(Ilustração feita por Enthony Keven)
20 de junho de 2012.
O
mundo está bem esquisito para mim. Sinto que estou no meio de uma névoa sem
paisagem de fundo. A vida de certa forma é assim mesmo: névoa pura no meio da
escuridão do mundo. Ando meio triste mesmo. Acho que eu era muito iludida com a
vida. Eu esperava chegar à idade que eu tenho pronta para comemorar e celebrar
a vida como ela é. Mal sabia eu como realmente era a vida. Se eu soubesse que na
Capital da Esperança eu iria encontrar tamanha solidão em frente a um balde, um
pano, um rodo, roupas e todo tipo de sabão.
Todo
dia eu penso naquele livro do Fernando Pessoa. Ele era capaz de contemplar a
vida com uma beleza singular digna da felicidade até nos piores momentos. Se
bem que nem ele nem eu passamos pelos piores momentos da vida. Nunca
enfrentamos uma só guerra, uma só miséria de fato. Na verdade, eu não sei muito
sobre a vida do Fernando Pessoa para dizer isso, mas eu acho que ele nunca
passou por nada demais.
Voltando
aos panos e às roupas, vou confessar uma coisa para o meu diário. Eu já tentei
falar com os materiais de limpeza. Acho que tenho uma relação mais próxima com
eles do que com a minha família. Essa é uma verdade que me dói bastante. A
verdade é uma dor imensurável. Nossa como eu reclamo da vida.
Pelo
menos vai ter as Olimpíadas para me distrair um pouco aqui em casa. E vai ser
em Londres. Dá para ver todos os eventos importantes durante o dia. Na da China
eu não consegui ver quase nada direito por conta do horário. Pelo menos assim a
faxina fica mais agradável para mim. Talvez eu até fale um pouco com os
atletas, pelo menos é melhor do que falar com coisas.
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