sexta-feira, 18 de maio de 2018

Diário: 14 de julho de 2011



14 de julho de 2011.

Está chegando o fim de semana e eu me sinto um pouco mal. Não fui a nenhuma festa junina nem julina nesse ano. O Henrique nem se preocupa em sair comigo pra essas coisas. Eu gosto tanto de tomar uma bebida quente e comer uma canjica. Pena que ir sozinha nessas horas é a pior das coisas. Todo mundo fica olhando torto uma mulher que está sozinha numa festa. Quando se é jovem, trata-se de uma faca de dois gumes: ou os homens te abordam de forma tosca e inútil ou você encontra um verdadeiro cavalheiro para agradar a sua noite. Sempre aparece algum homem para interagir. Seria melhor se todo mundo conseguisse viver só, sem a presença de ninguém por muito tempo e sem sentir falta. Sentir-se completa deve ser a melhor coisa da vida.

O pessoal sempre fala que avião é o meio de transporte mais seguro do mundo. Dizem que tem números que acontecem muito menos acidentes de avião do que em qualquer outro meio de transporte. Só que a gente fica com o coração apertado quando vê um avião caindo. Esse avião que caiu no Recife foi uma angústia só. Pensei na Giovana nessa hora. Ela foi de avião para o Uruguai. E se fosse com ela? Seria uma tragédia e tanto. Eu acho que ia sentir falta da minha filha. Choraria bastante nos primeiros dias e sofreria. Acho que sofreria mais por mim do que por ela, porque não conseguiria ver uma cria minha com o ciclo de vida encaminhado. Será que eu ia sentir isso mesmo? Bem, pra falar a verdade, eu não sei. Mas, no fim das contas, tenho menos vergonha da Giovana do que do Daniel. Esse não mandou nem uma mensagem para dizer que chegou bem. Eu não reconheço mais o meu filho que me abraçava e dizia que precisava de um colo de vez em quando. A essa altura eles já devem estar cheios de fotos nas redes sociais.
                
Hoje abri o fragmento 262 do livro do Pessoa. Nossa tenho vontade de marcar o livro inteiro. Nesse trecho ele diz que reparou que não é ninguém e que está rodeado pelo nada. Isso se aplica a mim em parte. Ele diz que essa ideia veio como um relâmpago. Comigo vem como uma enchente depois de uma tempestade de frustração no meu coração, que continua aflito. Como seria bom mudar de destino como se muda de roupa! No fundo, lá onde eu escondo as minhas emoções, queria ser como a Conceição: forte e sem medo de deixar o que está errado para trás.

Ando meio impressionada com o tanto que eu ando escrevendo nessa última semana. Talvez eu volte ao ritmo que eu tinha uns 3 anos atrás. Eu escrevia toda manhã bastante, aproveitando o silêncio e a ausência de todos na casa. Pena que as coisas que importam passam com muita facilidade.


(Escrito, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes)

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