A Felicidade Não É Deste Mundo
Definitivamente,
o preceito cristão de que a felicidade não é deste mundo nunca foi tão
verdadeiro para mim quanto agora. O Brasil está à beira do abismo político e
cultural como nunca esteve antes. No âmbito nacional estamos divididos entre
Haddad, um homem com alguma habilidade política que foi o dedaço do Lula, e
Bolsonaro, um frouxo fujão de debates que flerta com o totalitarismo e exalta a
diminuição da dignidade humana.
Antes
de continuar a minha reflexão, vejo-me na obrigação de indagar: onde estavam a
imprensa e os poderes desta República para denunciar a fala de Eduardo
Bolsonaro? Demorar mais de 100 dias para exigir uma retratação é um atestado de
incompetência pura. Um deputado federal falar o que falou é um absurdo. Três
anos atrás o nosso então Ministro da Educação, Cid Gomes, falou que o Congresso
era composto por centenas de achacadores, o que lhe rendeu um “convite” para
prestar contas diante do Congresso. E Dudu Bolsonaro? Publicou desculpas no
Twitter e ouviu rascunhos de sermões prolixos. Neste momento, o Judiciário
deveria ter uma presença democrática mais consistente e não dar respostas
rebuscadas incompreensíveis ao cidadão comum que passou 12 horas fora de casa e
assiste na televisão ou no celular a pronunciamentos insignificantes.
Voltando
à falta de felicidade neste mundo, ficaremos tristes de todo jeito. Isso é um
fato incontestável que acontece desde que este mundo é mundo. Bolsonaro não
será capaz de levar o país a um desenvolvimento sustentável e todo dia vai ter
de lidar com a oposição, o que não será nada fácil, tendo-se em vista a
institucionalidade democrática. Haddad tem dificuldade até de lidar com o seu
palanque, quanto mais com um país que implora por uma liderança capaz de
tirá-lo do buraco sem fundo em que nos metemos. Contudo, Haddad tem uma
vantagem que o deixa muito acima do rival: preza pela liberdade. E, como dizia
Nelson Rodrigues, “a liberdade é mais importante que o pão” – e olha que esse
escritor passou fome durante um bom tempo.
Apesar
dos medos que tomam conta de milhões de brasileiros, sejamos sinceros: não
seremos felizes de jeito nenhum. A felicidade não é para este mundo. Inclusive,
a doutrina espírita ensina que existem outros mundos mais evoluídos para os
quais vamos conforme evoluímos espiritualmente depois que passamos deste
planeta, que é de provas e expiações. Religião à parte, o Brasil é um país de
provas e expiações. O nosso sofrimento parece não ter fim. Olhamos para a nossa
bandeira e temos vergonha da maneira como ela é usada pela política; pensamos
na educação e sofremos com dados e realidades vergonhosas; lamentamos as
misérias morais e econômicas – se as compararmos, obviamente, às nossas
infinitas potencialidades –; tememos não sobreviver à violência; odiamos a
leitura inteligente, como o Diabo odeia a boa ação; e não sabemos administrar
os incontáveis conflitos familiares, que semeiam dia após dia a corrosão da
alma muito mais do que qualquer questão política.
Por
fim, não poderia deixar de falar da política do nosso Distrito Federal. Ambos
os candidatos são uma vergonha. Sofreremos bastante com seus desgovernos
futuros. Um tem uma rejeição inédita, e o outro é um cara que faz propagandas
que flertam com o lado mais tosco do rorizismo, que parecia estar enterrado
nesta primavera. Pelo menos, no fim das contas, Ibaneis diz que sabe abraçar as
pessoas, o que tem o seu valor para tempos quase inconsoláveis.
(Fernando Fidelix Nunes)
Em parte, é melhor ser infeliz "livre" :(
ResponderExcluir"A felicidade mora aqui comigo até segunda ordem" (Renato Russo). A segunda ordem é o dia 01/01/2019. Ficou massa, Fernando!
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