quinta-feira, 18 de abril de 2019

Diário: 30 de abril de 2012

(Ilustração feita por Enthony Keven exclusivamente para este blog)

30 de abril de 2012.

O Henrique resolveu devolver os dez mil reais para a Giovana. Ele disse que não ia mais precisar do dinheiro mais não. Agora como pode o Henrique dizer que não precisa mais de dez mil reais de uma hora para outra? Isso é muito estranho. Ele disse que deu um jeito e recebeu um dinheiro antigo do governo. Se eu pudesse ver a conta bancária dele, eu até conseguiria relaxar um pouco com isso para saber o que acontece. O ruim de não ter poder é não ser capaz de resolver as coisas da própria vida e de entender tudo que nos envolve. A censura silenciadora é mais forte do que qualquer massacre sanguinário da História humana. Se bem que eu nunca passei por nenhum dessas tragédias que são tema de aulas de história para contar.

A Giovana já começou a pesquisar um carro usado. Já achou um Peugeot, acho que se escreve assim. Eu fico meio assim com esses carros porque sempre são mais caros na hora da revisão, mas qualquer coisa o Henrique mesmo paga. Depois desse incidente, o Henrique deu uma olhada no Extra aqui de uma renovação aqui em casa para valer dessa vez. O governo diminuiu o imposto sobre o que os jornalistas todos pomposos chamam de linha branca. Eu chamo linha da escravidão feminina. Nossa! Como eu estou ácida hoje, mas no fundo acho que gosto disso.

Hoje tentei voltar a escrever num caderno. Abri o caderno, escrevi pouco mais de uma página e parei no início da segunda folha. Acho que não me sinto mais à vontade para escrever à mão. Tem duas coisas: eu acho que escrevo melhor no teclado do computador daqui de casa do que com a caneta. Outra coisa é o medo. Tenho medo de a minha felicidade clandestina ser descoberta pela minha família. Há coisas que precisam ficar em segredo na vida, o meu diário é uma delas. Peguei as folhas, rasguei-as e botei tudo no lixo. Voltei a escrever agora só. Ainda bem que aqui ninguém olha o lixo além de mim.

Hoje eu vi de longe o homem que veio falar comigo na padaria. Eu estava indo para o comércio e ele estava com um saco de pão na mão. Eram umas cinco da tarde. Acho que ele vai na padaria nesse horário normalmente. Talvez eu ande pela padaria nesse horário outro dia. 

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