sábado, 13 de janeiro de 2018

Diário: 9 de maio de 2011


9 de maio de 2011.

          Viver uma farsa coletiva é tão vergonhoso quanto um vexame nacional. Ontem, no dia das mães, a família me preparou uma “surpresa”: compraram um vestido preto (digno do luto da data) e me levaram para almoçar no Mangai, um restaurante de comida nordestina muito bom na beira do Lago Paranoá. Talvez eles pensem que me deixar um dia sem cozinhar seja um presente e tanto.
Chegamos lá e ficamos naquela fila bem grande aguardando para “celebrar” essa data tão importante. Muitas outras pessoas tiveram essa mesma ideia que a gente. Ficamos conversando trivialidades esperando a nossa vez. Enquanto o Henrique tomava uma caipirinha com o Daniel, a Giovana e eu tomávamos água de coco; víamos as crianças brincarem e as pessoas tirando fotos para celebrar e se exibir na internet para os outros. Tenho reparado que esses registros de momentos têm sido mais importantes que os próprios momentos em si ultimamente. Sabe... o povo pega um celular ou uma câmera e tira uma foto com todo mundo feliz e unido. 10 segundos depois cada um foi para um lado e a união se perde totalmente, restando só a curiosidade individual (“fiquei bem na foto?”). Obviamente, também fizemos isso.
Na hora de comer, fiquei guardando a mesa. A Giovana tentou insistir para eu não ficar só, mas, como eu prefiro a solidão do que ela, insisti para que fosse ver o que tinha para me dar dicas. Ali sentada uns 10 minutos, vi muita coisa estranha. A começar não tinha quase nenhum negro que não fosse garçom no local, contei só uns 3 nas quase três horas em que eu fiquei no lugar. Depois que o Daniel chegou, fui pegar a minha comida. É bom ter muita variedade e fartura. Botei mais de meio quilo no prato e ainda comi uma sobremesa. Conversamos um pouco mais enquanto cada um cuidava do seu prato. O Daniel contou que seu chefe no estágio estava elogiando bem o trabalho do meu filho. Todos na mesa mostraram satisfação. Mas assim, não adianta nada para um administrador um estágio elogiado numa repartição pública. O pessoal da iniciativa privada olha e acha isso coisa de folgado. Mas aos poucos eu vou falando com jeitinho pro meu filho procurar outro caminho. No mínimo, eu o convenço a fazer um concurso público para ele dar um jeito nessa vida.
Em casa, cada um foi para o seu canto cuidar das suas coisas. O Henrique me abraçou e ficamos juntos na sala assistindo a um filme na tv a cabo. Não foi aquele abraço carinhoso, foi um abraço protocolar e sem sentimento. Quando ele passava a mão por mim, eu sentia que ele o fazia sem qualquer tipo de vontade. Aliás, ele anda meio sem vontade para muita coisa ultimamente.

          Hoje de manhã voltei à minha rotina. Esse contraste me mostrou o quanto a minha relação com a minha família está ruim para mim, pois, quando se ama alguém de verdade, todos os dias essa pessoa é tratada de forma especial.

4 comentários: