sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O Cara Voltou


O CaraVoltou!

                O grande responsável por duas eliminações traumáticas do Corinthians na Libertadores, o bicampeão do principal torneio das Américas, o senhor da Copa do Brasil, o homem que sempre disputou sete jogos na Copa do Mundo (mas não falemos muito do 7), o entrevistado mais polêmico das coletivas após os jogos, o ser que recorrentemente manda os gandulas jogarem bolas em campo para amarrar o jogo decisivo, o maior motivador dos jogadores desacreditados e, definitivamente, o técnico que mais provoca a torcida adversária. Sim, Felipão está de volta ao Palmeiras, a sua verdadeira casa.
                A volta de Felipão ao Palmeiras é símbolo da tese que eu defendo de forma veemente: no Brasil tudo muda para não mudar nada! Em 2010, depois de uma Copa do Mundo e após uma série de demissões de treinadores nos anos anteriores, a diretoria procurou quem para comandar a nossa Academia de Futebol? Sim, Felipão! Inacreditável como as coisas se repetem neste país. Não é à toa que Cazuza dizia que via por aqui um museu de grandes novidades.
                Quando vi o anúncio, eu, assim como vários outros torcedores, passei a vislumbrar um futuro cheio de glórias. Já consegui projetar algo assim: Palmeiras campeão mundial depois de uma histórica vitória com um gol do desconhecido atacante Papagaio, que seria o símbolo da raça de um time que venceria o jogo com um a menos devido à expulsão de Felipe Melo, ocorrida após uma entrada desleal no craque do time adversário. A hegemonia europeia no final do ano está com os dias contados! E é óbvio que essa estrada de glórias será asfaltada com muita bola parada e momentos em que a ética desportiva será mais flexível do que muitas pessoas que praticam ginástica em nível olímpico.
                O torcedor nostálgico lembrar-se-á das incontáveis vezes em que vimos jogadores absolutamente anônimos conseguirem, sob o comando de Felipão, um lugar ao sol em momentos decisivos com a camisa alviverde, pena que foi só em momentos esporádicos. Sempre perguntávamos: de onde veio esse cara? Podemos simplesmente nos lembrar de Betinho, herói do título da Copa do Brasil de 2012, ou de Fernandão, trombador responsável por um gol de uma categoria inigualável contra nossos rivais alvinegros. Nessa época, o nosso herói sofreu muito. Teve que aguentar o Dinei que não era o Dinei; o Tinga que não era o Tinga; o Cicinho que não era o Cicinho; o Rivaldo que não era o Rivaldo; e assim por diante. Confessou diversas vezes o seu sentimento de frustração com as pessoas. Disse que a tristeza com o time era semelhante à de acordar com uma mulher feia ao seu lado. Falou que não aguentava mais comer arroz e feijão só e que queria carne e camarão. Além de, obviamente, fazer incontáveis críticas à arbitragem, mesmo quando não tinha muita razão em reclamar.
                Há jornalistas afirmando que ele está desatualizado. Falam em compactação e tal. Eles acompanham futebol há décadas e não entenderam que esquemas táticos são meros detalhes no futebol. O fator psicológico coloca o tático no chinelo. Eles acreditam, por exemplo, que o Messi não jogou nada na Copa por conta de tática? Que Cristiano Ronaldo foi efetivo em um jogo por conta da disposição tática? É vergonhoso esse modo de pensar. Falando nisso... o que eles costumam fazer para se atualizar? Eu nunca vi nenhum deles citando um livro ou nada do tipo sobre a crônica esportiva. Ninguém também escreve muito sobre isso, deve ser por falta de público. Ando em livrarias e nunca vi uma obra do tipo “Manual do Comentarista Esportivo”, “Novas Perspectivas em Comentários Futebolísticos”, “A Crônica Esportiva e a Filosofia” ou mesmo “77 estratégias para se comentar um jogo sem saber nada de futebol”. Também não vejo eles falando em tempo de estudos. A vida é assim mesmo: muitas pessoas cobram das outras aquilo que falta nelas mesmas. Falando nisso, já me relacionei com uma senhorita assim: quando via em mim algo que não gostava em si mesma, era pura crítica e aversão a mim. Entretanto, deixarei essa história para outra crônica.
                Voltando ao futebol! Felipão tem um currículo singular e não precisa provar nada para ninguém. Um homem que ganha uma Copa do Brasil com o Criciúma em 1991 e outra com o time do Palmeiras de 2012 está acima do bem e do mal. Tem grandes frustrações, principalmente com a Seleção Brasileira. O pessoal fala o tempo todo do 7x1, mas se esquecem de que em 2001 o Brasil foi eliminado da Copa América pelo sempre discreto time de Honduras. E eu respondo a isso tudo: sim, e daí? Se você não tem fracassos vergonhosos na sua vida, você não é deste mundo. As pessoas só tem a vida perfeita nas redes sociais. Em muitos casos, nem no mundo espiritual a vida é tão coerente e perfeita. Na vida real, nós temos imperfeições inconfessas e seguimos éticas flexíveis de acordo com nossos interesses. Só apontar isso nos outros e não enxergar em si é um defeito temeroso, mas que costuma passar despercebido pelos egos pós-modernos.
Na reapresentação, o presidente declarou: Felipão tem grande identificação com o Palmeiras. Nunca vi um presidente falar uma verdade tão clara e objetiva. Na coletiva de hoje, Felipão disse tudo que a massa queria ouvir. Disse que passará para os atletas toda a disposição para começar a querer ganhar as finais. Sobre prioridade, falou o que a massa sempre quis ouvir: “vamos priorizar todas as competições”. Essa frase deveria entrar num manual de retórica para técnicos. Sabemos que é pura mentira. Claro que não chega ao nível das referências históricas do Bolsonaro, mas é mentira. Tenho certeza de que, se estivermos na final da Libertadores, quem joga é o sub-17. Nem o massagista vai para o jogo. Confirmou na prática a vontade de ganhar tudo. Realmente, foi isso que faltou no Paulistão e nos jogos seguintes. Para criticar a imprensa e Tite, seu desafeto, disse suavemente “não sou o técnico que perdeu o último Mundial”. Tite parou no quinto jogo, Felipão sempre jogou os 7.
Ontem contra o Bahia, era visível o dedo de Felipão na postura da equipe. Tivemos até um jogador expulso por cotovelada desleal. Isso é dedo do auxiliar, Paulo Turra. Esse cidadão compôs um dos mais perversos miolos de defesa da história do futebol brasileiro: Galeano, Argel e Paulo Turra. As canelas de atacantes de todo Brasil sofreram com esse verdadeiro Trio Ternura. Ninguém mais representante desse estilo que o Paulo Turra.
Felipão disse que acompanhava os times brasileiros, mas até se atrapalhou em falar de outros além de Palmeiras e Grêmio. Se bem que um homem capaz de dizer que acompanhava da China – lembrem-se do fuso horário – os jogos da quarta divisão do Campeonato Brasileiro merece concorrer ao prêmio de símbolo de amor à pátria. Essa declaração é quase uma “Canção do Exílio” do Século XXI. Tenho certeza de que ele olhava o time nos últimos anos e dizia a si mesmo: “eu nesse banco de reservas fazia esse time ganhar tudo”. Ele pode negar, mas quem é palmeirense sabe que ele pensava isso.
Agora é só esperar para ver a história sendo feita no Verdão!   

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