguntar para não constranger ninguém, mas tenho certeza de que ela nem deu o sinal para atravessar a faixa. Por sorte, o carro freou a tempo e o motorista ainda a socorreu. Parece que ele estava até querendo pegar o telefone da Giovana, mas o Henrique não deu espaço e tomou conta da filha.

Depois de ir no hospital, as coisas voltaram ao normal aqui em casa. Ao normal por completo. A Giovana voltou a falar com o Henrique na maior paz. Até parece que nem brigaram por nada. A Giovana também foi hoje na Secretaria de Educação e conseguiu uma vaga como professora temporária no colégio na Asa Sul. Ela foi do Inferno ao Céu. Vai começar na semana que vem, assim que a papelada ficar pronta. Ela não vai ganhar muito, mas será o suficiente para ela ocupar a cabeça e não ocupar a vida dos outros tanto. Se bem que, pelo que ela falou, talvez ela até leve o almoço para o colégio.

Às vezes as coisas acontecem de forma bem esquisita na vida das pessoas. Quando a gente menos espera vem uma onda e nos surpreende. Hoje mesmo, na padaria um homem puxou conversa comigo. Ele fez umas 2 piadas na fila e falou mal do PT. Eu gostei e ele se despediu com uma cara que queria dizer “seria bom te ver de novo”. Às vezes eu também só queria dar um fugidinha.

Acho que terei muitas emoções daqui pra frente.


(Esta é uma ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Diário: 13 de abril de 2012

(Ilustração feita por Enthony Keven)

13 de abril de 2012.

Eu quase excluí o meu diário. Sei que jamais serei lida por alguém da minha família. Na verdade, eu espero nem ser lida por ninguém além de mim. A vida é um parque de diversões muito sem graça para a gente não ir no brinquedo predileto. Às vezes acho que o diário é a melhor coisa que eu tenho. Mas tenho tanto medo de ser lida. O que nós escrevemos para a gente não pode ser esquecido assim. Afinal, as palavras são mais perenes que o espírito.

Hoje foi uma sexta-feira 13 muito complicada aqui em casa. O Henrique e a Giovana discutiram feio de manhã e ela ainda não voltou para casa. Eles ficam discutindo por qualquer coisa. Perguntei para o Henrique o que aconteceu e ele só falou: “não foi nada! Não enche!”. Dizer isso é tão ruim quanto levar um tapa.

O Daniel vai ficar com a Rayane no fim de semana e nem tá sabendo de nada. Ele e a namorada andaram se estranhando numa conversa por telefone, mas logo fizeram as pazes de uma hora para outra. Reconciliação é uma coisa sempre boa quando queremos melhorar. Do contrário, é só para prolongar uma conveniência da vida, e de conveniências baratas o mundo está cheio. A vida bem que podia aprontar alguma coisa para me animar um pouco.

(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)