sexta-feira, 6 de abril de 2018

Diário: 23 de junho de 2011.


23 de junho de 2011.

                Voltei a falar com a minha filha, mas ela inventou de colocar uns poemas. Acho que desde que ela acabou a faculdade, foi a primeira vez que eu vi a Giovana lendo poesia. O negócio é que ela selecionou autores que todo mundo conhece, Camões, Drumond (acho que se escreve assim), Vinícius de Moraes e Manuel Bandeira. Nenhuma mulher! Com essas aulas de poemas que a minha filha dá, fica parecendo que não existe nenhuma mulher que escreveu poesia. Eu mesma só conheço a Cecília Meireles, e de nome. As coisas andam muito erradas nesse país, mas para não piorar a situação com ela, eu resolvi ficar quieta e apoiá-la. Afinal, pelo menos eles vão ler alguma coisa. E do jeito que eu ando, arrumar ou ficar pensando em confusão é pior ainda.
                Esse negócio de não valorizar a mulher é complicado pra todo mundo. Fizeram esses dias um jogo festivo para o Ronaldinho se despedir do futebol com a camisa da seleção. O menino ralou muito de verdade: infância difícil, joelho ruim e superações a todo instante. Mas e as mulheres? Quando veremos uma mulher sendo homenageada assim? A gente leva esse país nas costas e só vem depois o povo dar uma rosa pra gente no nosso dia em março. Parece piada um negócio desses. Tudo bem que tem umas que são uma vergonha e são valorizadas até demais. Deu no jornal que a Dilma tem 49% de aprovação do governo. 49% pra uma mulher que nunca fez nada é uma vergonha pra esse país tropical. Ela vai é queimar o filme das mulheres. O pessoal fica valorizando ela e tal com o passado dela contra a ditadura, só que ela não dá conta do recado. Tenho certeza de que vai fazer besteira. Do jeito que esse país é, é bem capaz do povo saber quem é Ronaldinho e não saber quem é Dilma. Isso dá um desgosto. Agora, pra substituir o Ronaldinho ainda arrumaram um tal de Neymar, que passa o tempo todo na televisão. Tem gente que faz o que quer e dá certo.
O Daniel continua fazendo um monte de besteira. Com o braço quebrado, ele vai ficar ainda pelo menos duas semanas em casa. Em casa mais ou menos, porque agora ele tá saindo de tarde com os amigos dele. Eu fico pensando se esse povo não estuda ou não trabalha. Eles ficam brincando e comemorando e eu aqui ralando com o meu chão e minha cozinha.
Se bem que ralar é até bom se eu for comparar com o pensamento. O Henrique anda feliz demais pro meu gosto. Ele anda feliz pra lá e pra cá. Deu até pra cantar de vez em quando. Só que aí ele me vê e deixa de lado tudo que é bom e fica meio esquisito. Esses dias eu tentei dar um abraço. Digo tentei porque ele nem devolveu nada em troca. Abraço só acontece quando tem troca. Se não tem troca, é contato. Quero muito estar errada. Ser traída a essa altura é terrível. Sinto-me humilhada só com essa oportunidade.
              Sigo querendo que o tempo voe, mas parece que eu vou ter que (sobre)viver por um tempo. Gostei desses parênteses. Pena que eu não tenho uma ideia boa dessas todas as horas pra deixar o meu texto mais literário. Se bem que ninguém vai me ler mesmo. 

(Escrito, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes)

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