sexta-feira, 1 de março de 2019

O País do Carnaval

(Ilustração feita por Enthony Keven)




O País do Carnaval


O problema do ser humano não são os seus sonhos, mas os seus desejos. Essa ideia não sai da minha cabeça já faz algum tempo. Quando eu estou no trânsito, na sala de aula ou até mesmo na academia, essa ideia me assalta o pensamento. Tenho acreditado que os sonhos das pessoas são belos, idealizados e agregadores de transformações positivas, tal como um poema romântico da primeira parte de Lira dos Vinte Anos ou crítico como o Navio Negreiro. Já os desejos são egoístas, despreocupados e inconsequentes, como a sordidez de Brás Cubas e a canalhice de Bentinho. Ainda vou achar uma explicação mais completa para isso. Afinal, a vida é longa e não precisamos de pressa para resolver os enigmas da Esfinge, já que podemos controlar a angústia de sermos controlados por uma dúvida. Sim, podemos controlar nossas angústias mais agudas, basta aprendermos como. Por enquanto, falaremos de outras coisas ou dessa mesma ideia com as suas consequências.

O Brasil está uma vergonha lastimável. Boa parte dos meus alunos é capaz de falar 10 minutos sobre uma obra literária, mesmo que não tenham lido o livro. O presidente brasileiro não foi capaz de fazer um discurso detalhado sobre o que fará para o Brasil ser um país melhor. Objetividade é algo que se deve procurar em textos formais, mas não é desculpa para uma argumentação rasa. Hoje, mais do que nunca, precisamos ser específicos para resolver o Brasil, pois o Brasil não se resolverá sozinho e ao acaso. O Enem cobra isso na redação por meio da competência 5: a elaboração de uma proposta de intervenção. O presidente que já se gabou de que tiraria uma nota melhor que outros políticos no Enem, dificilmente tiraria uma nota decente nessa competência. O problema é que nós vamos sendo puxados pelo bloco que ele comanda: Unidos da Estupidez – cuja bandeira é laranja.

Agora uma coisa precisa ser dita: um homem capaz de trocar mensagens com seu ex-ministro pelo WhatsApp e dizer que não falou com um dos seus homens de confiança é, definitivamente, capaz de qualquer atrocidade. Como pode o indivíduo cair numa dessas. Acho que é um vazamento recorde para um presidente brasileiro. Se bem que ele deve receber apoio recíproco durante um tempo para conseguir reformar a Previdência Social. Depois disso, só Deus sabe o que pode acontecer com o Brasil.

E o MEC? É inominável o que esse ministério faz. Procurei no Aurélio e em dois dicionários de sinônimos e não achei um termo sequer capaz de descrever as atitudes do MEC. O colombiano resolveu mandar um e-mail ridículo falando do hino nacional e pedindo a veiculação do slogan do governo. Além do slogan ser uma coisa de lunático religioso que não lê a Bíblia, o povo acha que a revolta é por conta do hino nacional. Não! A revolta é pelo slogan e é dupla porque os alunos não sabem o que significa o hino nacional. Há centenas de milhões de brasileiros que não sabem o que significa metade do seu próprio hino, tão exaltado em Copas do Mundo e, às vezes, tocado nas Olimpíadas. Nem o pessoal da página “Cenas Lamentáveis” seria capaz de postar tantas atrocidades.

No futebol, nem parece que somos a sede da Copa América. O brasileiro anda com vergonha da sua seleção como de um escândalo familiar que precisa ser ocultado a qualquer custo. E ainda por cima temos um monte de estádios caríssimos que estão servindo de casa para formigas de todo tipo. A CBF, nesse quesito, é mais cretina que qualquer político brasileiro. Queremos que muita coisa mude neste país, mas parece que nada vai mudar. De fato, a indiferença e a estupidez são os principais alicerces do subdesenvolvimento brasileiro.

Como os seres humanos estão correndo loucamente para o abismo, vamos rezar para o Céu, pois na nossa terra as coisas estão complicadas.

(Fernando Fidelix Nunes)

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