sexta-feira, 1 de junho de 2018

Diário: 17 de julho de 2011



17 de julho de 2011.

Hoje o Henrique falou que ia sair para um futebol no início da noite para esquecer a derrota da seleção. Nossa uma verdadeira vergonha ser eliminado sem acertar nenhum pênalti para o Paraguai. Paraguai! O que é o Paraguai? Acho que só não é pior do que, segundo o Henrique, ter sido eliminado para Honduras. Como homem consegue ter uma memória tão boa pra futebol e esquece do resto? Eles fizeram o mais difícil, que é errar 4 pênaltis. Se estão assim agora, imagina na Copa do Mundo. Vai ser uma vergonha. Acho que esse técnico e esse elenco precisam mudar, e logo. Se bem que em futebol é céu ou inferno. Mandam logo embora quem não nos apetece.

O narrador ficou falando que o Brasil jogou melhor. Se o time teve um monte de chances e não aproveitou ele não jogou bem. E olha que eu nem entendo tanto de futebol! Esse povo parece que tem medo de acertar. Errar 4 pênaltis é um sintoma bem forte disso. Acho que tão ruins quanto os nossos jogadores são nossos narradores de futebol. Assassinam a língua como verdadeiros criminosos. Se bem que as pessoas erram tanto podendo acertar de um jeito fácil.

O Henrique ficou muito frustrado e irritado e disse que ia jogar futebol, sair com os amigos e que não tinha hora para voltar para esquecer as mágoas. Às vezes o casamento vira isso: um conjunto de formalidades. Ele está aproveitando porque vai tirar uns 10 dias de férias a partir de amanhã. De certa forma estou de férias, mas com a cabeça voando como nunca.

Esse negócio do futebol me fez pensar um pouco sobre a vida. É meio triste de se pensar, mas necessário. As pessoas, infelizmente, sofrem muito por coisas sobre as quais não tem nenhum controle. O que podemos fazer a respeito de um jogo de futebol? Nada! Botamos o destino da nossa felicidade nas mãos, ou nos pés dos outros. Nós sofremos muito por deixar os nossos destinos ou vontades dependendo mais dos outros do que de nós mesmos. Por conta disso eu não entendo o amor que as pessoas tem pelo futebol. Nos outros esportes as pessoas são mais comedidas. A gente não vê gente se batendo por conta dos outros esportes ou até ficando absolutamente deprimida. Só o futebol faz isso. O problema é que todo torcedor quer o seu time ganhando sempre. Isso não vai acontecer nunca. O Henrique mesmo fala todo formal no trabalho dele e nos eventos em família. Aí chega no futebol e vira um animal que diz palavras que eu nunca imaginaria sair dele. No início eu nem reconhecia mais meu marido, mas com o tempo a gente aceita as pessoas como elas são. No amor é assim: a gente sofre, mas, no fim, aceita as pessoas como elas são.

O futebol se tornou algo tão natural na nossa sociedade que eu mesma não consigo nem imaginar como seria o mundo sem futebol. É mais fácil eu imaginar o mundo sem o Henrique do que sem futebol. A ideia do divórcio passa de vez em quando pela minha cabeça. Mas ela só passa, pois jamais terei a coragem de materializar esse desejo.


(Escrito, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes)

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