sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Diário: 19 de dezembro de 2011

(Ilustração feita por Enthony Vieira)

19 de dezembro de 2011.

Hoje eu aproveitei para andar um pouco pela quadra depois do almoço. Arrumei um pretexto qualquer e resolvi sair sem ser incomodada. Passei pela paróquia aqui perto de casa e rezei um pouco na frente da igreja. Sem entrar, pois não queria dar a Deus o tempo que guardava pra mim.

Andando pela quadra reparei em muita coisa, mas teve uma que me fez parar para pensar bastante: como nossos bancos são vazios. Aqui na Asa Norte não faltam lugares para as pessoas sentarem e conversarem. Tem um bloco aqui na quadra cheio de bancos na parte de dentro e de fora. Só que nunca tem ninguém para sentado neles conversando. Fiquei com a impressão de que se eles desaparecessem ninguém sentiria a sua falta. Poderiam até se enganar dizendo que não poderiam mais ficar lá, sendo que nunca ficaram. Às vezes a gente fica se enganando muito nesta vida. Do jeito que esse povo é, tinha gente que era capaz de fazer abaixo-assinado e até manifestação pelos bancos que nunca usam só para fazer pose de pessoas conscientes. Esse mundo é muito estranho mesmo.

Lá no interior as pessoas não precisam nem de banco para sentar. Com dois bancos já transformam qualquer lugar em praça para as pessoas fazerem qualquer coisa. Talvez seja por isso que ninguém sabe da vida de ninguém aqui na Asa Norte. No interior, gente que você nunca viu sabe tudo da sua vida. Tem fofoqueira solteirona capaz de falar toda a vida das pessoas da cidade, principalmente dos defeitos de cada um. Acho que todo mundo aqui na cidade é capaz de falar dos defeitos dos outros, mas como ninguém faz questão de se falar, ninguém fica sabendo de nada.

Cada dia é uma nova reflexão que nos invade e toma a nossa atenção por instante que se perde na eternidade. Daqui a um ano nem vou me lembrar do que aconteceu hoje. Bem, talvez o diário me ajude a lembrar melhor o que aconteceu, mas só se eu inventar de lê-lo outra vez. Na verdade, eu nem sei se eu vou estar escrevendo no ano que vem. Vai saber como as coisas serão.

(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)

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