sexta-feira, 13 de julho de 2018

Diário: 21 de agosto de 2011


(Ilustração feita por Enthony Vieira, exclusivamente para este blog)


21 de agosto de 2011.


Ontem teve o almoço na casa dos meus sogros. Estavam lá o Gustavo, filho do Dênis e da Joana. Ele estava contando como era o trabalho na Câmara. Falou que estava no protocolo da Câmara dos Deputados mexendo com o registro de processos que circulam pelo nosso berço da democracia. Ninguém entendeu direito o que ele anda fazendo, mas a gente entendeu que ele está ganhando muito dinheiro e não tem muita dor de cabeça, ou seja, ele se exibiu e mostrou a sua vida quase perfeita. Ele realmente chegou no auge. O que uma pessoa aqui de Brasília pode almejar mais do que um trabalho desses? Ganha cinco dígitos tem umas regalias e parece não trabalhar muito. Além de tudo isso, por onde anda essa pessoa gera um respeito. As pessoas olham com respeito, admiração e inveja. Tudo misturado! Admiram o mérito da pessoa, mas gostam de diminuir por fora. Vai entender esse povo de Brasília.

Tinha muita gente da família lá, mas quem chamou a atenção foi quem estava lá escondido. O William ficou no quarto arrumando motivo para não conversar com ninguém. A minha sogra falou que estava doente, só que a Conceição me falou que é tudo farsa para não falar com os outros. As coisas são assim mesmo. Tem gente que quer fazer o que quer e não aguentar as consequências. Ela me disse que o William acha que olham para ele de um jeito estranho. Estranho é o jeito dele. Querer ser chamado de Alana e ainda se vestir de mulher é uma coisa muito ruim. A família já tentou psicólogo e tudo o mais com esse rapaz, mas não resolveu nada. Tem jeito que não tem jeito.

A Giovana diz que tenta falar com ele sobre as coisas e que a família é muito injusta nesse assunto. Eu nem quis entrar em confusão com minha filha e logo mudei de assunto. O Henrique ficou estranho o evento inteiro. Ele parecia querer saber algo a mais sobre tudo que a Tereza fazia ou pensava. Ele ainda gosta dela. Acho que isso dói mais em mim do que qualquer tapa que ele já me deu. Tenho a certeza que se ela dissesse para ele “vamos fugir e deixar tudo para trás?”, ele ia aceitar e largava tudo. Podia até ir viver em um deserto bem longe de tudo e de todos por ele. Ele toparia pedir transferência para qualquer lugar do Brasil para ir atrás dela. Pena que na minha ocupação não existe muita coisa a se fazer quanto à transferência e eu continuo no meu deserto em Brasília. Falando nisso... eu tive aquele sonho com a Esplanada dos Ministérios de novo. O que será que um deserto na Esplanada deve querer dizer? Pena que eu não tenho com quem compartilhar isso.

Acho que ando precisando de umas doses de literatura. Umas comprinhas também não iam me fazer muito mal. Acho que ando precisando renovar as coisas, mas o Henrique nunca ia me dar o dinheiro que preciso para isso. Talvez eu ande precisando ler algo além do Fernando Pessoa. Quem sabe minha filha pode ser útil nisso ao menos uma vez na vida. Pelo menos ela pode fazer algo, já o Daniel não dá conta de nada.


(Escrito, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes)

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