Inveja da Ficção
Estive
bastante ocupado nos últimos meses com atividades e problemas que diminuíram
substancialmente a minha produção para blog. Mas estou de volta com meu
trabalho, principalmente na data de hoje, em que completamos 2 anos de Pena
Capital.
Sou
sincero em dizer que tenho inveja do roteirista por trás da conjuntura
brasileira atual. Creio que Machado de Assis, Clarice Lispector, Victor Hugo,
Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, Victor Hugo, Balzac, Tolstói,
Dostoiévski, José Saramago e muitos outros grandes nomes da literatura seriam
absolutamente incapazes de fazer qualquer texto literário com metade da
complexidade da América do Sul atual. Ninguém seria capaz de imaginar
personagens e ações tão atípicas e complexas em tão pouco tempo.
A
Venezuela vive a maior crise, a capital do Equador chegou a ser alterada, a
Bolívia vive uma profunda tensão política nas eleições, Chile vive um caos
social que coloca em xeque o paradigma neoliberal e a Argentina não decide qual
é o melhor modelo político a seguir desde o início deste século.
Definitivamente, vemos um continente em indignação e perdido no caos. Nessa
conjuntura, qualquer colocação ou previsão, por mais absurda que seja passa a
ser verossímil, até mesmo para os analistas mais comprometidos e exigentes.
O
Brasil também não podia ficar fora dessa zona da confusão. O nosso presidente
tem o dom de criar crises e se queimar das maneiras mais toscas possíveis.
Cogitou seriamente colocar seu filho como embaixador, mas, ainda bem, o Senado
fritou essa ideia como um hambúrguer do estado do Maine. Para continuar a
tragédia, nosso exibidor de faixa presidencial foi bancar o sincerão com um
fanático seguidor e acabou iniciando uma profunda crise no seu partido de todos
os lados. E ainda fica deixando ministros de baixíssimo nível, como o da
Educação e do Meio Ambiente, fazerem trabalhos desprezíveis. O amigo do Queiroz
também tem um dom verdadeiro de fazer os outros perderem tempo com suas
bobagens, já que deixa o egoísmo e a vaidade tomarem conta de suas ações
políticas e pessoais.
Por
fim, há o personagem mais complicado de se entender: o grupo de pessoas que
apoiam cegamente Bolsonaro. Em seu Twitter, principal fábrica de Golden Shower
do país, ele fez uma comparação com o governo Dilma, parecido com o complexo do
PT de se comparar o tempo todo com o FHC. Dentre os dados está a comparação
entre o crescimento do PIB: -3,6% de Dilma contra +0,8% de Bolsonaro. Como pode
um imbecil como Bolsonaro defender que um crescimento pífio e ridículo desses
do PIB é algo para se comemorar? É absolutamente intangível colocar esse
crescimento como algo para se orgulhar. O Brasil continua uma vergonha desde o
início do segundo governo Dilma, e este governo não está sendo capaz de tirar o
país da crise, pois perde muito tempo com bobagem e com decisões equivocadas.
No
fundo, eu queria que fosse realmente uma ficção em que, ao se fechar o livro, voltamos
para a realidade, mas, infelizmente, não será assim. Ainda viveremos um mundo
ficcional complexo e surreal que desafiará nosso senso de realidade dia após
dia.
(Fernando Fidelix Nunes)