sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Diário: 11 de setembro de 2011

(Ilustração feita pelo talentoso Enthony Vieira exclusivamente para este blog)


11 de setembro de 2011

A Giovana foi dispensada do colégio dela. Ela ficou triste e feliz ao mesmo tempo. Ela queria a vaga, mas tava meio incomodada com os alunos dela. Acho que ela não queria mais dar aula não. Ela vai pegar o dinheiro que ela ganha do governo e guardar. Guardar ainda mais né? Ela não gasta com nada. Não paga nenhuma conta e não tem compromisso com nada. Tudo ela come aqui. Ela nem sai muito por aí. Assim é fácil. O negócio dela ultimamente é só ficar em casa. Igual a mim, mas sem fazer o que não lhe apeteça. A vida é assim mesmo.

O Daniel voltou todo acabado do seu aniversário. Parece até que o bonde dele passou por cima dele. Tem um tal de Ryan que não vale nada. Tem um jeito de falar de malandro que me deu até nojo. Quero é distância de gente assim da minha vida. Nem num jantar com gente que ele nem conhece ele sabe se comportar. É uma vergonha total. Imagino como deve ser a família dele. Na verdade não quero nem imaginar. Não estou interessada em perder tempo com isso hoje não.

O Vídeo Show era melhor na época do Falabella. Agora o povo fica falando bobagem. Diminuíram até o falha nossa, que era a melhor parte do programa. É como se os atores estivessem errando menos. Eles acham que o público é bobo. Se bem que a maioria das pessoas, no fundo, até gosta de ser feito de bobo. A gente fica se enganando e ruminando os nossos problemas e deixando toda a força negativa tomar conta da gente. Às vezes um ipê floresce em nosso coração, mas é exceção. A maior parte do tempo a vida é seca nesta capital.

Anda fazendo um calor horrível. Dizem que vai voltar a chover no sábado, mas vamos ver como vai ser. Previsão do tempo costuma errar igual à previsão que as pessoas fazem de um casamento. A maioria das pessoas diz “vai dar certo”, “as coisas melhoram com os filhos”, “é só uma briga, logo vocês se entendem” e assim por diante.

Falaram muito nesta semana de terrorismo por conta dos dez anos do atentado nos Estados Unidos. Mataram o chefe, mas isso trouxe alguém de volta? Não. Se vingar do passado não traz o tempo de volta. Isso é verdade que ninguém gosta de ver. Não dá nem ânimo de ficar comentando. Tem gente que diz que isso mudou a história. A história sempre foi isso: guerra, morte, terror, vingança, ódio e lamentação. Não vejo nenhuma novidade. É que nem o Cazuza dizia: “eu vejo um museu de grandes novidades”. Uma coisa que mudou foi a arte daqui. Não se faz nada que preste há um bom tempo. Isso podia se repetir mais umas vezes.


(Esta obra é uma ficção escrita por Fernando Fidelix Nunes)

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