23 de junho de 2011.
Voltei
a falar com a minha filha, mas ela inventou de colocar uns poemas. Acho que
desde que ela acabou a faculdade, foi a primeira vez que eu vi a Giovana lendo
poesia. O negócio é que ela selecionou autores que todo mundo conhece, Camões,
Drumond (acho que se escreve assim), Vinícius de Moraes e Manuel Bandeira.
Nenhuma mulher! Com essas aulas de poemas que a minha filha dá, fica parecendo
que não existe nenhuma mulher que escreveu poesia. Eu mesma só conheço a
Cecília Meireles, e de nome. As coisas andam muito erradas nesse país, mas para
não piorar a situação com ela, eu resolvi ficar quieta e apoiá-la. Afinal, pelo
menos eles vão ler alguma coisa. E do jeito que eu ando, arrumar ou ficar
pensando em confusão é pior ainda.
Esse
negócio de não valorizar a mulher é complicado pra todo mundo. Fizeram esses
dias um jogo festivo para o Ronaldinho se despedir do futebol com a camisa da
seleção. O menino ralou muito de verdade: infância difícil, joelho ruim e
superações a todo instante. Mas e as mulheres? Quando veremos uma mulher sendo
homenageada assim? A gente leva esse país nas costas e só vem depois o povo dar
uma rosa pra gente no nosso dia em março. Parece piada um negócio desses. Tudo
bem que tem umas que são uma vergonha e são valorizadas até demais. Deu no
jornal que a Dilma tem 49% de aprovação do governo. 49% pra uma mulher que
nunca fez nada é uma vergonha pra esse país tropical. Ela vai é queimar o filme
das mulheres. O pessoal fica valorizando ela e tal com o passado dela contra a
ditadura, só que ela não dá conta do recado. Tenho certeza de que vai fazer
besteira. Do jeito que esse país é, é bem capaz do povo saber quem é Ronaldinho
e não saber quem é Dilma. Isso dá um desgosto. Agora, pra substituir o
Ronaldinho ainda arrumaram um tal de Neymar, que passa o tempo todo na
televisão. Tem gente que faz o que quer e dá certo.
O Daniel
continua fazendo um monte de besteira. Com o braço quebrado, ele vai ficar
ainda pelo menos duas semanas em casa. Em casa mais ou menos, porque agora ele
tá saindo de tarde com os amigos dele. Eu fico pensando se esse povo não estuda
ou não trabalha. Eles ficam brincando e comemorando e eu aqui ralando com o meu
chão e minha cozinha.
Se bem que
ralar é até bom se eu for comparar com o pensamento. O Henrique anda feliz
demais pro meu gosto. Ele anda feliz pra lá e pra cá. Deu até pra cantar de vez
em quando. Só que aí ele me vê e deixa de lado tudo que é bom e fica meio
esquisito. Esses dias eu tentei dar um abraço. Digo tentei porque ele nem
devolveu nada em troca. Abraço só acontece quando tem troca. Se não tem troca,
é contato. Quero muito estar errada. Ser traída a essa altura é terrível.
Sinto-me humilhada só com essa oportunidade.
Sigo querendo que o tempo voe, mas parece que eu
vou ter que (sobre)viver por um tempo. Gostei desses parênteses. Pena que eu
não tenho uma ideia boa dessas todas as horas pra deixar o meu texto mais
literário. Se bem que ninguém vai me ler mesmo. (Escrito, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes)
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