quinta-feira, 28 de junho de 2018

Diário: 5 de agosto de 2011





(Uma verdadeira obra de arte criada pelo jovem e talentoso ilustrador Enthony Vieira exclusivamente para este blog)



5 de agosto de 2011.


A gente vê que a arte de um país está ruim quando o principal poema de uma cidade comentado pela mídia nos últimos anos é feito por um delegado de polícia. Ele foi fazer um relatório de um crime lá no Riacho Fundo. Fazem a maior propaganda e tal desse caso para a vida de brasiliense. Aqui a vida é bem medíocre mesmo. Ele pode até ser bom, mas é uma vergonha total nós estarmos tão abandonados desde que o Renato Russo morreu. Mais um dos nossos desertos.              

A minha filha me contou uma novidade bombástica: está namorando a distância. Fiquei impressionada. Não arrumava nenhum namorado há uns 3 anos, desde os tempos da faculdade. Ela disse que fala com o Hernandez, um argentino com nome de conquistador barato, por meio de um programa chamado Skype. Ela até comprou uma webcam para falar melhor com ele. Assim, dá para ver olho no olho. Para essa geração, a imagem definitivamente vale mais do que mil palavras. Amor a distância é infinitamente melhor do que a distância do amor que está ao nosso lado. Eu tinha uma amiga que falava que era mais fácil largar do que lutar por um amor. Não sei por que eu fico pensando nisso. Na verdade eu sei. O Henrique aos poucos está voltando ao normal. Só me abraçou por remorso, não por carinho. Ele é assim e, infelizmente, é assim que ele vai continuar sendo. Só que quando estamos carentes, o sentimento é tudo que temos.

De fato, o amor não é um direito. Nenhuma constituição fala do direito do amor, que devia ser tão essencial quanto a água. O amor é uma possibilidade, não um direito universal. Não adianta culpar o mundo pela natureza que ele tem. O negócio é ir aguentando as pancadas que a vida nos dá.

Queria que o Fernando Pessoa ou qualquer outro tivesse me dado uma saída para esse inferno. Só que, quando estamos num deserto, todos os caminhos estão cobertos por areia e as portas de saída têm jeito de miragem. No fim das contas acho que sinto isso mesmo: vivo em um deserto em que a cidade inteira é coberta de areia e a felicidade se encontra em oásis nas miragens que eu vejo de vez em quando. Tem gente que vê o oásis na vida política, na amorosa, na família e até no futebol. Essa ideia de deserto não sai da minha cabeça. Esses dias eu sonhei que estava andando na Esplanada dos Ministérios, mas tudo estava coberto por areia. Só vi que era a Esplanada por conta do Congresso Nacional, que não estava totalmente coberto. Se bem que podia ser uma miragem no deserto. O que será que esse sonho quer dizer? Que eu me sinto num deserto deu para entender, agora ver o Congresso no meio do deserto realmente é algo muito estranho. Às vezes mil palavras não são suficientes para explicar uma imagem.


(Criado, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes)

3 comentários:

  1. Paaaaaaaaaaaaaaaaalmas para esse ilustrador!! Sinceramente, é a imagem mais poética que eu já vi ligada a Brasília. Falo isso de coração e não porque está no meu blog. Nunca pare de desenhar, pois você tem a capacidade de criar imagens impactantes sobre esta cidade, que oferece muito mais ao nosso país do que a vida política.

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