sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Diário: 11 de janeiro de 2012

(Ilustração feita por Enthony Vieira exclusivamente para este blog)

11 de janeiro de 2012.

No fundo eu até achava que não ia acabar dando em nada a briga do Henrique com a Giovana, mas as coisas pioraram. As coisas aqui em casa começaram a ficar por um fio na vida de cada um por qualquer comentário. O Henrique e a Giovana começaram a discutir sobre o William. Quando a Giovana ouviu o Henrique chamar o William de William em vez de Alana, começou uma confusão. Eles começaram a gritar um com outro como nunca tinha visto. Eu acho que foi uma briga acumulada. É como se os dois estivessem dispostos a se diminuir até a última palavra. Tentei impedir, mas foi em vão. Eles ficaram batendo boca no pior nível possível por quase uma hora.

Eles relembraram os mínimos detalhes de cada um. O Henrique jogou na cara da Giovana que quem sustenta a casa e ela é ele enquanto a sua filha acorda tarde e não estuda direito para concurso por pura preguiça e burrice. A Giovana falou que ele age igual a um tirano sem qualquer consideração pelas pessoas da casa e da família a ponto de até querer ser dono da boc... do corpo dela. Ele rebateu dizendo que queria só respeito na casa dele em vez de sem vergonhice com um gringo que foi o primeiro idiota que ela tinha arrumado na rua. Depois dessa a Giovana se trancou no quarto e o Henrique disse que ia dar uma volta para ver se ia se acalmar.  

Depois de um monte de gritos que todo mundo disposto poderia ouvir, fez-se um silêncio completo aqui em casa. Não aquele silêncio de calmaria, mas aquele silêncio angustiante que cala as mais profundas dores da alma. Até tentei melhorar as coisas, mas não fui capaz de evitar essa confusão. Depois de tudo isso, resolvi que poderia ser bom ler o Fernando Pessoa e eu estava certa. Não sei se já tinha lido o trecho 313 em que ele diz “irrita-me a felicidade de todos esses homens que não sabem que são infelizes. A sua vida humana é cheia de tudo quanto constituiria uma série de angústias para uma sensibilidade verdadeira”. É verdade isso. As pessoas pensam que são felizes, mas na verdade não passam e vegetais infelizes na maioria das vezes.

Espero que essa melancolia vá embora da minha casa. Só que até agora o Henrique não voltou e a Giovana não saiu do quarto dela e eu aqui sozinha em casa. Assim fica difícil ficar bem.


(Esta é uma obra de ficção feita por Fernando Fidelix Nunes)

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