sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A Felicidade Não É Deste Mundo


A Felicidade Não É Deste Mundo



Definitivamente, o preceito cristão de que a felicidade não é deste mundo nunca foi tão verdadeiro para mim quanto agora. O Brasil está à beira do abismo político e cultural como nunca esteve antes. No âmbito nacional estamos divididos entre Haddad, um homem com alguma habilidade política que foi o dedaço do Lula, e Bolsonaro, um frouxo fujão de debates que flerta com o totalitarismo e exalta a diminuição da dignidade humana.

Antes de continuar a minha reflexão, vejo-me na obrigação de indagar: onde estavam a imprensa e os poderes desta República para denunciar a fala de Eduardo Bolsonaro? Demorar mais de 100 dias para exigir uma retratação é um atestado de incompetência pura. Um deputado federal falar o que falou é um absurdo. Três anos atrás o nosso então Ministro da Educação, Cid Gomes, falou que o Congresso era composto por centenas de achacadores, o que lhe rendeu um “convite” para prestar contas diante do Congresso. E Dudu Bolsonaro? Publicou desculpas no Twitter e ouviu rascunhos de sermões prolixos. Neste momento, o Judiciário deveria ter uma presença democrática mais consistente e não dar respostas rebuscadas incompreensíveis ao cidadão comum que passou 12 horas fora de casa e assiste na televisão ou no celular a pronunciamentos insignificantes.

Voltando à falta de felicidade neste mundo, ficaremos tristes de todo jeito. Isso é um fato incontestável que acontece desde que este mundo é mundo. Bolsonaro não será capaz de levar o país a um desenvolvimento sustentável e todo dia vai ter de lidar com a oposição, o que não será nada fácil, tendo-se em vista a institucionalidade democrática. Haddad tem dificuldade até de lidar com o seu palanque, quanto mais com um país que implora por uma liderança capaz de tirá-lo do buraco sem fundo em que nos metemos. Contudo, Haddad tem uma vantagem que o deixa muito acima do rival: preza pela liberdade. E, como dizia Nelson Rodrigues, “a liberdade é mais importante que o pão” – e olha que esse escritor passou fome durante um bom tempo.

Apesar dos medos que tomam conta de milhões de brasileiros, sejamos sinceros: não seremos felizes de jeito nenhum. A felicidade não é para este mundo. Inclusive, a doutrina espírita ensina que existem outros mundos mais evoluídos para os quais vamos conforme evoluímos espiritualmente depois que passamos deste planeta, que é de provas e expiações. Religião à parte, o Brasil é um país de provas e expiações. O nosso sofrimento parece não ter fim. Olhamos para a nossa bandeira e temos vergonha da maneira como ela é usada pela política; pensamos na educação e sofremos com dados e realidades vergonhosas; lamentamos as misérias morais e econômicas – se as compararmos, obviamente, às nossas infinitas potencialidades –; tememos não sobreviver à violência; odiamos a leitura inteligente, como o Diabo odeia a boa ação; e não sabemos administrar os incontáveis conflitos familiares, que semeiam dia após dia a corrosão da alma muito mais do que qualquer questão política.

Por fim, não poderia deixar de falar da política do nosso Distrito Federal. Ambos os candidatos são uma vergonha. Sofreremos bastante com seus desgovernos futuros. Um tem uma rejeição inédita, e o outro é um cara que faz propagandas que flertam com o lado mais tosco do rorizismo, que parecia estar enterrado nesta primavera. Pelo menos, no fim das contas, Ibaneis diz que sabe abraçar as pessoas, o que tem o seu valor para tempos quase inconsoláveis.


(Fernando Fidelix Nunes)

2 comentários:

  1. Em parte, é melhor ser infeliz "livre" :(

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  2. "A felicidade mora aqui comigo até segunda ordem" (Renato Russo). A segunda ordem é o dia 01/01/2019. Ficou massa, Fernando!

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