sexta-feira, 22 de junho de 2018

Diário: 31 de julho de 2011


(Ilustração feita por Leonardo B. Ferreira)

31 de julho de 2011.

Enxergo na cara dos meus filhos a absoluta repulsa de voltar a viver as suas rotinas. Eles queriam fugir mais, mas não podem! Precisam encarar as coisas. Onde eu errei para que eles não fossem capazes de lidar com a vida? A gente erra querendo acertar na maioria das vezes. Se bem que eu também errei na minha, não era para as coisas serem como elas são. Raramente a gente acerta quando erra. Trocadilho idiota. Ultimamente eu não ando muito inspirada. A gente sente, mas não sabe falar ou não quer mesmo. Vai saber o porquê das coisas hoje em dia e sempre.

Fiz uma tapioca no café hoje. Foi tapioca com ovo. Todos em casa gostaram da surpresa. É bom saber que eu ainda tenho o poder de fazer algo diferente que faça a alegria do povo aqui de casa. Pra melhorar eu ainda fiz um suco de laranja. Eles até me abraçaram de um modo especial. Disseram que se sentiam bem em voltar para casa. Mentiram, como sempre. Brasileiro tem disso de mentir por convenção. Pena que a gente só recebe algo especial quando faz algo especial. Queria esse carinho no dia a dia. Impressionante como a gente é fascinada por aquilo que não pode ter. Seria tão mais fácil se fosse de outro jeito.

Pelo menos eu não fico mais pensando na Tereza. Não sei nem por que eu falei nela. Para mim o passado está morto. Isso tem o seu lado bom, mas o problema é que quando você não traz nada do passado fica tudo colorido de cinza. Aquele cinza triste como um deserto de areia com degraus de areia para um oásis perdido. Nossa, que vontade de apagar o que eu escrevi. Pena que eu não tenho nada melhor para botar no lugar. Entre não colocar nada e deixar ruim é melhor deixar como está. Qualquer coisa é melhor que ter um vazio no coração e no papel. Ninguém vai me ler mesmo.

E aí vem agosto, mês do desgosto! É como falam as pessoas pessimistas, mas pra mim todo mês tem o mesmo gosto amargo. Essa minha vida anda precisando de um açúcar e de um sal bom. Um dia muda. Um dia.

(Essa é uma ficção escrita, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes)

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