(Ilustração feita por Enthony Vieira exclusivamente para este blog)
2 de novembro de 2011.
Nascer
no dia dos mortos deve ser uma sentença de que a pessoa carregará consigo uma
energia terrível por toda a sua limitada existência. Deve ser o tipo de pessoa
que traz a morte nos olhos e nas suas ações. Na verdade, eu estou só
especulando. O Daniel mesmo nasceu no 7 de setembro e não dá conta de fazer
nada que preste sozinho. Não me lembro nunca de ter conhecido ou de ter ido ao
aniversário de alguém que nasceu no dia dos mortos. Mas eu também nem conheço
tanta gente assim para falar das pessoas. Só conheço mesmo a minha família, e
olhe lá.
Conheci
muita gente nesta vida, mas é como se eu não conhecesse ninguém de verdade.
Sabe, conhecemos as pessoas por máscaras. Atrás de cada atuação existe uma
história e uma profundidade tremenda. Pego isso pelo livro do Fernando Pessoa
mesmo. O personagem dele, na ficção, deveria ser visto como apenas um homem
esquisito que não tinha muito a oferecer às pessoas, daí ele deixou uma obra
maravilhosa e profunda. Acho que se as pessoas escrevessem, deixariam coisas
maravilhosas de seus corações para as outras pessoas. Afinal, nem tudo é o que
parece.
Acho
que a Rayane domou o Daniel de um jeito muito estranho. Ele era um bêbado que
não estava levando nada a sério neste mundo. É como se ela tivesse domado o
espírito bruto do meu filho e tivesse trazido uma paz a ele impressionante. O
estranho é que eu não entendo muito bem o porquê disso. Acho que foi só pelo
sexo mesmo, porque eles são diferentes em tudo. Ela é bem mais quieta e na dela.
Quando sai, é para ir com as amigas para um bar bem discreto ou uma dessas
festa de rock. Não vi ela até agora falando de bebida com a gente nem de nada
exagerado. No fim eu gostei dela, ela conversa com uma voz divertida tão bem
sobre tantas coisas que estão ao nosso redor que eu me sinto meio hipnotizada
por ela. O Henrique também aprovou a menina.
Agora
a Giovana com esse argentino dela não tá com nada. Como pode uma menina que eu
criei com tanto carinho ter ficado tão boba? Namorar alguém por ser um
estrangeiro depois de uma aventura de semanas é um atestado de carência e
estupidez. Mas a vida é cheia dessas idiotices. Afinal, só temos duas certezas
nesta vida: que vamos morrer e cometer erros vergonhosos. Isso é muito fácil de
falar, mas muito difícil de viver. Fico com pena da minha filha. Não deve ser
nada bom ter um relacionamento assim. O pior que ela quer que o namorado venha
para cá. Pelo visto o Henrique não gostou nada da ideia, mas isso só vai se
resolver lá para dezembro ou janeiro.
Eu
estou falando muito dessas coisas, mas não tenho muita moral para falar a
respeito de relacionamentos. Casei com um homem que é incapaz de se abrir de
verdade para mim. Não sei o que vai ser daqui pra frente, mas é provável que
nada mude de verdade. Eu penso em muitas coisas que podem acontecer, mas no fim
eu sei que nada vai mudar. Comigo, tudo muda para não mudar nada.
Pensei
na minha mãe esses dias. Realmente, era uma mulher maravilhosa. Pena que ela
não está aqui para me ouvir e me orientar mais. A gente sempre pensa que as
coisas não vão acontecer conosco, mas acontecem. Nunca pensei que iria perdê-la
assim. Só que a vida não para e nós temos que continuar e sermos fortes diante
de tudo que está na nossa frente. Pena que eu não sou capaz de olhar para o
futuro com um olhar positivo. Se o país pelo menos me animasse um pouco, mas
não anima nem um pouco dentro de mim.
(Esta é uma obra de ficção escrita por Fernando Fidelix Nunes)
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