sábado, 23 de março de 2019

Diário: 12 de março de 2012

(Ilustração feita por Enthony Keven exclusivamente para este blog)


12 de março de 2012.

Hoje escrevo só para manter o hábito. O hábito de escrever é o hábito de viver por natureza. Acho que é o momento em que me sinto viva e não uma máquina... uma máquina de lavar, passar, cozinhar, cuidar, limpar... uma máquina da vida e para a vida. Ser uma máquina tem a vantagem de massagear a dor inexistente. A dor passa a ser um detalhe a ser ignorado. A vida não é nada fácil.

O Henrique deve estar ainda muito próximo da Tereza. Esse negócio de celular pré-pago é muito ruim. Antes a gente sabia todos os telefones que tinham ligado para o telefone da casa, que é de todo mundo. Daí dava para ver quem ligou e por quanto tempo falou. E isso era feito de forma discreta. Fico imaginando quantas traições foram descobertas assim.

Agora, com o celular pré-pago, cada um fica cuidando da sua vida. Isso é bom para as pessoas fazerem coisa errada. Dizem que a tecnologia só serviu para ajudar as pessoas a serem melhores. Mentira. A tecnologia é a maior arma para os vícios e mistérios obscuros do ser humano. A vida é assim, bastante sem sentido.

Meu filho é a única pessoa que segue um caminho na estrada da vida. Só que a vida é longa e cheio de barrancos. No fundo eu tenho medo de que ele faça com a Rayane a mesma coisa que o Henrique fez comigo. Mas é difícil, pois ele, mesmo melhorando muito, é incapaz de conseguir o emprego do Henrique e comprar um apartamento na Asa Norte. A vida é assim, bastante complicada.


(Esta é uma ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)

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