sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Diário: 26 de maio de 2011




26 de maio de 2011.

                O enterro de ontem foi o mais triste que eu fui na minha vida. Normalmente, quando uma pessoa morre, as pessoas próximas já esperam que aconteça, seja por doença, idade ou algum desastre comum, como um acidente de carro. Agora a morte do Reginaldo foi pesada demais e inesperada para toda a nossa família. Era possível ver na cara de todos o peso da dor da perda.
Os filhos do Reginaldo mal conseguiam ficar de pé. Ambos estavam de óculos escuros, mas foi possível ver as lágrimas escorrendo pelos rostos deles durante todo o velório. O Renato ficou em pé ao lado do túmulo, enquanto o Roger ficou sentado olhando para o chão. A família estava toda lá, até mesmo o filho do Roger apareceu, mas ficou num canto só. Também a situação dele não é coisa fácil de entender e assusta as pessoas mesmo. Esse William precisa entender que a gente é como a gente nasce, não como o que vem na telha. Se decidir por isso, tem que aguentar o peso da vida sobre os ombros e não adianta reclamar.
                Com exceção do William, todas as pessoas presentes se consolaram e conversaram discretamente sobre a vida do Reginaldo. Claro que ninguém se lembrou do fato dele ter batido na falecida mulher umas 5 vezes ou de ter atropelado uma pessoa e ter fugido. Não, isso ficou de lado. Todos só falavam do Reginaldo sendo prestativo nas festas e ajudando a cuidar das crianças nos eventos. Talvez até tenham se lembrado, mas preferiram o silêncio. Depois da morte costuma ser assim mesmo: as pessoas têm suas qualidades exaltadas e seus erros ignorados.
                Era visível na cara de cada um o sentimento de incômodo com a situação. A fé, nesses momentos, é o único afago para as nossas almas. A crença de que Deus acolhe com amor a todos os seus filhos é a melhor saída. A ideia de que nós possamos cair numa escuridão eterna é angustiante. Nesse caso, em meio às curvas da vida cotidiana, o caminho de Deus é mais seguro.
                Aqui em casa o Henrique preferiu ficar sozinho. Até na hora de dormir preferiu dormir de lado sem olhar para mim. Ele faz isso sempre que está abalado com alguma coisa. Como não adianta puxar conversa, eu resolvi ficar quieta na minha e deixar para falar com ele outra hora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário