sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Diário: 5 de dezembro de 2011

(Ilustração feita por Enthony Kevin exclusivamente para este blog)


5 de dezembro de 2011.

A gente começou esta semana sabendo que o Natal vai ser na casa da Dona Aurora. Isso não é nenhuma novidade. Uma vez tentamos organizar aqui em casa isso, mas não deu muito certo. Anda chovendo tanto aqui, que parece que o céu está derramando as lágrimas do meu coração. Mais um ano sem sentido se passou para mim. Pelo menos eu vi o Daniel melhorando um pouco, mas não vai ser nada demais no fim das contas. Se a Rayane largar o meu filho, eu não sei o que vai ser dele. Eu lembro dele dizer uma palavra bem engraçada pra quando ia fazer bobagem: despirocar. Como pode esse povo falar cada palavra horrorosa dessas. Mas o erro foi meu que não bati o suficiente no meu filho.

Eu vou acabar tendo que ir no Conjunto Nacional com o Henrique para comprar algumas coisas para a família. Andar no Conjunto nessa época é como passar por um museu de grandes novidades, como dizia o Cazuza. A gente consegue perceber na hora de fazer compras como o mundo ao nosso redor é. As pessoas parecem que se moldam na hora de comprar as coisas. É impressionante como tem coisas que não mudam nunca. Disco “novo” do Roberto Carlos e produto da Xuxa para crianças é o que não falta. O Roberto Carlos ainda vai porque ele compôs muita coisa boa, mas a Xuxa não dá para engolir.

Nos meus mais de 50 anos de vida, eu não vi até hoje uma pessoa dizer que a Xuxa canta bem. Como pode o nosso país se pautar pela mediocridade desse jeito. Colocaram a Xuxa e usaram ela de todo jeito para ganhar dinheiro. Música infantil, programa de auditório, filme, seriados infantis e tudo que a gente puder imaginar a Xuxa já fez. A culpa é dela? Claro que não! É do próprio povo, que gosta de enaltecer pessoas sem talento. Às vezes parece que as pessoas vivem critérios pelo avesso: quanto pior a qualidade, maior o valor e o prestígio. O que mais a gente pode esperar de um povo que enaltece isso? Só existe gente idiota e medíocre com prestígio porque existem pessoas tão medíocres quanto elas para gastar dinheiro com isso, principalmente na época de Natal. A nossa “presidenta” é um outro exemplo disso.

Agora vai ser muito bom comprar umas coisinhas para mim. Ando precisando, como dizem na televisão, dar uma repaginada em mim. O Natal é a melhor época para mudarmos por fora quem somos por dentro. Melhor dizendo: é a melhor época para praticarmos o fingimento. Acho que vou até fingir que aceito o William do jeito que ele se autointitula: Alana. O fingimento no Natal é como um pacto da falsidade para tentar mostrar ao mundo que nosso lado mais obscuro pode ser iluminado pelo nascimento de Cristo. Para a maioria das pessoas, Cristo está muito mais nas palavras do que no coração e parece que ultimamente quanto mais as pessoas usam Cristo em suas palavras, mais pilantras elas são. A minha dúvida é: o que Cristo diria de tudo isso? Só Deus sabe!


(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes exclusivamente para este blog)

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