sexta-feira, 6 de julho de 2018

Diário: 16 de agosto de 2011


(Ilustração feita por Enthony Vieira exclusivamente para este blog)


16 de agosto de 2011.

Como eu ando desanimada para escrever. Na verdade, a minha vida é que anda ruim mesmo. Não adianta mentir para o diário. Aqui é o lugar da verdade nua e crua da minha existência que eu escondo de todas as pessoas. No sábado vai ter ainda um almoço em família. O William vai. Dizem que ele anda muito mal, mas que na frente da família nesses eventos ele dá uma segurada. Só dizem que ele fica chateado quando o chamam de William. Ele quer que o chamem de Alana. Na frente dele eu até falo Alana, mas a minha vontade é dizer: “William, você é homem, rapaz!”. Ele não é meu filho, ainda bem. Tem coisa que a gente só pensa a respeito, mas não fala. Não fala, mas pensa.
           
O Henrique saiu e chegou muito tarde de sexta pra sábado. Chegou até com uma caneta de um chaveiro da W3 Norte. Muito estranho isso. O que ele fez que precisou de um chaveiro? Ele respondeu qualquer coisa, mas não conseguiu me convencer. Homem tem essas coisas mesmo estranhas e sem sentido. Não deve ter sido nada demais.

O meu filho teve uma ressaca muito ruim nesse último sábado. Na verdade no domingo. Ele chegou em casa domingo umas 7 horas vomitando até a alma. Como boa mãe que sou, cuidei dele e passei a dar os velhos conselhos de toda mãe: “não bebe tanto, meu filho”, “ficar desse jeito é um perigo” e o clássico “isso que dá andar com essa gente”. Ele não respondia, só vomitava. No fim sei que estou com a razão, mas, como o próprio Fernando Pessoa diz, não fiz isso com destreza. Sem destreza, a razão é apenas um detalhe.

Homem tem esse negócio de achar que se beber vai ficar com mais mulheres. De onde os homens tiraram isso? Tenho certeza que essa gente acha que bebendo muito e, como já ouvi meu filho dizer, “pegando geral”, vão conseguir ser alguma coisa na vida. Isso é ridículo. A vida não se resume a isso. A vida tem muito mais a oferecer. Pena que eu não entendi isso a tempo. A gente sabe das coisas na maioria das vezes, mas não quer enxergar o óbvio. A vida é óbvia para quem sabe enxergar o que está bem na nossa frente. Queria que a razão se misturasse à emoção. Mentira. Queria que a razão virasse coragem.

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