sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Diário: 19 de setembro de 2011

(Ilustração feita por Leonardo B. Ferreira exclusivamente para este blog.)

19 de setembro de 2011.

Lembrei hoje do tapa que eu levei na cara. Doeu, pensei que ia ficar bem com o tempo, mas eu não fui capaz de estancar a sangria da dor. Nossa, escrevi difícil agora. Acho que a leitura do Fernando Pessoa anda fazendo algum efeito em mim.

Hoje peguei o Fernando Pessoa de novo. Estranho escrever desse jeito, mas vou deixar assim mesmo. Ninguém vai me julgar mesmo. No trecho 453, o Fernando Pessoa diz que “tudo é vão, como mexer em cinzas”. Incrível como ele sempre está certo sobre a vida que a gente leva. Sempre estamos mexendo nas cinzas do que foi o fogo do nosso coração. Queremos fazer o fogo queimar, como um tanque de gasolina depois de ter contato com uma faísca. Mas não adianta. Já se queimou tudo, já falta lenha para queimar e o fogo da vida ainda sobrevive, mas com pouca força. Como eu reclamo da vida! Também, não tenho pra quem falar.

Esses dias eu fiquei sozinha em casa de novo. A Giovana foi no salão com uma amiga e depois disse que ia sair numa festa. Fiz companhia para mim mesma. Mentira, tinha a televisão comigo. Parei no show da Amy Winehouse. Fiquei impressionada como ela bebia no intervalo de cada música e até durante a música. A pessoa quando é assim deve sofrer muito. Não só ela, acho que todas as pessoas próximas sentem em ver uma menina que viu crescer nesse estado. E ela não era um mulherão. Normalmente, essas cantoras exalam sensualidade. Não tinha um corpo parecido com o da Ivete Sangalo, mas cantava mais. Pena que a forma costuma ser mais importante que o conteúdo hoje em dia. Hoje em dia não. Faz tempo que é assim.

O show vinha com as legendas. Ela realmente sabia o que era sofrimento. Ela tinha uma música com um título muito grande que é algo como “As lágrimas secam sozinhas”. Do jeito que os tradutores são, vai saber se é assim mesmo. Eu não prestei atenção em toda a letra. Só fiquei pensando nessa frase: “as lágrimas secam sozinhas”. Faz sentido pra mim. Quando eu estou só e triste em casa, eu não tenho quem seque as minhas lágrimas. Acho que, quando amamos de verdade alguém, nós fazemos de tudo por essa pessoa. A gente pensa no bem dela, no cheiro dela, no sorriso dela, em como fazer a rotina ser melhor, em passar o dia inteiro com essa pessoa. Tem hora que a gente sabe que acabou, mas continua. Por quê? Escrevi esse porque andei lendo sobre o uso de “porque” no português. Em final de frase sempre tem acento. Pelo menos eu aprendi isso, porque aprender a mudar as coisas não é muito meu forte.

(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)

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