sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Diário: 15 de novembro de 2011

(Ilustração feita por Enthoy Kevin exclusivamente para este blog)


15 de novembro de 2011.
               
Neste feriado senti orgulho do Daniel. Ele nem viajou com aqueles amigos dele. Ficou com a Rayane aqui em casa estudando e vendo filmes. Como uma mulher é capaz de mudar um homem. Conheci muita gente que tinha um vazio em sua vida que só podia ser preenchido por alguém que amasse bastante. Tinha um colega meu da 8ª série que tinha 18 pra 19 anos e não estudava nada. Ele se chamava Dorivaldo. Ele não aprendia muito nem se esforçava com nada. Ele era aquele tipo de pessoa que preferia ser levado para o lado errado pelos outros do que andar com os próprios pés para o lado certo.

Dorivaldo tinha tudo para ser um sem futuro que ia puxar uma enxada até o fim da vida, até que conheceu a Glória, que o levou para um caminho melhor. Ele começou a estudar e até se tornou um enfermeiro e tanto. Casou com a Glória e vivem juntos, pelo que eu sei, até hoje. Eu acho que a vida é meio assim mesmo. Uma grande paixão pode mudar tudo no nosso coração, independentemente do resto. A vida tem outro gosto quando estamos amando. É como se ela ganhasse cores em um filme preto e branco. É como no rádio: no meio das interferências que produzem sons que machucam a nossa alma, encontramos a sintonia perfeita. Tomara que o Daniel encontre o amor dele com a Rayane, finalmente.

Eu cheguei a amar o Henrique, mas de uns 10 anos pra cá as coisas pioraram muito. Parece que a responsabilidade de cuidar dos filhos nos unia mais. Quando eles cresceram, o fim da infância deles levou o nosso amor. E agora? O que temos para esta vida amarga? Falando assim parece até que a minha vida acabou. Acho que eu podia pensar em fazer uma faculdade para ver se melhoro alguns caminhos do meu dia a dia. Ler livros e escrever trabalhos e questionários são coisas muito melhores do que passar o resto da vida lavando roupa, panelas, pratos e limpando o chão que os outros pisam. Achei muito melhor ler o livro do Fernando Pessoa do que tudo que eu faço o resto do dia. A Giovana podia fazer isso, mas prefere ficar vendo besteira no computador.

Minha filha parece querer o namorado dela mais do que tudo. No fundo, ela acha que ele é a solução de todos os problemas da sua vida, mas não é. Ela precisa de um caminho em sua vida, mas que caminho a levará para outro lugar? Se ela me ouvisse, eu diria que é ela ajeitar a própria vida em vez de ficar procurando a felicidade nos outros. Eu diria para olhar para mim para saber aonde isso me levou. Mas ela não escuta, ela nunca escutará.


(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)

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