sexta-feira, 2 de março de 2018

Diário: 31 de maio



31 de maio de 2011.

                Final de mês sempre é bom para pensar no que passou. Quando a folha do calendário vira, também terminamos mais uma página nossa. A reflexão sobre a vida é afável nesses momentos. Tanta coisa acontece, mas parece que foi rápido como a força de um sopro. Tudo que aconteceu acaba fazendo parte da vida, mas só o que me preocupa é o meu filho. Acho bom que ele tenha mudado os hábitos para comida e de academia. Agora esse bonde dele não dá. Vai acabar levando o meu garoto para o fundo do poço sem ter corda que o puxe de volta.
                Do mais o meu casamento e minha relação com a minha filha estão na mesma: ruim, mas dando para disfarçar.  Esse disfarce vai ser útil na reunião familiar deste fim de semana. As pessoas nesses momentos gostam de fazer as perguntas mais cruéis e indelicadas de forma dissimulada só para testar se está tudo certo com a gente. As pessoas pensam que família é um negócio unido e cheio de amor. Que nada! As pessoas gostam de parecerem e se sentirem maiores que os demais. É como se dissessem: “Eu dei certo e fui eficaz no meu papel e você não por pura incompetência!”. É difícil fazer parte desse julgamento disfarçado de confraternização. Todos se olham procurando defeitos e fraquezas nas relações de toda ordem.
                A única coisa que me preocupa é que a Tereza vai estar lá. O Henrique sempre fica olhando pra ela de um jeito muito esquisito. No fundo, acho que ele pensa que a vida dele teria sido bem melhor se estivesse com ela e não comigo. Essa coincidência da ex-namorada do meu marido casar logo com alguém da família é uma coisa de cinema. Até parece trama feita por escritor de novela para deixar as coisas suspensas até chegar a hora de fazer um conflito na história para prender o público. Se bem que eu acho que se fosse coisa de novela, até o autor ia achar exagero um negócio desse. Pra piorar, fiquei sabendo que o casamento deles não anda nada bem.
                Enfim, a vida sempre segue com muitas incertezas que eu torço para na realidade serem bem diferentes da minha imaginação. Nessas horas seria bom ser autora da minha própria vida e decidir o rumo dos fatos à minha volta, mas eles não dependem só de mim. Como faz? Esperar para ver no que dá e não ficar sofrendo antes da hora são o melhor a se fazer. Agora, quem disse que eu consigo? O jeito é tentar disfarçar, como eu sempre faço.

***

                É estranho escrever e saber que nunca serei lida por ninguém. Só que tudo tem seu lado bom. Talvez por isso eu consiga desabafar um pouco, já que é difícil dizer isso com a boca aqui em casa. A gente sempre tem vontade de dizer as coisas numa hora, só que elas podem piorar se não forem ditas do jeito certo, o que me faz calar.

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