sexta-feira, 9 de março de 2018

Diário: 5 de junho de 2011




5 de junho de 2011.


                O almoço de hoje foi um fato raro. A família inteira estava reunida na casa espaçosa do seu Agenor e da minha “querida” sogra, dona Aurora. Os primos do Henrique estavam todos lá: Joana e Anderson, filhos da falecida Antônia e do falecido Reinaldo, tio do Henrique; Renato e Roger, filhos do Reginaldo e da falecida dona Maria – era uma senhorinha adorável.
                O Gustavo, filho do Dênis e da Joana, está muito bem. Fiquei sabendo que acabou de ser nomeado na Câmara dos Deputados para o cargo de técnico administrativo. Ninguém falou, mas ele vai ganhar grana o suficiente para o resto da vida. Na verdade, nem precisava falar nada disso. Ele contou que passou dois anos estudando de manhã e de tarde, cursinho pela manhã e à tarde revisava o conteúdo e fazia exercícios. Ele é um rapaz bem instruído e organizado, o que é a base dessa conquista dele mesmo. Queria que o Daniel também fosse assim, mas, se continuar nessa situação, ele não consegue emprego de nada que dê dinheiro de verdade. Vai viver encostado dando trabalho aqui em casa.
                Já o André, filho do Anderson e da Lúcia, virou um playboy da pior espécie. Todo fortinho e cheio de si, ele fala alto chamando a atenção e bebendo muito. O cara tem 32 anos e nunca trabalhou nem 30 horas numa semana na vida. Só fez estágio. Fez uma faculdade qualquer e fica mamando na teta dos pais até hoje. O engraçado é que os pais sempre foram bem certinhos e acabaram criando um vagabundo. A vida tem dessas coisas: às vezes sai uma jaca podre de um pé de caju.
                Agora o pior de todos foi o William, filho do Roger com a Ana. Ela tinha um problema que a impedia de ter filhos. O único caminho então é adotar, eles pensaram. Só que o moleque é uma bomba. Adotaram quando tinha 5 anos. De lá pra cá a vida deles virou um inferno! Na infância o menino só arrumava confusão; na adolescência começou a mexer com droga e com uma turminha da pesada – tiveram até de ir na delegacia buscar o garoto; e agora, na casa dos vinte e tantos anos resolveu virar travesti. Isso já tem um tempo. Uma vergonha completa. Só a dona Aurora e a Giovana falam com ele, que inventou de querer ser chamado de Alana. Onde já se viu um negócio desses? Para mim e para o resto da família ele vai continuar sendo o William mesmo. Já até tentaram tratar o menino, mas nunca deu certo com nenhum psicólogo ou psiquiatra. Não tem medicamento ou terapia que dê jeito.
                O Pedro e a Paula, filhos do Renato e da Tereza, vivem meio brigados, mas na hora de ficar em família nem parece que eles se detestam. A Paula está toda feliz porque vai casar com um americano, um tal de Bryan que veio estudar doutorado na UnB. Não sei o que ele veio fazer aqui. Eu, se fosse ele, ficava por lá mesmo. Agora o Renato e a Tereza que estão vivendo um verdadeiro caos. Dona Aurora me contou que os dois chegaram a passar uma semana separados, mas decidiram reatar. Isso foi um pouco depois do carnaval. É uma relação que mais sobrevive do que vive. O desfecho dessa história me intriga, porque eu sei que o Henrique ainda sente alguma coisa pela Tereza. Se ela der chance a ele, tenho certeza de que ele vai em cima. E eu aqui sofrendo com o destino.
                O seu Agenor não demonstrou, mas eu sei que ele sentiu a morte do Reginaldo. A pessoa, com o tempo, já viu muita coisa ruim e tem de aprender a disfarçar o seu coração em certas convenções sociais.
                Uma parte boa foi rever a Conceição, empregada da minha sogra. É tão bom falar com ela. Aquilo sim que é pessoa eficiente e séria. Nunca vou conseguir fazer a feijoada do mesmo jeito que ela faz, por mais que eu me esforce. Pena que a vida dela é muito complicada, principalmente pela relação que ela tem com a filha. Mas é impressionante que nada disso tira  a força dela de lidar com os problemas da vida. O negócio é seguir em frente e ir vivendo, apesar da dor da ausência continuar no coração.

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