sexta-feira, 22 de junho de 2018

5 minutos de futebol da Seleção


5 Minutos de Futebol da Seleção


O Brasil fez uma atuação bastante sofrível para o torcedor nesta sexta-feira. Nem a possibilidade de beber antes de meio-dia sem se sentir um alcoólatra foi suficiente para diminuir o sofrimento. Errávamos gols que nas eliminatórias eram rede na certa. Nossos jogadores estavam visivelmente angustiados e estressados a cada lance. Por exemplo, aos 43 do segundo tempo, 2 minutos antes do Brasil começar a fazer o que sabe, Neymar estava a plenos pulmões ofendendo adversários e até o árbitro em inglês, espanhol e português. Pelo meu conhecimento linguístico, ficou evidente a sua fluência em conversas de baixo nível nos três idiomas, o que é absolutamente necessário para um atacante tipicamente brasileiro.

Como torcedor, afirmo que senti o medo de repetir a angústia da Argentina. Imaginem só passar pelo vexame de Messi e demais agregados. Cada bola defendida pelo Navas, mito que jamais havia perdido em Copas para uma seleção campeã do mundo, era uma angústia a mais. Parecia que nem o menino Jesus, responsável por uma bola na trave, seria capaz de fazer o milagre do gol. Sim, o gol brasileiro deixou de ser uma possibilidade natural para se tornar um milagre, uma benção, uma glória ou uma verdadeira dádiva divina.

Neymar, profissional em cavar pênaltis, esqueceu-se de que hoje existe o árbitro de vídeo. Na Copa passada até dava para cavar um na malandragem, mas com a tecnologia as coisas mudaram muito. Ele sabia que não tinha sido nada. O chato é que a gente comemorou o pênalti e se encheu de esperança. Aumentou-se a justiça e prolongou-se a angústia, ou seja, o futebol conseguirá aumentar ainda mais a quantidade de ataques cardíacos decorrentes de emoções esportivas que pessoas indignas chamam de “apenas um jogo”.

Então, vamos aos cinco minutos que interessam. O Brasil pressionava a Costa Rica mais do que o Donald Trump foi pressionado pelo mundo para rever sua política imigratória. Era chute de fora da área, cabeçada na trave, cabeçada fraca, chute fraco, trombada de todo jeito, cruzamentos de toda natureza e tudo mais que o futebol disponibiliza, menos o gol. Até que Firmino, dono do sorriso mais brilhante da Copa, escorou de cabeça para o menino Jesus deixar Coutinho frente a frente com Navas. O craque do Barcelona mostrou todo o seu talento ao meter um bico na bola que passou debaixo das pernas de Navas. Inacreditável isso! É só no futebol. Os brasileiros, aptos para todos os tipos de técnicas, estão entre os melhores do mundo e acabamos fazendo um gol nos acréscimos por meio de uma técnica típica dos nossos artilheiros de pelada: o bico. E ainda por cima foi por debaixo das pernas do goleiro, que era para ser o lugar mais improvável. Suspeito que a mística da camisa 11 de Romário, mestre em fazer gols de bico em mundiais, vai fazer escola com esse menino.

Nesse momento o país entrou em êxtase puro. As pessoas se abraçavam, bebidas voavam, gritos de toda ordem tomavam conta até nos pontos mais recônditos da nação tupiniquim. Até o técnico caiu no chão. Obviamente, que os grupos de WhatsApp também nos deram diversos exemplos dessa comemoração. Conheço até um amigo que publicou em incontáveis grupos: “Coutinho, me engravida, seu lindo!”. Sim, senhoras e senhores, um gol brasileiro na Copa do Mundo é capaz de fazer um homem querer ser mãe de um filho de um jogador que até 2 minutos atrás era xingado a plenos pulmões pelo mesmo ser humano. Coisas da vida moderna.

A comemoração ainda estava em andamento quando nos momentos finais Douglas Costa tocou para Neymar, sem goleiro, sem zagueiro, sem árbitro e sem medo de errar mandar para a rede o segundo. Foi uma euforia só. Aqueles que cornetavam Neymar passaram a tratá-lo como gênio e mito. Ele chorou. Lágrimas sinceras. Isso me preocupa. O jogador brasileiro não deve chorar por vencer a Costa Rica no segundo jogo de uma fase de grupos. É uma imaturidade semelhante à de um adulto chorar por ter quebrado uma garrafa de whisky cara. Mas tratarei do psicológico dessa geração em outro momento.

Dessa vez cinco minutos foram suficientes, mas devemos jogar como Brasil durante 90 minutos para sermos o país do hexa. Agora é torcer para vencer a Sérvia e para a Nigéria eliminar a Argentina.

(Crônica feita por Fernando Fidelix Nunes)
            

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