9 de maio de 2011.
Viver
uma farsa coletiva é tão vergonhoso quanto um vexame nacional. Ontem, no dia
das mães, a família me preparou uma “surpresa”: compraram um vestido preto
(digno do luto da data) e me levaram para almoçar no Mangai, um restaurante de
comida nordestina muito bom na beira do Lago Paranoá. Talvez eles pensem que me
deixar um dia sem cozinhar seja um presente e tanto.
Chegamos lá e
ficamos naquela fila bem grande aguardando para “celebrar” essa data tão
importante. Muitas outras pessoas tiveram essa mesma ideia que a gente. Ficamos
conversando trivialidades esperando a nossa vez. Enquanto o Henrique tomava uma
caipirinha com o Daniel, a Giovana e eu tomávamos água de coco; víamos as
crianças brincarem e as pessoas tirando fotos para celebrar e se exibir na internet
para os outros. Tenho reparado que esses registros de momentos têm sido mais
importantes que os próprios momentos em si ultimamente. Sabe... o povo pega um
celular ou uma câmera e tira uma foto com todo mundo feliz e unido. 10 segundos
depois cada um foi para um lado e a união se perde totalmente, restando só a
curiosidade individual (“fiquei bem na foto?”). Obviamente, também fizemos
isso.
Na hora de
comer, fiquei guardando a mesa. A Giovana tentou insistir para eu não ficar só,
mas, como eu prefiro a solidão do que ela, insisti para que fosse ver o que
tinha para me dar dicas. Ali sentada uns 10 minutos, vi muita coisa estranha. A
começar não tinha quase nenhum negro que não fosse garçom no local, contei só
uns 3 nas quase três horas em que eu fiquei no lugar. Depois que o Daniel chegou,
fui pegar a minha comida. É bom ter muita variedade e fartura. Botei mais de
meio quilo no prato e ainda comi uma sobremesa. Conversamos um pouco mais
enquanto cada um cuidava do seu prato. O Daniel contou que seu chefe no estágio
estava elogiando bem o trabalho do meu filho. Todos na mesa mostraram
satisfação. Mas assim, não adianta nada para um administrador um estágio
elogiado numa repartição pública. O pessoal da iniciativa privada olha e acha
isso coisa de folgado. Mas aos poucos eu vou falando com jeitinho pro meu filho
procurar outro caminho. No mínimo, eu o convenço a fazer um concurso público
para ele dar um jeito nessa vida.
Em casa, cada
um foi para o seu canto cuidar das suas coisas. O Henrique me abraçou e ficamos
juntos na sala assistindo a um filme na tv a cabo. Não foi aquele abraço
carinhoso, foi um abraço protocolar e sem sentimento. Quando ele passava a mão
por mim, eu sentia que ele o fazia sem qualquer tipo de vontade. Aliás, ele
anda meio sem vontade para muita coisa ultimamente.
Hoje
de manhã voltei à minha rotina. Esse contraste me mostrou o quanto a minha
relação com a minha família está ruim para mim, pois, quando se ama alguém de
verdade, todos os dias essa pessoa é tratada de forma especial.
Tem gente que só lembra da mãe no dia marcado para isso..
ResponderExcluirMagnífico!
ResponderExcluirO texto é excelente!
ResponderExcluirHehehe...v-r-a-u
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