sexta-feira, 5 de julho de 2019

Diário: 20 de junho de 2012

(Ilustração feita por Enthony Keven)


20 de junho de 2012.

O mundo está bem esquisito para mim. Sinto que estou no meio de uma névoa sem paisagem de fundo. A vida de certa forma é assim mesmo: névoa pura no meio da escuridão do mundo. Ando meio triste mesmo. Acho que eu era muito iludida com a vida. Eu esperava chegar à idade que eu tenho pronta para comemorar e celebrar a vida como ela é. Mal sabia eu como realmente era a vida. Se eu soubesse que na Capital da Esperança eu iria encontrar tamanha solidão em frente a um balde, um pano, um rodo, roupas e todo tipo de sabão. 

Todo dia eu penso naquele livro do Fernando Pessoa. Ele era capaz de contemplar a vida com uma beleza singular digna da felicidade até nos piores momentos. Se bem que nem ele nem eu passamos pelos piores momentos da vida. Nunca enfrentamos uma só guerra, uma só miséria de fato. Na verdade, eu não sei muito sobre a vida do Fernando Pessoa para dizer isso, mas eu acho que ele nunca passou por nada demais.

Voltando aos panos e às roupas, vou confessar uma coisa para o meu diário. Eu já tentei falar com os materiais de limpeza. Acho que tenho uma relação mais próxima com eles do que com a minha família. Essa é uma verdade que me dói bastante. A verdade é uma dor imensurável. Nossa como eu reclamo da vida.

Pelo menos vai ter as Olimpíadas para me distrair um pouco aqui em casa. E vai ser em Londres. Dá para ver todos os eventos importantes durante o dia. Na da China eu não consegui ver quase nada direito por conta do horário. Pelo menos assim a faxina fica mais agradável para mim. Talvez eu até fale um pouco com os atletas, pelo menos é melhor do que falar com coisas.

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