(Ilustração feita por Enthony Vieira exclusivamente para este blog)
29 de agosto de 2011.
A
televisão gosta de ficar falando de gente estrangeira. Estão há um mês falando
duma tal de Amy Winehouse, até gravei como se escreve o nome dela. Mais uma que
morreu por conta de droga demais na cabeça. Fico pensando se meu filho não vai
acabar assim também. Acho que ele não está usando só álcool e cigarro. Tenho
convicção, as provas são questão de tempo só. O Reinaldo Gianechini (acho que
escreve assim) acabou de sair do hospital. Perder um homem desse seria um
pecado nas minhas novelas. Falaram que um tal de Steve Jobs anda meio mal de
saúde. Vi uma reportagem que ele é o responsável por uma verdadeira revolução
na vida das pessoas. Falaram dele como se falassem de um Deus, um Buda ou algo
do tipo. Esse povo da tecnologia é assim mesmo tratado igual a um ser
sobrenatural e superior.
Falaram
na tv do Michael Jackson. Parece que ele ia fazer aniversário nesta semana. A
vida passa rápido mesmo. Eu lembro de ver o Michael Jackson jovem sempre
fazendo uma coisa nova. No fim da vida todo mundo maltratava a imagem dele, até
ele mesmo. Não tinha um jornal que falasse um “a” a respeito das qualidades
dele. Era todo tipo de defeito sendo jogado na nossa cara. Aí ele morre. O que
acontece? O povo chora e faz a maior babação pra ele. É tipo o Reginaldo. As
pessoas falam dele hoje com um respeito muito grande, mas em vida não era bem
assim.
Agora
eu sinto pena mesmo é do povo do Rio de Janeiro. Na televisão, não vem uma
notícia boa de lá. Só tem desgraça. É morte de turista, engarrafamento,
arrastão, corrupção no estádio, favela em guerra e tudo de ruim. Tem muita
guerra civil que não é igual ao Rio. Tudo
aos olhos do Cristo Redentor. Bem estranho isso né? O pessoal assalta turista
debaixo das saias de Jesus. Vai entender esse mundo como ele é. Talvez Deus
queira ver como seus mais queridos filhos suportam o peso da vida em meio ao
paraíso tropical. Às vezes eu confesso que gostaria que meus filhos passassem
uns perrengues para ver se eles aguentam. Eles não ralam de verdade, vivem a
vida como se nada de mal fosse lhes acontecer.
Eu
acho que ando reclamando da vida à toa também. Olhei pela janela e vi um
mendigo andando humilhado pela vida. É estranha a relação que a gente
estabelece com um mendigo na vida. A gente vê que ele está numa situação
tenebrosa e não faz nada de concreto para melhorar a vida dele. Somos
hipócritas demais nessa vida. Eu olho essa cena e vou ver televisão. Nesse
momento, sei, lá no fundo, que eu não sou digna dos privilégios que tenho com a
vida.
Sinto-me parte
do vazio do passado. Cada palavra de hoje parece o eco de uma decisão errada lá
de trás. Agora falta saber o que devo fazer para sair disso. O quê?
(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)
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