Da importância de se viver o presente no futebol e na vida
Demorei um pouco para escrever a
respeito do futebol por conta dos compromissos como professor. Trabalhos
autobiográficos – sim, pedi para que meus alunos escrevessem uma autobiografia
para não haver risco de cópia da internet (e surgiram trabalhos maravilhosos
que me fizeram admirá-los bastante) – e pendências burocráticas de diários
ocuparam bastante as minhas semanas. Contudo, isso não foi o suficiente para
que eu não assistisse à partida entre Palmeiras e Boca Juniors pela
Libertadores na última quarta e não lamentasse os melhores momentos dos jogos
contra Botafogo e Internacional pelo Brasileirão.
O empate contra o Boca, sem
dúvida, trouxe em suas minúcias um conjunto de lições valiosas que extrapolam o
futebol e podem ser facilmente aplicadas à vida. No domingo anterior meu verdão
perdeu o Paulistão para o maior rival na nossa arena nos pênaltis. Foi uma
derrota bastante dolorosa. Tão dolorosa que foi visível o quanto os jogadores
estavam abalados. Lucas Lima, que errou um dos pênaltis no domingo, estava
visivelmente abalado. No primeiro tempo, ele teve uma chance claríssima de
abrir o placar. Uma bola rolada com açúcar caiu na sua canhota, que só foi
capaz de produzir um chute sem absolutamente nenhuma força e pouco perigo para
o gol do Boca Juniors, ou seja, o passado pesou na ação do presente. Isso
parece absolutamente trivial do ponto de vista prático. Afinal, não vivemos o
passado, vivemos o presente.
Entretanto, viver o presente não
significa estar no presente. Quando mergulhamos o nosso pensamento no passado e
nas angústias que ele nos trouxe, perdemos totalmente várias oportunidades de
glórias no presente. O Palmeiras não vence o Boca, desde a Mercosul de 1998.
Nossos jogadores perderam a oportunidade de olhar para frente e construir algo
muito mais importante, que é a estrada do título da Libertadores – verdadeiro
objetivo da equipe no ano. A vitória
praticamente asseguraria o primeiro lugar do grupo. Vamos ser justos em dizer
que o nosso gol aos 44 e o empate aos 47 por si só é um fato chato, mas
reclamar da sorte e sofrer com reviravoltas na Libertadores é a mesma coisa que
um marinheiro reclamar do mar. A gente precisa se virar! Dar um jeito para o
próximo jogo e montar uma estratégia efetiva. Errar faz parte do jogo e da
vida. Só temos duas certezas na vida: a morte e os erros. Até os principais
gênios de todas as áreas cometeram erros em momentos cruciais, mas, se eles
vivessem dos erros, não construiriam nem mesmo um décimo de suas glórias.
Nos jogos contra Botafogo e Internacional
o time ainda estava visivelmente abalado. Tanto que, no Pacaembu com bom
público, Dudu se recusou a comemorar o gol da primeira vitória do verdão no
Brasileirão. Recusar-se a comemorar um gol de um campeonato que é muito mais
importante que qualquer estadual é errado e trágico. É como se dissesse para
todos: “olha eu fiz algo importante e tenho muito a construir nesta temporada,
mas estou ainda lamentando aquela derrota maldita!”. Se a derrota no Paulistão
abalou tanto, imagina se fosse na Libertadores. Um jogador que tem medo de
perder faz com que a vitória seja um acidente, pois estará sujeito a se abalar
em qualquer circunstância do jogo. Dessa forma, o adversário passa a ter o
poder de controle para fazer o que quiser com o emocional dos jogadores, e isso
é absolutamente letal entre quatro linhas.
Mas uma decepção recente abalou
de forma visceral nossos atletas a ponto de deixá-los cegos para o que acontece
ao seu redor. Nossos atletas não enxergam o que eles têm pela frente: Copa do
Brasil, Libertadores e Brasileirão. Tudo isso mais importante que o Paulistão.
É preciso vibrar com cada lance desses campeonatos. Vamos voltar à casa do Boca
depois de quase 20 anos! Aí vamos jogar pensando no passado o tempo todo? Óbvio
que não deveríamos fazer isso. Jogador gosta de ir para campo com desafios
assim: enfrentar um grande time, em um grande estádio e por um grande
campeonato. Isso se ele estiver no presente. Se ficar pensando no passado, vai
sofrer o tempo todo e sentindo dor com tudo que acontece hoje.
A temporada ainda não acabou e
ainda está longe de acabar, mas, se o Palmeiras não pensar no que está por vir,
já estamos acabados.
(Escrito por Fernando Fidelix Nunes)
(Escrito por Fernando Fidelix Nunes)
"... o passado pesou na ação do presente". Quanta clareza, quanta sabedoria numa frase tão simples. O passado sempre pesa quando ele fica no limbo, guardado - lembrado, submerso nas nossas verdades / crenças.
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