(Ilustração feita por Enthony Vieira)
19 de dezembro de 2011.
Hoje
eu aproveitei para andar um pouco pela quadra depois do almoço. Arrumei um
pretexto qualquer e resolvi sair sem ser incomodada. Passei pela paróquia aqui
perto de casa e rezei um pouco na frente da igreja. Sem entrar, pois não queria
dar a Deus o tempo que guardava pra mim.
Andando
pela quadra reparei em muita coisa, mas teve uma que me fez parar para pensar
bastante: como nossos bancos são vazios. Aqui na Asa Norte não faltam lugares
para as pessoas sentarem e conversarem. Tem um bloco aqui na quadra cheio de
bancos na parte de dentro e de fora. Só que nunca tem ninguém para sentado
neles conversando. Fiquei com a impressão de que se eles desaparecessem ninguém
sentiria a sua falta. Poderiam até se enganar dizendo que não poderiam mais
ficar lá, sendo que nunca ficaram. Às vezes a gente fica se enganando muito
nesta vida. Do jeito que esse povo é, tinha gente que era capaz de fazer
abaixo-assinado e até manifestação pelos bancos que nunca usam só para fazer
pose de pessoas conscientes. Esse mundo é muito estranho mesmo.
Lá
no interior as pessoas não precisam nem de banco para sentar. Com dois bancos
já transformam qualquer lugar em praça para as pessoas fazerem qualquer coisa.
Talvez seja por isso que ninguém sabe da vida de ninguém aqui na Asa Norte. No
interior, gente que você nunca viu sabe tudo da sua vida. Tem fofoqueira
solteirona capaz de falar toda a vida das pessoas da cidade, principalmente dos
defeitos de cada um. Acho que todo mundo aqui na cidade é capaz de falar dos
defeitos dos outros, mas como ninguém faz questão de se falar, ninguém fica
sabendo de nada.
Cada dia é uma
nova reflexão que nos invade e toma a nossa atenção por instante que se perde
na eternidade. Daqui a um ano nem vou me lembrar do que aconteceu hoje. Bem,
talvez o diário me ajude a lembrar melhor o que aconteceu, mas só se eu
inventar de lê-lo outra vez. Na verdade, eu nem sei se eu vou estar escrevendo
no ano que vem. Vai saber como as coisas serão.
(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)
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