segunda-feira, 23 de abril de 2018

Da importância de se viver o presente no futebol e na vida


Da importância de se viver o presente no futebol e na vida




Demorei um pouco para escrever a respeito do futebol por conta dos compromissos como professor. Trabalhos autobiográficos – sim, pedi para que meus alunos escrevessem uma autobiografia para não haver risco de cópia da internet (e surgiram trabalhos maravilhosos que me fizeram admirá-los bastante) – e pendências burocráticas de diários ocuparam bastante as minhas semanas. Contudo, isso não foi o suficiente para que eu não assistisse à partida entre Palmeiras e Boca Juniors pela Libertadores na última quarta e não lamentasse os melhores momentos dos jogos contra Botafogo e Internacional pelo Brasileirão.

O empate contra o Boca, sem dúvida, trouxe em suas minúcias um conjunto de lições valiosas que extrapolam o futebol e podem ser facilmente aplicadas à vida. No domingo anterior meu verdão perdeu o Paulistão para o maior rival na nossa arena nos pênaltis. Foi uma derrota bastante dolorosa. Tão dolorosa que foi visível o quanto os jogadores estavam abalados. Lucas Lima, que errou um dos pênaltis no domingo, estava visivelmente abalado. No primeiro tempo, ele teve uma chance claríssima de abrir o placar. Uma bola rolada com açúcar caiu na sua canhota, que só foi capaz de produzir um chute sem absolutamente nenhuma força e pouco perigo para o gol do Boca Juniors, ou seja, o passado pesou na ação do presente. Isso parece absolutamente trivial do ponto de vista prático. Afinal, não vivemos o passado, vivemos o presente.

Entretanto, viver o presente não significa estar no presente. Quando mergulhamos o nosso pensamento no passado e nas angústias que ele nos trouxe, perdemos totalmente várias oportunidades de glórias no presente. O Palmeiras não vence o Boca, desde a Mercosul de 1998. Nossos jogadores perderam a oportunidade de olhar para frente e construir algo muito mais importante, que é a estrada do título da Libertadores – verdadeiro objetivo da equipe no ano.  A vitória praticamente asseguraria o primeiro lugar do grupo. Vamos ser justos em dizer que o nosso gol aos 44 e o empate aos 47 por si só é um fato chato, mas reclamar da sorte e sofrer com reviravoltas na Libertadores é a mesma coisa que um marinheiro reclamar do mar. A gente precisa se virar! Dar um jeito para o próximo jogo e montar uma estratégia efetiva. Errar faz parte do jogo e da vida. Só temos duas certezas na vida: a morte e os erros. Até os principais gênios de todas as áreas cometeram erros em momentos cruciais, mas, se eles vivessem dos erros, não construiriam nem mesmo um décimo de suas glórias.

Nos jogos contra Botafogo e Internacional o time ainda estava visivelmente abalado. Tanto que, no Pacaembu com bom público, Dudu se recusou a comemorar o gol da primeira vitória do verdão no Brasileirão. Recusar-se a comemorar um gol de um campeonato que é muito mais importante que qualquer estadual é errado e trágico. É como se dissesse para todos: “olha eu fiz algo importante e tenho muito a construir nesta temporada, mas estou ainda lamentando aquela derrota maldita!”. Se a derrota no Paulistão abalou tanto, imagina se fosse na Libertadores. Um jogador que tem medo de perder faz com que a vitória seja um acidente, pois estará sujeito a se abalar em qualquer circunstância do jogo. Dessa forma, o adversário passa a ter o poder de controle para fazer o que quiser com o emocional dos jogadores, e isso é absolutamente letal entre quatro linhas.

Mas uma decepção recente abalou de forma visceral nossos atletas a ponto de deixá-los cegos para o que acontece ao seu redor. Nossos atletas não enxergam o que eles têm pela frente: Copa do Brasil, Libertadores e Brasileirão. Tudo isso mais importante que o Paulistão. É preciso vibrar com cada lance desses campeonatos. Vamos voltar à casa do Boca depois de quase 20 anos! Aí vamos jogar pensando no passado o tempo todo? Óbvio que não deveríamos fazer isso. Jogador gosta de ir para campo com desafios assim: enfrentar um grande time, em um grande estádio e por um grande campeonato. Isso se ele estiver no presente. Se ficar pensando no passado, vai sofrer o tempo todo e sentindo dor com tudo que acontece hoje.

A temporada ainda não acabou e ainda está longe de acabar, mas, se o Palmeiras não pensar no que está por vir, já estamos acabados.

(Escrito por Fernando Fidelix Nunes)

Um comentário:

  1. "... o passado pesou na ação do presente". Quanta clareza, quanta sabedoria numa frase tão simples. O passado sempre pesa quando ele fica no limbo, guardado - lembrado, submerso nas nossas verdades / crenças.

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