sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Diário: 17 de novembro de 2011

(Ilustração feita por Enthony Kevin exclusivamente para este blog)


17 de novembro de 2011.


O final de semana chegou e eu me pego escrevendo este diário enquanto todas as pessoas ao meu redor saem para se divertir. Sinto-me profundamente só. O Henrique ligou para avisar que vai sair para tomar uma cerveja com os amigos dele, a Giovana resolveu sair com as amigas dela dos tempos e UnB e o Daniel vai sair com a Rayane e até vai dormir na casa dela. Antes isso de dormir na casa de namorado ou namorada era um verdadeira escândalo, mas hoje todo mundo acha normal. Ando achando que ninguém pensa muito em mim aqui nesta casa. As pessoas parecem que olham para mim e atravessam o olhar sem perceber quem eu sou e que eu tenho necessidades tão normais quanto todo mundo.

Sobrou-me cozinhar para mim mesma, assistir a um pouco de televisão e esperar os outros. Engraçado que a minha vida não faz sentido por si só. Eu dependo dos outros para viver. Sem as pessoas à minha volta, eu não seria capaz de fazer nada. Engraçado que eu não sinto isso com as outras pessoas. Se eu simplesmente deixasse de existir, não haveria problema. No fundo as pessoas iam acabar se virando para fazer as coisas e iam sobreviver a tudo que lhes cerca. Eu não. Para quem eu ia cozinhar? De quem eu ia falar? Com quem eu conversaria esse tempo todo? Aqui em casa, nesse silêncio, enquanto o mundo vibra com a expectativa de um final de semana, eu só espero que o tempo passe e que as pessoas ao meu redor voltem para casa. Só isso que eu quero, mais nada.

Agora o tempo deixou de ser meu amigo. Quando a gente é jovem, o tempo sempre parece que vai nos ajudar. Olhamos o calendário e pensamos que no futuro tudo se resolverá facilmente. O corpo e a alma vão definhando aos poucos. Quando eu tinha 12 anos sonhava em ter 25 para poder viver uma vida melhor e mais plena. Hoje eu não quero nem imaginar como seria a minha vida aos 100 anos. Só de pensar eu fico arrepiada.

E o futuro próximo traz ainda uma reunião de fim de ano. Às vezes eu queria tirar umas férias para deixar isso de lado, mas não se tira férias da família. Minto, não se tira férias da família que mora na mesma cidade. A gente só continua vendo a família da mesma forma nas festas. Natal é sempre aquela falsidade toda. Sem ninguém querendo fazer nada pela outra pessoa de verdade. Tirando as crianças, os adultos esperam só a melhor hora para irem embora. Vamos ver como vai ser, porque hoje a inspiração não está nem um pouco perto de mim. Não sei nem por que fui escrever. Na verdade, sei sim. Para desabafar um pouco.

(Esta é uma obra de ficção escrita por Fernando Fidelix Nunes)

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