domingo, 3 de novembro de 2019

Inveja da Ficção


Inveja da Ficção


Estive bastante ocupado nos últimos meses com atividades e problemas que diminuíram substancialmente a minha produção para blog. Mas estou de volta com meu trabalho, principalmente na data de hoje, em que completamos 2 anos de Pena Capital.

Sou sincero em dizer que tenho inveja do roteirista por trás da conjuntura brasileira atual. Creio que Machado de Assis, Clarice Lispector, Victor Hugo, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, Victor Hugo, Balzac, Tolstói, Dostoiévski, José Saramago e muitos outros grandes nomes da literatura seriam absolutamente incapazes de fazer qualquer texto literário com metade da complexidade da América do Sul atual. Ninguém seria capaz de imaginar personagens e ações tão atípicas e complexas em tão pouco tempo.

A Venezuela vive a maior crise, a capital do Equador chegou a ser alterada, a Bolívia vive uma profunda tensão política nas eleições, Chile vive um caos social que coloca em xeque o paradigma neoliberal e a Argentina não decide qual é o melhor modelo político a seguir desde o início deste século. Definitivamente, vemos um continente em indignação e perdido no caos. Nessa conjuntura, qualquer colocação ou previsão, por mais absurda que seja passa a ser verossímil, até mesmo para os analistas mais comprometidos e exigentes.

O Brasil também não podia ficar fora dessa zona da confusão. O nosso presidente tem o dom de criar crises e se queimar das maneiras mais toscas possíveis. Cogitou seriamente colocar seu filho como embaixador, mas, ainda bem, o Senado fritou essa ideia como um hambúrguer do estado do Maine. Para continuar a tragédia, nosso exibidor de faixa presidencial foi bancar o sincerão com um fanático seguidor e acabou iniciando uma profunda crise no seu partido de todos os lados. E ainda fica deixando ministros de baixíssimo nível, como o da Educação e do Meio Ambiente, fazerem trabalhos desprezíveis. O amigo do Queiroz também tem um dom verdadeiro de fazer os outros perderem tempo com suas bobagens, já que deixa o egoísmo e a vaidade tomarem conta de suas ações políticas e pessoais.

Por fim, há o personagem mais complicado de se entender: o grupo de pessoas que apoiam cegamente Bolsonaro. Em seu Twitter, principal fábrica de Golden Shower do país, ele fez uma comparação com o governo Dilma, parecido com o complexo do PT de se comparar o tempo todo com o FHC. Dentre os dados está a comparação entre o crescimento do PIB: -3,6% de Dilma contra +0,8% de Bolsonaro. Como pode um imbecil como Bolsonaro defender que um crescimento pífio e ridículo desses do PIB é algo para se comemorar? É absolutamente intangível colocar esse crescimento como algo para se orgulhar. O Brasil continua uma vergonha desde o início do segundo governo Dilma, e este governo não está sendo capaz de tirar o país da crise, pois perde muito tempo com bobagem e com decisões equivocadas.

No fundo, eu queria que fosse realmente uma ficção em que, ao se fechar o livro, voltamos para a realidade, mas, infelizmente, não será assim. Ainda viveremos um mundo ficcional complexo e surreal que desafiará nosso senso de realidade dia após dia.
(Fernando Fidelix Nunes)