(Ilustração feita por Leonardo B. Ferreira para esta obra literária)
30 de novembro de 2011.
Não
sei por que inventaram esse Dia do Evangélico. Tudo bem que cada um tenha a sua
religião e seja respeitado por isso, mas criar um feriado no Distrito Federal
para isso é demais. Até saiu uma reportagem no jornal na hora do almoço em que
ninguém sabia direito que feriado era esse. Vai entender esse país. Isso deve
ser coisa de político que quer ganhar voto porque o número de crentes só está
aumentando cada dia mais.
As
pessoas andam virando cada vez mais crentes. Tem até programa na televisão
aberta todo dia falando na glória do nosso Senhor Jesus Cristo. Os pastores
ficam evocando a imagem de Deus e falando mal dos vícios de cada um. Eles falam
muito do vício de bebida. Sempre que eu vejo a televisão tem um indivíduo que
foi resgatado do mundo do pecado pelo nosso Senhor Jesus Cristo. Eles contam
histórias que são capazes de emocionar muita gente. Não me emociona, mas engana
muita gente. Acho que é muito teatro para pouco milagre. E tem muito pastor por
aí que me parece mais preocupado em pedir dinheiro do que em salvar as almas
perdidas desse mundo. Se até em igreja é difícil encontrar santo, imaginem só
na vida do dia a dia.
Talvez
seja pelo dia a dia ser tão difícil que as pessoas acabem fugindo para o mundo
dos deuses. Só os deuses são capazes de nos dar sentido para o que nós
sentimos. Na verdade, ando pensando que nós ficamos sempre procurando sentido
por esporte. Talvez por isso que tanta gente gosta de ler. A leitura é uma
busca por sentido sem fim na nossa mente. Fernando Pessoa se aproveitou muito
disso nos livros que ele escreveu. Pelo menos no Livro do Desassossego é assim
mesmo: busca-se sentido para cada fragmento da vida que se revela na nossa
insignificante existência.
Falando
em hora do almoço, a Giovana e o Henrique discutiram feio. Ela tentou convencer
o Henrique a mudar de ideia, mas ele não mudou. Por ele, nada de argentino por
aqui. Ele que pague um hotel para ele. A Giovana começou a falar que aquilo não
era bem assim e que ela tinha direito a receber o namorado aqui em casa. As
coisas ficaram cada vez mais tensas até que o Daniel e eu conseguimos
desconversar falando da Rayane, mas eu percebi que a coisa vai ficar muito
difícil daqui pra frente.
Depois
de tudo que aconteceu, cheguei à conclusão de que o almoço é a hora sagrada
para a briga em família. As pessoas parecem que guardam toda a raiva do dia
anterior que não conseguiram diluir no sono e a vomitam na mesa enquanto comem.
Não fazem isso na hora do jantar para não atrapalharem o sono para aguentar
mais um dia. Estranha esta vida. Muito estranha. Talvez com a Glória do nosso
Senhor Jesus Cristo isso mude, mas acho que milagre não dá conta disso.
(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)
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