26 de maio de 2011.
O
enterro de ontem foi o mais triste que eu fui na minha vida. Normalmente,
quando uma pessoa morre, as pessoas próximas já esperam que aconteça, seja por
doença, idade ou algum desastre comum, como um acidente de carro. Agora a morte
do Reginaldo foi pesada demais e inesperada para toda a nossa família. Era
possível ver na cara de todos o peso da dor da perda.
Os filhos do
Reginaldo mal conseguiam ficar de pé. Ambos estavam de óculos escuros, mas foi possível
ver as lágrimas escorrendo pelos rostos deles durante todo o velório. O Renato
ficou em pé ao lado do túmulo, enquanto o Roger ficou sentado olhando para o
chão. A família estava toda lá, até mesmo o filho do Roger apareceu, mas ficou
num canto só. Também a situação dele não é coisa fácil de entender e assusta as
pessoas mesmo. Esse William precisa entender que a gente é como a gente nasce,
não como o que vem na telha. Se decidir por isso, tem que aguentar o peso da
vida sobre os ombros e não adianta reclamar.
Com
exceção do William, todas as pessoas presentes se consolaram e conversaram
discretamente sobre a vida do Reginaldo. Claro que ninguém se lembrou do fato
dele ter batido na falecida mulher umas 5 vezes ou de ter atropelado uma pessoa
e ter fugido. Não, isso ficou de lado. Todos só falavam do Reginaldo sendo
prestativo nas festas e ajudando a cuidar das crianças nos eventos. Talvez até
tenham se lembrado, mas preferiram o silêncio. Depois da morte costuma ser
assim mesmo: as pessoas têm suas qualidades exaltadas e seus erros ignorados.
Era
visível na cara de cada um o sentimento de incômodo com a situação. A fé,
nesses momentos, é o único afago para as nossas almas. A crença de que Deus
acolhe com amor a todos os seus filhos é a melhor saída. A ideia de que nós
possamos cair numa escuridão eterna é angustiante. Nesse caso, em meio às
curvas da vida cotidiana, o caminho de Deus é mais seguro.
Aqui
em casa o Henrique preferiu ficar sozinho. Até na hora de dormir preferiu
dormir de lado sem olhar para mim. Ele faz isso sempre que está abalado com
alguma coisa. Como não adianta puxar conversa, eu resolvi ficar quieta na minha
e deixar para falar com ele outra hora.
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