5 Minutos de Futebol da Seleção
O
Brasil fez uma atuação bastante sofrível para o torcedor nesta sexta-feira. Nem
a possibilidade de beber antes de meio-dia sem se sentir um alcoólatra foi
suficiente para diminuir o sofrimento. Errávamos gols que nas eliminatórias
eram rede na certa. Nossos jogadores estavam visivelmente angustiados e
estressados a cada lance. Por exemplo, aos 43 do segundo tempo, 2 minutos antes
do Brasil começar a fazer o que sabe, Neymar estava a plenos pulmões ofendendo
adversários e até o árbitro em inglês, espanhol e português. Pelo meu
conhecimento linguístico, ficou evidente a sua fluência em conversas de baixo
nível nos três idiomas, o que é absolutamente necessário para um atacante
tipicamente brasileiro.
Como
torcedor, afirmo que senti o medo de repetir a angústia da Argentina. Imaginem
só passar pelo vexame de Messi e demais agregados. Cada bola defendida pelo
Navas, mito que jamais havia perdido em Copas para uma seleção campeã do mundo,
era uma angústia a mais. Parecia que nem o menino Jesus, responsável por uma
bola na trave, seria capaz de fazer o milagre do gol. Sim, o gol brasileiro
deixou de ser uma possibilidade natural para se tornar um milagre, uma benção,
uma glória ou uma verdadeira dádiva divina.
Neymar,
profissional em cavar pênaltis, esqueceu-se de que hoje existe o árbitro de
vídeo. Na Copa passada até dava para cavar um na malandragem, mas com a tecnologia
as coisas mudaram muito. Ele sabia que não tinha sido nada. O chato é que a
gente comemorou o pênalti e se encheu de esperança. Aumentou-se a justiça e
prolongou-se a angústia, ou seja, o futebol conseguirá aumentar ainda mais a
quantidade de ataques cardíacos decorrentes de emoções esportivas que pessoas
indignas chamam de “apenas um jogo”.
Então,
vamos aos cinco minutos que interessam. O Brasil pressionava a Costa Rica mais
do que o Donald Trump foi pressionado pelo mundo para rever sua política
imigratória. Era chute de fora da área, cabeçada na trave, cabeçada fraca,
chute fraco, trombada de todo jeito, cruzamentos de toda natureza e tudo mais
que o futebol disponibiliza, menos o gol. Até que Firmino, dono do sorriso mais
brilhante da Copa, escorou de cabeça para o menino Jesus deixar Coutinho frente
a frente com Navas. O craque do Barcelona mostrou todo o seu talento ao meter
um bico na bola que passou debaixo das pernas de Navas. Inacreditável isso! É
só no futebol. Os brasileiros, aptos para todos os tipos de técnicas, estão
entre os melhores do mundo e acabamos fazendo um gol nos acréscimos por meio de
uma técnica típica dos nossos artilheiros de pelada: o bico. E ainda por cima
foi por debaixo das pernas do goleiro, que era para ser o lugar mais
improvável. Suspeito que a mística da camisa 11 de Romário, mestre em fazer
gols de bico em mundiais, vai fazer escola com esse menino.
Nesse
momento o país entrou em êxtase puro. As pessoas se abraçavam, bebidas voavam,
gritos de toda ordem tomavam conta até nos pontos mais recônditos da nação
tupiniquim. Até o técnico caiu no chão. Obviamente, que os grupos de WhatsApp
também nos deram diversos exemplos dessa comemoração. Conheço até um amigo que
publicou em incontáveis grupos: “Coutinho, me engravida, seu lindo!”. Sim,
senhoras e senhores, um gol brasileiro na Copa do Mundo é capaz de fazer um
homem querer ser mãe de um filho de um jogador que até 2 minutos atrás era
xingado a plenos pulmões pelo mesmo ser humano. Coisas da vida moderna.
A comemoração ainda estava em andamento quando nos momentos finais Douglas Costa
tocou para Neymar, sem goleiro, sem zagueiro, sem árbitro e sem medo de errar
mandar para a rede o segundo. Foi uma euforia só. Aqueles que cornetavam Neymar
passaram a tratá-lo como gênio e mito. Ele chorou. Lágrimas sinceras. Isso me
preocupa. O jogador brasileiro não deve chorar por vencer a Costa Rica no
segundo jogo de uma fase de grupos. É uma imaturidade semelhante à de um adulto
chorar por ter quebrado uma garrafa de whisky cara. Mas tratarei do psicológico
dessa geração em outro momento.
Dessa
vez cinco minutos foram suficientes, mas devemos jogar como Brasil durante 90
minutos para sermos o país do hexa. Agora é torcer para vencer a Sérvia e para
a Nigéria eliminar a Argentina.
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