sexta-feira, 20 de julho de 2018

Diário: 23 de agosto de 2011




(Ilustração feita por Enthony Vieira exclusivamente para este blog)


23 de agosto de 2011.

Hoje consegui terminar as coisas de casa mais cedo. O almoço foi requentar uma sopa de carne de ontem. Daí foi só lavar e “aproveitar” o resto do dia. Peguei o finalzinho do Vídeo Show e fui ficando na TV mesmo. Passou pela enésima vez Lago Azul na Sessão da Tarde. Impressionante que eu já vi esse filme umas 5 vezes, mas nunca lembro do nome de nenhum personagem. Vi hoje mesmo e não lembro.

O filme foi só pano de fundo para eu pensar na minha vida. Acho que as pessoas não assistem reprises por apreciar um filme. Não. As pessoas assistem para conseguirem retomar uma espécie de tempo perdido do momento em que viram o filme pela primeira vez. É bom para esquecer as dores do presente. É uma fuga que eu me dou por 2 horas, como se eu dissesse “não sou obrigada a aguentar essa droga de vida”.

A Giovana falou comigo uma coisa que me surpreendeu. O William está escrevendo poemas. Ela ficou de me mostrar algo bastante interessante. Minha filha tem um gosto esquisito. Ela fica falando coisas muito estranhas com o argentino. Ela fica nessa de namoro de longe. Por que uma pessoa decide namorar alguém com quem ficou apenas algumas semanas? Será que a carência desse povo é tão grande assim? Vai entender como as coisas andam na cabeça desse povo.

Eu realmente tenho ficado muito dispersa. Reli aqui o meu diário e vi que nem comentei sobre o dia dos pais. Mas também né... pra que eu ia falar do óbvio? Fiz uma Paella especial aqui em casa. Afinal, era dia para eu cozinhar “um pouco”. Meus filhos deram presentes e vimos um filme qualquer depois. Até quando eu vou aguentar o óbvio e o inexpressivo? Isso eu não sei. O Henrique me abraça, mas eu continuo me sentindo sozinha no deserto da minha vida.

O Daniel continua se perdendo. Andou faltando umas aulas na faculdade para sair com os amigos. Ele arruma qualquer motivo para sair com os amigos e não fazer suas atividades. Esses dias ele quase faltou no estágio por conta de ressaca. Meu filho é uma vergonha. Queria ter o poder de voltar no tempo e criá-lo de um jeito diferente. Só que ninguém volta no tempo, não há como voltar atrás nas nossas decisões. Como se fosse possível voltar para frente. Queria ser tão boa para ver os erros da minha vida como fui agora para ver um erro da língua. Minha filha diz que esse tipo de coisa não é erro, mas ela também não acha errado namorar o primeiro que aparece e mora em outro país.

(Esta é uma obra de ficção escrita, assim como os demais dias do diário, por Fernando Fidelix Nunes) 

2 comentários:

  1. Uau, achei incrível, consegui me conectar a história como se houvesse furtado o diário e estivesse lendo às escondidas :)

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  2. Olá! Muito obrigado pelo elogio. O diário tem um dia publicado toda sexta. Ainda continuará nos próximos 3 ou 4 anos.

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