sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Diário: 29 de setembro de 2011


(Ilustração feita por Leonardo B. Ferreira exclusivamente para este blog)

29 de setembro de 2011.

A Giovana finalmente começou a pegar em apostila para estudar. Ela disse que vai estudar para o concurso do TSE para tentar um cargo igual ao do pai dela. Antigamente era fácil conseguir as coisas aqui em Brasília. Se você fosse amigo das pessoas certas então nem se fala. Hoje está bem mais difícil da pessoa conseguir qualquer coisa. Tem que ralar muito e ser bem inteligente, duas coisas que não combinam com a minha filha.

Agora difícil mesmo é aguentar a Dilma. Esses dias ela discursou na ONU. Fizeram a maior propaganda por ela ter sido a primeira mulher a abrir uma Assembleia Geral da ONU. Ficou tentando falar umas coisas difíceis de entender sobre Palestina e Israel. Ela já fala de um jeito confuso e vai falar de um assunto que todo mundo vê no jornal e não entende. Ela se encheu de si porque foi a primeira mulher a abrir. Ela só se esqueceu de falar que ela chegou lá pelo dedo de um homem mais do que pela própria força. É triste ver isso: a pessoa se cresce toda na hora de se mostrar, mas no fim só está lá pelo dedo do homem. Nem assim a gente consegue ser totalmente independente. É uma independência dependente demais. É como se dissesse sem dizer: “mulheres, conseguimos a nossa representatividade e nossa força pelo poder de um homem”. Nesse país as coisas são incompreensíveis para qualquer um. Por isso, dizem que o país não é sério mesmo.

Este mês eu escrevi muito pouco. Tomara que eu escreva mais depois. Esse mundo anda me tirando toda a vontade. Às vezes eu confesso que eu penso em me matar e acabar com isso, mas também vejo que não ganho nada me matando. Vou fazer o que? Os outros sentirem-se culpados? Culpa não serve para nada na vida das pessoas. A culpa é igual a uma nota de 100.000 reais: parece ter um valor muito alto, mas no fim não vale nada por não existir.

O Daniel pelo menos teve uma semana de sossego. Não consigo imaginar o que aconteceu para ele ficar quieto um tempo.


(Esta é uma obra de ficção escrita por Fernando Fidelix Nunes para este blog)

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