sexta-feira, 27 de julho de 2018

Diário: 29 de agosto de 2011

(Ilustração feita por Enthony Vieira exclusivamente para este blog)


29 de agosto de 2011.

A televisão gosta de ficar falando de gente estrangeira. Estão há um mês falando duma tal de Amy Winehouse, até gravei como se escreve o nome dela. Mais uma que morreu por conta de droga demais na cabeça. Fico pensando se meu filho não vai acabar assim também. Acho que ele não está usando só álcool e cigarro. Tenho convicção, as provas são questão de tempo só. O Reinaldo Gianechini (acho que escreve assim) acabou de sair do hospital. Perder um homem desse seria um pecado nas minhas novelas. Falaram que um tal de Steve Jobs anda meio mal de saúde. Vi uma reportagem que ele é o responsável por uma verdadeira revolução na vida das pessoas. Falaram dele como se falassem de um Deus, um Buda ou algo do tipo. Esse povo da tecnologia é assim mesmo tratado igual a um ser sobrenatural e superior.

Falaram na tv do Michael Jackson. Parece que ele ia fazer aniversário nesta semana. A vida passa rápido mesmo. Eu lembro de ver o Michael Jackson jovem sempre fazendo uma coisa nova. No fim da vida todo mundo maltratava a imagem dele, até ele mesmo. Não tinha um jornal que falasse um “a” a respeito das qualidades dele. Era todo tipo de defeito sendo jogado na nossa cara. Aí ele morre. O que acontece? O povo chora e faz a maior babação pra ele. É tipo o Reginaldo. As pessoas falam dele hoje com um respeito muito grande, mas em vida não era bem assim.

Agora eu sinto pena mesmo é do povo do Rio de Janeiro. Na televisão, não vem uma notícia boa de lá. Só tem desgraça. É morte de turista, engarrafamento, arrastão, corrupção no estádio, favela em guerra e tudo de ruim. Tem muita guerra civil que não é igual  ao Rio. Tudo aos olhos do Cristo Redentor. Bem estranho isso né? O pessoal assalta turista debaixo das saias de Jesus. Vai entender esse mundo como ele é. Talvez Deus queira ver como seus mais queridos filhos suportam o peso da vida em meio ao paraíso tropical. Às vezes eu confesso que gostaria que meus filhos passassem uns perrengues para ver se eles aguentam. Eles não ralam de verdade, vivem a vida como se nada de mal fosse lhes acontecer.

Eu acho que ando reclamando da vida à toa também. Olhei pela janela e vi um mendigo andando humilhado pela vida. É estranha a relação que a gente estabelece com um mendigo na vida. A gente vê que ele está numa situação tenebrosa e não faz nada de concreto para melhorar a vida dele. Somos hipócritas demais nessa vida. Eu olho essa cena e vou ver televisão. Nesse momento, sei, lá no fundo, que eu não sou digna dos privilégios que tenho com a vida.

Sinto-me parte do vazio do passado. Cada palavra de hoje parece o eco de uma decisão errada lá de trás. Agora falta saber o que devo fazer para sair disso. O quê?


(Esta é uma obra de ficção criada por Fernando Fidelix Nunes)

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