sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Diário: 30 de novembro de 2011

(Ilustração feita por Leonardo B. Ferreira para esta obra literária)


30 de novembro de 2011.

Não sei por que inventaram esse Dia do Evangélico. Tudo bem que cada um tenha a sua religião e seja respeitado por isso, mas criar um feriado no Distrito Federal para isso é demais. Até saiu uma reportagem no jornal na hora do almoço em que ninguém sabia direito que feriado era esse. Vai entender esse país. Isso deve ser coisa de político que quer ganhar voto porque o número de crentes só está aumentando cada dia mais.

As pessoas andam virando cada vez mais crentes. Tem até programa na televisão aberta todo dia falando na glória do nosso Senhor Jesus Cristo. Os pastores ficam evocando a imagem de Deus e falando mal dos vícios de cada um. Eles falam muito do vício de bebida. Sempre que eu vejo a televisão tem um indivíduo que foi resgatado do mundo do pecado pelo nosso Senhor Jesus Cristo. Eles contam histórias que são capazes de emocionar muita gente. Não me emociona, mas engana muita gente. Acho que é muito teatro para pouco milagre. E tem muito pastor por aí que me parece mais preocupado em pedir dinheiro do que em salvar as almas perdidas desse mundo. Se até em igreja é difícil encontrar santo, imaginem só na vida do dia a dia.

Talvez seja pelo dia a dia ser tão difícil que as pessoas acabem fugindo para o mundo dos deuses. Só os deuses são capazes de nos dar sentido para o que nós sentimos. Na verdade, ando pensando que nós ficamos sempre procurando sentido por esporte. Talvez por isso que tanta gente gosta de ler. A leitura é uma busca por sentido sem fim na nossa mente. Fernando Pessoa se aproveitou muito disso nos livros que ele escreveu. Pelo menos no Livro do Desassossego é assim mesmo: busca-se sentido para cada fragmento da vida que se revela na nossa insignificante existência.

Falando em hora do almoço, a Giovana e o Henrique discutiram feio. Ela tentou convencer o Henrique a mudar de ideia, mas ele não mudou. Por ele, nada de argentino por aqui. Ele que pague um hotel para ele. A Giovana começou a falar que aquilo não era bem assim e que ela tinha direito a receber o namorado aqui em casa. As coisas ficaram cada vez mais tensas até que o Daniel e eu conseguimos desconversar falando da Rayane, mas eu percebi que a coisa vai ficar muito difícil daqui pra frente.  

Depois de tudo que aconteceu, cheguei à conclusão de que o almoço é a hora sagrada para a briga em família. As pessoas parecem que guardam toda a raiva do dia anterior que não conseguiram diluir no sono e a vomitam na mesa enquanto comem. Não fazem isso na hora do jantar para não atrapalharem o sono para aguentar mais um dia. Estranha esta vida. Muito estranha. Talvez com a Glória do nosso Senhor Jesus Cristo isso mude, mas acho que milagre não dá conta disso.

(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)

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