segunda-feira, 2 de abril de 2018

Para que serve um estadual?


Para que serve um estadual?


                O campeonato estadual não levará um time de massa para jogar com potências ou várzeas internacionais. Tampouco garante que o time fique na Série A – veja só o caso recente do Vasco da Gama. O único aparente benefício é dar aos times de médio e pequeno porte um singelo passaporte para a Copa do Brasil, que se tornou uma montanha intransponível para um nanico das Séries C ou D se impor.
                Uma coisa não se pode negar: os estaduais dão uma dose de surpresa semanal ao nosso dia a dia. Grêmio em sexto na primeira fase no Gauchão, Corinthians perdendo em casa para o São Bento e Boa Vista na final da Taça Guanabara são apenas alguns dos exemplos cotidianos que apreciamos. Quando se vê um campeonato europeu, parece que ele já tem um destino traçado, com exceção do título recente do Leicester na Premier League. Não me lembro da última vez que Barcelona, Real Madri, Juventus, Bayer de Munique e outros gigantes europeus terminaram um campeonato fora das primeiras posições.
 No estadual não é assim, já que praticamente tudo é possível. O modesto Novo Hamburgo, por exemplo, se impôs ano passado contra o Grêmio (campeão da América!) e do Internacional e levantou a taça na cara da sociedade. No Paulistão, o Palmeiras, time com maior investimento nas últimas temporadas do futebol brasileiro, foi trucidado pela Ponte Preta em Campinas e não conseguiu reverter a vantagem em casa na semifinal. O estadual potencializa a essência futebolística do improvável tragicômico, que não se vê em outros esportes.
Os regulamentos também são um atrativo à parte. No Paulistão, por exemplo, as equipes do mesmo grupo não se enfrentam e o time só se classifica se ficar em primeiro ou em segundo lugar no seu grupo, isto é, se ele tiver a terceira melhor campanha da primeira fase e os outros 2 ficarem a sua frente, ele não passa para a fase em que se classificam 8 times. E o Cariocão que é tão truncado que nem eu mesmo me atrevo a explicar? Talvez seja uma maneira de desafiar a lógica eurocêntrica e preservar as peculiaridades locais. É como se dissessem assim: “aqui seguimos o movimento antropofágico”. E deu certo, pois os campeões da Taça Guanabara e da Taça Rio ficaram de fora da final, ou seja, foram dois troféus que não serviram para nada. Talvez seja uma política assistencialista de quinta categoria para distribuir mais troféus para os nossos clubes.
Deve-se destacar também as rivalidades que jamais teriam protagonismo nacional. Sport, Santa Cruz e Náutico, por exemplo, vivem confrontos apoteóticos na disputa rotineira pelo Pernambucano. Goiás, Vila Nova e Atlético/GO se enfrentam e alternam a hegemonia no principal estadual do Centro-Oeste. Em Santa Catarina, Figueirense, Avaí, Chapecoense e Joinville, que já chegaram a jogar ao mesmo tempo a Série A, dão muita emoção aos torcedores nos quatro primeiros meses do ano. E a dupla Bahia e Vitória que é há décadas sucesso de público e renda? O apoio da torcida do Bahia ao time na chegada à Fonte Nova foi uma coisa de cinema!
E as finais inesquecíveis? Os estaduais possuem as finais mais marcantes de longe. Nesse quesito o Carioca é especial. Como não lembrar do cruzamento de letra do Léo Lima do Vasco contra o Fluminense? E a cavadinha de Loco Abreu contra o Flamengo? E o gol de barriga de Renato Gaúcho no Fla-Flu? E a falta perfeita de Petkovic contra o Vasco? Esses são apenas 4 exemplares exclusivos dos nossos estaduais.
E a descoberta de novos craques? Quantos futuros gênios apareceram em um estadual? Rivaldo, por exemplo, foi um craque que surgiu no Mogi Mirim no início da década de 1990 e se tornou um dos protagonistas das Copas de 1998 e 2002 com a camisa canarinho. O grande São Marcos também começou a brilhar em um Paulistão, quando defendeu um pênalti contra o Botafogo/SP. Outros, embora não consigam protagonismo internacional, como o goleiro Cidão, conseguem pelo menos um lugar ao sol e, consequentemente, uma remuneração mais aprazível. Você é desses que falam que isso é coisa de antigamente né? Então, lembre-se de que Ganso e Neymar, que atualmente é um dos top 3 do futebol internacional, começaram a chamar a atenção com atuações marcantes no Paulistão com a camisa do peixe.
Portanto, distintos leitores e distintas leitoras, se você ainda é uma dessas pessoas que acham que os estaduais não têm importância, sugiro que você reveja os seus conceitos.

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