sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Diário: 23 de maio de 2011



23 de maio de 2011.

                O Daniel disse que a partir de hoje vai ser um novo homem. Ele tava se achando meio gordo, o que é coisa da cabeça dele, e resolveu fazer dieta e entrar na academia. Ontem ele disse: “esse é o último chocolate que eu como esse ano”. Depois devorou sozinho uma barra. Deu até de acordar cedo hoje, 8 horas já estava de pé para se matricular na academia. Acho que isso é passageiro, mas vamos ver como fica. Acho que também é influência dos amigos que ele arrumou nesses tempos. É o que ele chama de “bonde”. Às vezes deixamos os nossos amigos guiarem nossas escolhas e não fazemos o óbvio necessário para a vida: ser agente completo de nossas decisões.
                A Giovana ficou muito feliz com a aula que deu em Planaltina. Disse que os alunos adoraram e até fizeram algumas perguntas. Queria saber como ela faz pra responder se ela não lê nada. Agora ela está decidida a fazer um resumo da gramática para as aulas dela. Nunca vi minha filha tão animada em preparar uma aula. Ela só costuma ficar no quarto dela navegando pela Internet. Pelo jeito nesta semana vai ser diferente das outras nisso. Agora eu não acho que vá ser uma aula muito boa não. Se bem que esse povo deve estar acostumado com tanta aula ruim, que a minha filha parece uma grande professora para eles.
                Já o Henrique está meio de saco cheio do trabalho. Acho que ele já queria é estar aposentado. Só que com 53 anos ainda falta muito para ele. E eu que não devo me aposentar nunca? Na época de eleição, ele fica reclamando que fica preso o dia inteiro no trabalho. Imagina se ele ficasse como eu fico aqui? A minha vida que é uma prisão de verdade.
                Acho que na minha família cada um pensa só em si mesmo. Ninguém olha para a outra pessoa com carinho de verdade. Olhamos uns para os outros só por olhar, não sabemos o que cada um sente de verdade. Já vi os primos e as tias do Henrique comentando, com um tom de inveja, como a nossa família é unida e bem-sucedida. Mal sabem eles o que se passa aqui dentro da gente. Cada um num canto sem troca de nada de bom. Mas como eu disse, eu me consolo muito com a desgraça dos outros. Depois que eu vi que houve um acidente em que morreu gente no Lago, minha angústia deu uma diminuída. Mas a minha conclusão é a mesma de sempre: eu não criei bem os meus filhos.

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